[ROMANCE] A.M.

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Sexta-feira à noite, enquanto pessoas normais aproveitavam para se embebedar em alguma boate qualquer, eu deitava em cima do telhado da minha casa e observava as estrelas.

Era sexta. Como sempre, eu estava no meu telhado tentando contar quantas estrelas tinha no céu naquela noite. Era inútil. Eu sabia disso, mas era um inútil legal. Não como tomar bebidas alcoólicas até vomitar ou ter uma overdose. Era só inútil.

Perdida em pensamentos, entrei no meu mundinho cinza e egocêntrico. Contudo, uma movimentação lá embaixo me chamou atenção. Era Noah, meu vizinho, na varanda do seu quarto. Ele estava debruçado sobre a grade de ferro, que lhe chegava à cintura, olhando para cima parecendo se perguntar o que diabos eu estava fazendo no telhado.

- Eu sempre fico aqui em cima nas sextas - expliquei. Ele endireitou sua postura. Sua expressão era surpresa, como se eu soubesse o que estava pensando, no entanto, eu apenas lia suas expressões. Elas diziam tudo.

- E não eu não leio mentes - um sorriso brincalhão cresceu em meus lábios finos e ressecados pela brisa noturna fria que soprava.

- Então como sabe que eu estava pensando isso?- questionou, inclinando levemente a cabeça para frente, como se me desafiasse a dar uma resposta convincente. Uma das sobrancelhas arqueadas, em um gesto que pura curiosidade. Sua voz rouca soou pelos meus ouvidos como uma melodia.

Eu tinha uma quedinha por Noah desde a quinta série, quando ele se mudou para casa ao lado, mas eu era muito tímida para me aproximar, logo nunca fomos muito íntimos, contudo, tínhamos uma boa convivência.

- Intuição - dou de ombros, voltando a olhar o céu. Depois de um ou dois minutos, ele voltou a falar.

- Posso ficar com você? - perguntou. O tom em sua voz era hesitante, como se temesse pela resposta.

- O quê? - me sentei na beira do telhado, as mãos apoiadas sobre o material das telhas. É claro que havia escutado perfeitamente sua pergunta, só queria que ele a repetisse.

- Você ouviu- ele retrucou, revirando os olhos levemente.

- Eu sei - dei uma leve risada - Pode vir.

Ele me olhou como se perguntasse: Como?

- Escala a árvore - esclareci, balançando as pernas no ar de modo infantil - No meu quarto tem uma escadinha no canto esquerdo perto da estante de livros que leva até o telhado.

Aproximadamente 2 minutos depois, Noah estava ao meu lado, ofegante com o esforço.

- Não é tão difícil - comentei com tom de deboche.

- Não, - arfou - mas tinha um esquilo na árvore. Ele quase me fez cair.

Soltei uma risada fraca, imaginando a cena de Noah agarrado aos galhos, enquanto o pequeno animal lhe arranhava o rosto, cravando suas pequenas garras na pele do garoto.

- Sempre vem aqui? - ele perguntou tirando-me dos devaneios da luta entre ele e o esquilo.

- Desde pequena.

- Como nunca reparei em uma garota no telhado da casa ao lado. - resmungou para si mesmo

- Talvez porque as sextas você sai com seus amigos para alguma festa qualquer, volta completamente bêbado acompanhado de uma garota ou nem volta. - respondi a esmo. O olhar perdido no horizonte.

- Você fica me observando - afirmou em tom convencido. Senti seus olhos verdes acinzentados queimando em minha pele.

- Não - eu disse, hesitante.

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