05. namorados

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Querida Amelia,

Em minha defesa, posso dizer que não faço o tipo ciumento.

Tive um número considerável de namoradas para afirmar, talvez com o orgulho um pouco dilatado, que nunca fiz uma cena num restaurante lotado ou que soquei um cara por estar de olho na minha garota. Para ser honesto, eu gosto quando os homens olham pra mulher que está comigo. Me faz sentir invencível de uma maneira boba. De todos os caras do mundo, a mulher que você está olhando está comigo, camarada. Isso mesmo, amigo. Pode olhar porque ela está comigo.

Não sou ciumento. Gosto de dizer que fico... orgulhoso por ser o escolhido de alguém.

Você também teve um número considerável de namorados. Quando costumávamos passar os finais de semana e feriados fora da faculdade, na casa do lago da sua família, eu via você abraçando e trocando beijos com caras que se pareciam. Caras com nomes comuns, sonhos gigantescos e aquela expressão sabe-tudo que é tão fofa em você, mas terrivelmente irritante neles.

Eu gostaria mesmo de dizer que tive ciúme de você nessa época, mas não foi assim que aconteceu. Você ainda era a irmãzinha do meu melhor amigo. Não uma mulher, ou uma "potencial trepada!" como seu irmão gostava de dizer quando estávamos na faculdade. Você era algo que eu não conseguia entender direito na época.

Então todos nos formamos, e três anos depois você estava com Charles. Foi aí que tudo mudou.

Charles era diferente dos seus outros namorados. Ele era um cirurgião engraçado, com cabelos negros espessos e olhos azuis deslumbrantes naquele rosto quadrado de modelo de cuecas. Ele era como você, na verdade. Era fácil ver a ambição iluminando os olhos e as palavras dele. Charles tinha muitos sonhos, e aparentemente você era um deles.

Não fiquei surpreso quando ele anunciou que vocês dois estavam noivos. Estávamos na casa do lago há alguns meses, todos ao redor da mesa comendo um churrasco, quando Charles segurou sua mão e disse: "Amy e eu temos um anúncio muito importante para fazer". O churrasco virou plástico na minha boca quando ele disse que mal podia esperar para dividir uma vida com você.

Nesse momento, nessa fração minúscula de segundo, percebi que algo estava errado. Todos estavam animados com as preparações, o buffet, seu vestido, perguntando como ele havia proposto, e eu estava... lá. Eu admirava sua felicidade como quem olha para arte contemporânea: sem entender porcaria nenhuma, mas fingindo amar.

A verdade? Eu estava com ciúme dele. Charles segurava sua mão, sorrindo como o homem mais feliz da galáxia, e eu permaneci lá, incapaz de olhar nos seus olhos amendoados e ficar feliz por você. Tudo o que eu queria era chutar o queixo perfeito de Charles e tomar o lugar dele.

Acho que as coisas que fiz na sua festa de casamento são parcialmente culpa dele. Sei que nada justifica as palavras que gritei no microfone, mas estou tentando fazer você entender que eu não quis... não quis te machucar. Que na verdade eu... bem, você sabe. Eu estava com ciúme do seu noivo perfeito, da maneira como ele segurava a sua mão e sorria.

Para minha própria desgraça, descobri que queria ser seu namorado um pouco tarde demais.

Me ligue. Por favor.

Sempre seu idiota,
James.

P.S.: Charles ainda está bravo? Liguei para a casa dos seus pais para me desculpar e a sua mãe deixou escapar que ele cancelou a viagem de lua de mel que vocês fariam para a Itália. Sinto muito por isso, Amelia, porque sei o quanto você gostaria de conhecer a Toscana.

Sempre Seu Idiota, James | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora