Querida Amelia,
Keira foi perfeita. Ela não era apenas linda e engraçada como Scott mencionara, mas também inteligente. Terrivelmente inteligente. O tipo de mulher fascinante que você quer guardar para sempre no seu bolso só para ouvir as opiniões dela sobre todos os assuntos e... enfim.
O início foi meio esquisito — ela terminou há uns dois meses com o namorado — então só nos apresentamos, trocando olhares desconfortáveis e deixando um silêncio esquisito tomar conta da mesa até o garçom chegar com nossos pratos. E com o vinho. É incrível o que um bom prato de massa e uma taça de vinho podem fazer, não é mesmo?
Após a primeira garrafa de vinho estávamos rindo da vida, contando piadas sobre Napoleão e tentando imitar Robespierre durante a Reação Termidoriana, onde um gendarme atirou contra o rosto dele, o que acarretou numa mandíbula quase destruída e numa dor que nunca o abandonou. É. Não foi muito cavalheiresco de nós dois, mas estávamos ligeiramente bêbados e incrivelmente tristes. Acredito que as pessoas possam ser um pouquinho cruéis quando estão bêbadas e tristes.
Mas o que importa é que Keira tocava meu braço, minhas mãos, sorria e me lançava aquelas dicas de flerte que são tão incríveis quando você está disposto a se apaixonar. O jogo, como dizem por aí. Até deixarmos o restaurante, foi uma noite divertida. Leve, dessas que são boas de lembrar no futuro.
Acompanhei-a até em casa com o andar relaxado e compassado. Nós dois ainda ríamos quando chegamos ao prédio dela. Instantes de pausa. "Então, você quer subir?" perguntou Keira, seu belo rosto corado pelo vinho e pela brisa fria da noite. Foi então que eu percebi que ela queria mais do que um encontro.
Desnecessário dizer que esse momento durou todos os segundos de um milênio.
Keira era perfeita em itálico. Era linda, divertida e inteligente. Tinha personalidade, sabia como seduzir com as palavras. Ela sabia tudo sobre História, de China Imperial à Guerra Civil Americana e de volta à Europa Medieval, passando pela Idade Moderna e brincando na Belle Époque. Os doces olhos verdes e os lábios rosados de Keira eram um convite, um fechamento encantador para uma noite encantadora.
Em uma sentença, Keira era perfeita para mim. Em itálico.
Mas eu precisava ser honesto com ela.
Sabe, Amelia, eu nunca fui o tipo de cara que transa com uma mulher enquanto pensa em outra. Se eu tivesse aceitado o convite de Keira, eu procuraria por seus beijos, sua voz, seus olhos, seu perfume em outra pessoa. Eu estaria perdido na pele de Keira, procurando por tatuagens de cavalo-marinho que não pertenceriam ali. Seu nome estaria escrito em meus lábios, Amelia, não o de Keira, e ela não merece isso. Ninguém merece.
Ela entendeu minha recusa. "Ei, podemos pelo menos ser amigos?" perguntou ela meio sem graça, ao que eu sorri e assenti. Ela me desejou sorte com você, e vamos almoçar juntos semana que vem. Parece que não zoamos Robespierre o suficiente nessa noite.
Agora estou em meu apartamento, escrevendo e pensando no que fazer em seguida. Os humanos deveriam ter um interruptor pra se apaixonar e desapaixonar no decorrer de um simples instante, sabe? Bem, quem sabe o próximo Einstein construa um num futuro-não-tão-distante? Estou cruzando os dedos.
Como sempre, me perdoe. Nunca quis envergonhar você na frente da sua família, estragar seu casamento ou gritar na frente de todos o quanto eu amava estar entre as suas pernas. Se eu pudesse voltar no tempo e sussurrar nos seus ouvidos tudo o que gritei no microfone, pode apostar todo o dinheiro do mundo que eu o faria sem pensar duas vezes. Uma pena Marty McFly não estar por perto quando precisamos dele.
Como sempre, me perdoe. Se você me dá licença, vou encher a minha cara e apagar o mais rápido possível.
Sempre seu idiota,
James.
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Sempre Seu Idiota, James | ✓
Short StoryPara a infelicidade de James, ele percebeu que amava Amelia quando ela estava prestes a se casar com outro cara. E agora, após arruinar o casamento da mulher de sua vida por causa de um punhado de palavras gritadas num microfone, James está tentando...