No Meio do Caminho

Capítulo III - Parte 2

   Avanço algumas dezenas de passos em meio àqueles que sofrem mais do que eu, e me vejo andando em círculos, pois não chego a lugar nenhum. Nem mesmo a paisagem mudara.

   Avanço algumas centenas de passos dolorosos. E cá estou ainda caminhando.

   Avanço outras milhares de milhas em passos que não dão em nada, e me pego novamente pensando em desistir. Penso em não mais me questionar, porém luto contra as incertezas que são mais fortes do que eu.

   Por que estou andando, hein? Digo, eu realmente sou obrigado a sentir dor simplesmente para chegar ao fim de uma estrada? A resposta é NÃO. Então por que ainda insisto? O que vou ganhar com isso?

   Enquanto me faço perguntas tolas que não me trarão respostas, me vejo sendo abandonado pelas fileiras de palmeiras de sofrimento e dor que antes me seguiam na beira da estrada. Minha visão para os dois horizontes rochosos ficam limpas novamente. E, quando eu menos esperava, eis que surge algo à minha frente que me traz preocupações.

   Preparo-me para o que posso vir a seguir.

   Mais uma vez a estrada se divide em duas; uma que segue reto, e outra que vira para a esquerda. Em cada lado de cada estrada há duas figuras cobertas por panos grossos e cinzentos.

   Aproximo-me das entradas, meio receoso. O homem à minha direita que vigia a estrada retilínea sai de seu lugar e vem até mim.

   Sinto medo ao vê-lo se aproximar, pois não tenho ideia de quem seja e o que quer comigo, mas mantenho-me no mesmo lugar, paciente.

   Então, ao chegar bem próximo do meu ouvido direito, o primeiro homem começa a falar com grande voz. Voz essa que me soa tão familiar, mas ainda não compreendo sua verdadeira natureza.

   Diz o homem que tenho o Livre Arbítrio em escolher entre ambos os caminhos. Porém, ele aconselha-me a continuar seguindo adiante, no meu caminho atual, mesmo que este me causará dores profundas. Ele diz também que, nem tudo está perdido, e posso conseguir a chance de andar novamente sobre as pétalas macias do caminho da vida, no entanto, devido aos meus erros, minha jornada se estenderá três vezes mais, mas que no final chegarei onde tanto anseio, e serei glorioso.

   Penso em suas palavras... Talvez seja verdade.

   Ele afasta-se sutilmente de mim, e o segundo homem que resguarda o caminho à esquerda aproxima-se. Então, é a sua vez de me propor conselhos sobre quais caminhos devo seguir.

   Diz ele, com voz firme, porém agradável aos ouvidos, que tenho o Livre Arbítrio em escolher meu caminho, no entanto, aconselha-me a não dar ouvidos a tal homem à minha direita que, segundo ele, está aqui para me confundir apontando o caminho errante e mais cruel, pois este sente prazer em me ver sofrer.

   Penso em tais palavras... Talvez seja verdade.

   Continuo a ouvir suas propostas.

   Afirma ele que, este caminho que corta à esquerda é um atalho, "um caminho mais curto" para meu então aguardado destino, onde se eu escolher trilhar sobre ele o meu caminhar será três vezes mais rápido que aquele que segue reto. Diz ele também que apascentará meus pés e curará minhas feridas, e me proporcionará desejos que nunca sonhei em ter.

   Penso em suas palavras que soam tão agradáveis. Talvez seja verdade.

   Ele afasta-se sutilmente de mim e toma seu lugar.

   Estou entre dois caminhos, entre duas propostas distintas. Óbvio que de longe a do homem à esquerda é melhor, porém, senti algo familiar nas palavras sinceras do outro homem, que me lembra tanto uma voz da qual me recordo tão pouco, mas que faz falta.

   Seria ele, agora, à minha frente tal homem?

   Mas, por que prefere não mostrar o rosto?

   O que esconde por baixo dessas mantas?

   E este outro homem de voz determinada? Nunca ouvi sua voz antes, porém suas palavras me convencem.

   Andar por caminho doloroso e três vezes mais longo, ou andar por caminho mais curto onde não será mais castigo aos meus pés?

  Sem dúvidas suas palavras me convencem, e faço minha escolha, confiante.