As indiretas de Potter

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Aquele mês que eu tinha que pensar, passou voando e tão logo Alice Potter estava me cobrando, perguntando se eu ia ou não. Eu respondi que ia pensar. Pois, apesar de querer ir um pouquinho nessa festa, eu tinha de corrigir provas e trabalhos. Mas, como sempre, Marlene tinha suas próprias argumentações sobre o que eu faço ou deixo de fazer. Afinal, damos muitas opiniões na vida uma da outra, que chegava até ser um absurdo.

Eu estava sentada à mesa da cozinha, tentando me controlar para não rir ao ver os trabalhos errados, quando Lene chegou. Aparentemente, madrugara na rua e vinha com um copo de café nas mãos. Ela se sentou defronte a mim e pegou um dos trabalhos que estavam em cima da mesa. Era domingo de manhã.

Eu a olhei e não disse nada. O estado em que minha amiga se encontrava não era muito agradável e parecia que a noite fora boa: ela não parava de sorrir.

– Aparentemente, você se divertiu bastante – comentei, distraída com o meu trabalho.

– E foi, amiga. Pena que você não quis ir.

Não respondi, apenas dei de ombros enquanto dava a nota em um dos trabalhos e depois anotava em meu caderno.

Ficamos em silêncio por um longo tempo. De vez em quando eu a ouvia suspirar, o que me fez parar e olhá-la.

– Quem você conheceu que a deixou assim? – perguntei, curiosa.

– Eu não sei... Quero dizer, sei,mas foi apenas uma conversa. Eu sei que ele não prestava, porém... – Ela balançou a cabeça. – Ele sabia que eu era advogada e queria saber se eu podia fazer um contrato maluco. Não entendi muito bem sobre o que era, mas... – Lene arregalou os olhos, parecendo lembrar-se de algo.

– O que foi? – perguntei, preocupada.

– Pode ser qualquer um, embora... É, tem de ser ele. Se não fosse, por que ele estaria lá? – Lene falava mais para si mesma do que para me responder. Então deixei aquilo de lado. Ela não estava muito... hã... digamos, sóbria.

– Vamos almoçar fora? – ofereci, interrompendo as especulações de Lene.

Ela me olhou, de repente.

– Vou tomar um banho e já volto – respondeu pegando suas coisas e indo para a porta. Eu ri ao ficar surpresa por ela não ter mudas de roupas aqui em casa.

(…)

Na sexta-feira de manhã, assim que eu cheguei na escola, eu vi uma cena que me chocou um pouco. Alice Potter conversava com Florencio Valentin. Depois de muito tempo sendo amiga de Marlene Mackinnon, eu aprendi que, ficar no meu canto, não vai me fazer ficar sabendo de algo. Desde então, eu virei uma fofoqueira contida.

Cheguei mais perto para poder ouvi-los. Eu não aprovava aquilo, mas o espírito de Lene parecia estar comigo.

Assim que eu fiquei mais perto, pude ver que Alice mantinha expressão indecifrável no rosto enquanto Florencio tentava falar.

– Olha – ia dizendo Valentin –, você tinha razão. Eu não posso ficar me martirizando e fazendo meu filho se martirizar também.

Alice assentiu, de braços cruzados.

– Eu tenho de superar isso e... eu acho que você poderia me ajudar – ele disse meio que em interrogativa, afirmativa e negativa juntos, fazendo Alice ficar surpresa.

– Senhor Valentin, o máximo que eu posso fazer é ajudar o seu filho aqui na escola – respondeu Alice.

– Você foi a única que me fez ver o que eu fiz. Bem, se você só quer...

– Não saio com pais de alunos, senhor Valentin – interrompeu-o Alice, o deixando surpreso e ofendido. – Isso é contra o regulamento e minha ética.

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