[3] - Engarrafados

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"Adoro quando as nuvens cobrem o céu

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"Adoro quando as nuvens cobrem o céu. Parece uma tela em branco. Sinto como se pudéssemos escrever nossas histórias no universo."

ERA UM DAQUELES DIAS CINZENTOS, quando o gosto levemente amargo de amor antigo atinge o céu da boca. A memória daquelas palavras deslizando da boca de Enzo como um sussurro manhoso em sua orelha.

O estômago vazio de Giulia pareceu dar uma cambalhota.

Ela havia seguido em frente. Tinha achado forças para construir sua jangada e velejar para fora do rio de lágrimas. Aprendera a amar-se em primeiro lugar. Ainda assim, não podia fingir que não sentia falta de Enzo de vez em quando. Lembrava-se dele quando fechava os olhos em meio a uma cafeteria de manhã e se deixava ser inundada pelo tilintar das xícaras e das pequenas conversas. Sentia o coração apequenar-se em seu peito quando ouvia a voz de Dean Lewis no rádio e revivia a forma como a história deles havia terminado. Sorria saudosa das pequenas coisas em sua vida que acabaram impregnadas com a presença dele.

Giulia sacudiu a cabeça em uma tentativa falha de se livrar daqueles pensamentos. Não podia deixar que as memórias se tornassem a sua morte. Ela estava feliz por todos os momentos que tiveram e acreditava que eles eram tudo o que ela precisara. Mas não necessitava mais.

Desprendendo-se do céu em tela vazia, o olhar dela vagou pelas paredes pintadas em azul pastel com um leve franzir de cenho e as mãos cobriram as pálpebras que escondiam a imensidão dos olhos avelã. Os últimos acontecimentos da noite passada reviravam a sua mente ainda sonolenta. Flashes do jantar de sábado à noite, da risada dos pais, da torta de amora, da tela do notebook inundada pelo orçamento da Amare & Gelato, da mensagem de Carter tarde da noite avisando que havia desembarcado.

O estômago vazio de Giulia pareceu dar uma cambalhota, agitando-se em um misto de animação e melancolia.

Havia esperado ansiosamente até esse dia chagasse. Finalmente eles poderiam se encontrar. Ela mal pôde conter a surpresa quando Carter lhe mandara uma mensagem no meio da noite duas semanas atrás. Amy e seu pai haviam comprado uma passagem para Verona como presente de aniversário.

Giulia tateou o criado mudo à procura do celular. O visor lhe indicou que eram 08h30. Eles iriam se encontrar às 9 horas. Ela então espreguiçou, tentando achar conforto no abraço das cobertas por mais alguns instantes sem sucesso. Os fios dourados do seu cabelo brincando de ser auréola ao redor do rosto ensonado.

Com um bocejo, Giulia escorregou para fora da cama e caminhou até o sofá da casa dos pais. Os pedaços restantes da torta de amora sobre o colo, passando preguiçosamente os canais a procura de algum programa de seu interesse.

Ela parou em um desenho aleatório. Sentia-se novamente como a criança que se salteava pelos os cantos da casa em uma fantasia de pirata extasiada em antecipação ao Halloween. Sua mãe Lia surgiu minutos depois e deslizou para o lugar ao lado de Giulia. Ela tinha um pano pousado sobre os ombros e o cheiro suave de detergente ainda impregnado nas mãos.

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