No Meio do Caminho

Capítulo VII

A ÚLTIMA CHANCE

   Quando penso estar tudo perdido, quando penso ter sido derrotado, eis que surge um homem em minha frente que me estende a mão e me levanta do chão. Mesmo sem ainda não ser permitido a mim ver o seu rosto, eu o reconheço. É ele! O homem que sempre esteve à minha direita e me aconselhava sobre o meu destino.

   Sem dúvidas, é ele!

   Fico surpreso em vê-lo e pergunto o porquê dele estar em solo imundo como este, já que eu não merecia vê-lo nunca mais. Ele então responde, dizendo que veio me propor uma última chance. A última das últimas, e depois desta não haverá mais.

   Depois de tudo que fiz, ainda mereço uma última chance?

   É algum truque?

   Sim, terei uma última chance, mas para isto terei que pagar um preço. Diz ele que meu destino ainda me aguarda, no mesmo lugar, ao fim daquela estrada que um dia abandonei. Se eu vier a aceitar, serei tirado desse lugar maldito e serei levado ao ponto de partida, no entanto, devido às minhas desobediências, terei que trilhar todo aquele mesmo caminho que trilhei e ele se estenderá sete vezes mais. Afirma ele que, seu eu me manter firme e confiante até o último caminho serei guiado para o caminho da vida novamente, e andarei sobre terra macia e pétalas de rosas rumo ao paraíso.

   Sem mais rodeios e sem me importar se andarei sete vezes mais a distância que andei até aqui, eu aceito.

   Em um breve piscar de olhos estou sobre terra macia, onde belas árvores verdes me cercam nos dois horizontes.

   E então começa a caminhar. Sete vezes mais caminho sobre a estrada de terra macia, que dura uma eternidade.

   Então chego no caminho de pedras lisas, e sete vezes mais caminho sobre elas, que dura uma eternidade. Sempre de peito cheio, pés calejados e cabeça erguida. Não duvido. Não questiono. Não olho para trás, meu destino está à frente.

   Então chego no caminho de espinhos, e sete vezes mais caminho sobre eles, que dura uma eternidade. Dor e sangue nos pés não me fazem desistir, e continuo a andar.

   Então chego no caminho de corpos humanos, e sete vezes mais caminho sobre eles, que dura uma eternidade. A distância que percorri em estradas nem mesmo a terra percorrera ao redor do sol, e continuo a andar.

   Então chego no trecho de brasas, sete vezes mais longa, e sete vezes mais caminho sobre elas, que parece uma eternidade. A carne em meus pés me faz lembrar que não devo desistir. Confiante, continuo a andar.

   Então chego no caminho rochoso, e sete vezes mais caminho sobre ele, que dura uma eternidade.

   E, por fim, caminho sete vezes mais sobre as lamas podres da estrada do inferno, mas, ao invés de me deparar com os portões, deparo-me com um caminho totalmente novo, onde o céu é branco e azul, e jardins de flores me seguem dos dois lados.

   Eis que chego na estrada da vida, onde a vista enche meus olhos com pureza e esplendores.

   Liberto-me do velho costume de olhar uma última vez o caminho que deixei para trás. Desta vez não irei olhar, não quero que tais lugares fiquem em minhas memórias.

   Ponho-me por completo sobre as pétalas macias da minha nova estrada. As lamas imundas em meus pés não são bem-vindas em solo fértil, elas são expulsas e voltam para seu lugar. Vejo meus pés limpos e curados. Olho para frente, onde a estrada de glória segue até desaparecer no horizonte, e não faz uma curva sequer. Com grande alegria inicio meus passos, e sigo andando.