A Entrevista

409 14 3
                                    


Despertei com o barulho incômodo do despertador, um trim, trim, trim tão irritante quanto uma campainha, de olhos fechados tateei a cômoda até encontrá-lo, apertando em seguida o botão que o desligava. Meus olhos cerrados acostumavam-se aos poucos com a claridade que atravessa as cortinas, não podia enrolar e estender meu sono e com muito custo olhei para o lado. Quase caí da cama!

O relógio-despertador marcava sete e quinze da manhã, sobravam-me quarenta e cinco minutos para me arrumar e dirigir até a escola. Minha primeira entrevista! Meu primeiro emprego como professora! Não podia perder essa oportunidade por nada nesse mundo.

Levantei em um pulo, depressa de mais, meus pés embolaram nas cobertas e foi então que realmente caí da cama. Com a pressa que estava não tive tempo para me importar, tirei meus cabelos vermelhos dos olhos e corri para o banheiro para tomar meu banho. Depois de me arrumar, coloquei um vestido azul marinho, o mais comportado que encontrei, e desci as escadas segurando os sapatos na mão. Talvez ainda restava tempo para tomar meu café da manhã, olhei para o relógio... Quem sabe uma fruta?

Consegui calçar um único sapato quando cheguei na cozinha, escolhi uma maçã na fruteira quando reparei em uma figura de cabelos castanhos escuros tomando um copo de suco de laranja. Ignorei minha invasora por tempo suficiente para lavar a maçã.

– Como entrou aqui? – Perguntei dando as costas para minha melhor amiga enquanto enxugava as mãos.

– Você ainda deixa as chaves no vaso de plantas da entrada... – Marlene respondeu sem demonstrar vergonha ou culpa. – Não deveria fazer isso, é evidente e perigoso...

– Huhum... – Era tudo o que podia responder, segurava a maçã com a boca enquanto calçava o outro sapato. Por impulso, olhei para o relógio novamente e não contive meu resmungo... Não chegaria a tempo.

– Se meus palpites servirem para alguma coisa... – Começou Marlene. – Olhar para o relógio só faz você se atrasar mais. – Tirei o cabelo do rosto e levantei a cabeça para encará-la, com uma das mãos, ajeitava os sapatos nos pés.

– Belo conselho... – Agradeci indo até onde ela estava, depositei minha maçã mordida em sua mão desocupada vendo-a fazer uma careta de desagrado, corri para o banheiro e escovei os dentes.

– Só estou sendo sua amiga. – Explicou dando de ombros.

– Não estou reclamando. – Disse após enxaguar a boca.

Quando voltei, ela ainda estava sentada despreocupadamente, empurrando-a para que me seguisse, comecei a busca pela minha bolsa e minha pulseira nova que havia ganhado de presente de minha mãe depois que me mudara para a casa nova. Atrás de mim Marlene suspirava.

– Sua bolsa está ao lado da televisão e sua pulseira está ao lado do telefone. – Falou calmamente.

Apressei-me para pegar minhas coisas, que estavam exatamente onde ela dissera, corri para a porta da frente quando lembrei das chaves, olhei para trás e quase trombei em Lene que erguia as chaves de seu carro na frente do meu rosto.

– Obrigada! – Falei sincera enquanto pegava as chaves.

– O que seria de você sem mim? – Perguntou sorrindo.

– Nada. – Sorri para ela também.

– Estarei aqui quando você voltar! – Gritou enquanto me afastava. – Boa sorte!

Claro que Marlene estaria em casa quando eu voltasse, como se eu não soubesse disso, além do mais eu estava com o carro dela! Saí ao encontro do dia ensolarado e esplendido daquela manhã, uma pena que não pudesse aproveitá-lo, dias assim eram tão raros. Arranquei dirigindo cuidadosamente pelas ruas de Londres. A última parte era mentira, mas caso minha amiga perguntasse era isso o que diria.

The Bet - JilyOnde histórias criam vida. Descubra agora