A ESCOLHA
Mesmo sem merecer, ganhei uma nova chance, uma segunda chance de prosseguir meu caminho para onde me foi prometido. Devido às minhas dúvidas, serei castigado a trilhar uma estrada de espinhos, assim como trilhei uma de pedras.
Inicio meus passos árduos sem dar importância para a dor. Sinto as pontas perfurarem meus pés como agulhas. Continuo a andar e, dessa vez, não irei parar, não irei olhar para trás, não irei ter dúvidas...
Olho para mais além do horizonte à minha frente, onde a estrada de espinhos parece não ter fim, e não faz uma curva sequer. Será que irei conseguir chegar até o fim? Faço-me essa mesma pergunta a cada centena de passos banhados a sangue que dou. As pontas finas e dolorosas entram e saem da sola de meus pés, sem uma gota de misericórdia sequer. Não sei ao certo há quanto tempo estou andando, pois cada passo parece durar uma eternidade.
Questiono-me se existe algo além do fim dessa estrada, algo que vale a pena sentir dores para alcançar. Pela primeira vez, que eu me lembre, tento recordar de como vim chegar aqui e por que ainda insisto nessa caminhada. É decepcionante saber que nem mesmo eu posso responder tais questionamentos. Procuro respostas em um mar de incertezas e só encontro mais perguntas.
Lembro que, no início de minha jornada sobre essa estrada de espinhos, caminhei com passos largos e cabeça erguida. Agora, depois de tanto caminhar e não chegar a lugar algum eu ando em passos curtos e cabeça baixa. E, quanto ao meu destino, parece ser meio duvidoso.
Sinto falta da presença de certo homem que, certas vezes, me surgia na beira da estrada e me reconfortava com palavras sábias. Não o vejo mais. Questiono-me se ele realmente existiu, ou se fora apenas imaginação da minha cabeça.
A estrada nunca fizera uma curva sequer, sempre surge em linha reta. Olho para trás, e vejo a outra metade infinita que já percorri, e fico indignado. Que tal desistir? Digo a mim mesmo. Mas logo me livro de tais pensamentos e redireciono-me para frente. Ao me virar, pela primeira vez em toda minha jornada, vejo a estrada se dividir em duas. Uma continua com os espinhos, sem curvas. A outra, daqui, não consigo enxergar direito do que é feita, mas não é de pedras e nem de espinhos, e vejo curvas rumo ao horizonte acinzentado. Há uma placa entre elas, e nela, se encontra essas palavras:
"Ambas as estradas levam ao seu destino"
Tais palavras parecem terem sido escritas com tanta firmeza que, finalmente, creio que chegarei a algum lugar. Olho com incerteza, uma última vez, para os dois caminhos. Devo seguir o caminho de espinhos, onde não há curvas e o céu ainda é branco e azul? Ou devo seguir o caminho desconhecido, porém indolor aos meus pés, onde o céu é cinza? A placa à minha frente alega com tanta certeza que ambas me levam ao meu destino, então, nada mais sábio escolher o caminho menos árduo, e que talvez eu encontre meu destino depois da curva.
Agora, sem mais hesitar, retiro meus pés das impiedosas pontas de espinhos e sinto a superfície macia da minha nova estrada.E, ao me colocar por inteiro sobre ela, só então, percebo do que ela é feita.
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No Meio do Caminho
Paranormal"A vida é igual um labirinto, fácil de se perder" Um homem cujo passado é pouco lembrado se encontra perdido, caminhando em uma estrada estranha e confusa, a estrada tênue que se encontra entre a vida eterna e o sofrimento eterno, onde seu destin...