23. post scriptum

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James, seu idiota.

Às vezes me pergunto se você é mesmo um imbecil ou se só finge ser um.

Já faz um mês desde a sua última carta e agora que consigo respirar sem pensar em torcer a porcaria do seu pescoço, decidi escrever uma resposta. Por quê? Bem, um escritor famoso disse que se deve escrever com a finalidade de encontrar respostas para um questionamento, então cá estou eu. Não sei ao certo qual o questionamento, mas estou atrás de uma resposta mesmo assim.

Primeiro de tudo, não devo nenhuma explicação a você. Você sabe o que fez, portanto sabe a razão da minha fúria. O que diabos você estava pensando, James? Você ao menos se lembra do que aconteceu quando você deu o seu showzinho na minha festa de casamento? Não se preocupe. Quero ter o prazer de refrescar sua memória.

Depois de você gritar o quanto amava estar entre as minhas pernas e o quanto amava minha tatuagem, minha avó quase teve um ataque cardíaco, Nicholas quis quebrar o seu nariz e Charles olhou para mim como se eu fosse uma prostituta. Todos ficaram quietos, trocando olhares esquisitos sobre o champanhe porque, oh!, a noiva transou com outro cara.

Graças a Scott, que levou você embora no minuto seguinte, não houve nenhum derramamento de sangue na festa. Quando vocês dois saíram, encarei os convidados como se fosse um pedaço de lixo. Todos os olhos estavam sobre mim, e não da maneira como toda noiva imagina. Obrigada por transformar o dia mais feliz da minha vida numa cena idiota de sitcom, James.

Pelo amor de Deus, você achou que um punhado de cartas resolveria tudo? Pense de novo, seu imbecil...

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Percebi que a outra carta estava ficando um pouquinho amarga, por isso decidi começar de novo. Exatamente hoje, há três meses, você destruiu o meu casamento. Há um mês tentei escrever o trecho que você acabou de ler, mas as coisas não saíram muito bem. Enfim, quero recomeçar, já que você está silencioso há dois meses, porque acredito que depois de tudo o que você fez e escreveu, você mereça meu lado da história. Ou pelo menos algumas explicações.

Primeiro de tudo, não acho que você seja um desperdício de espaço, James. Não há nada errado em ser mediano. Você não precisa ser um CEO endinheirado ou se casar com Angelina Jolie para ser alguém. Enquanto você for uma boa pessoa e amar alguma coisa — por exemplo, História — você nunca vai ser um prato extra na mesa. As pessoas vão gostar de você se você for bom. É assim que tudo funciona.

Enquanto eu lia as suas cartas, percebi que nunca conversamos antes. Havia sempre a implicância entre nós, você me chamando de ciborgue e Nicholas sendo um idiota — nada de novo no front, soldado — mas não me recordo de nenhuma conversa que excedesse os limites do "Me passe o sal", ou a clássica "Você está lendo esse livro de novo?"

Você era só... só James. James, o amigo idiota do meu irmão. James, o cara silencioso que está sempre aqui no Dia de Ação de Graças e no Natal. James, o cara esquisitão que odeia azeitonas. Eu não sabia nada sobre você e, uma vez que todos os amigos de Nicholas são uns idiotas assumidos, por que me importar?

Aliás, sinto muito pela sua família e sua avó. Nunca imaginei que alguém como você pudesse ter uma história dessas. Sabendo disso, é fácil entender porque você estava sempre conosco, porque meus pais te tratavam como se fosse um filho. Fico grata por termos sido sua família durante esse tempo, até Charles chegar e fazer você se sentir como um prato sobrando na mesa, como você escreveu.

Charles. Sei que provavelmente você não se interessa, mas eu o conheci numa quarta-feira de céu nublado. Era hora do rush e nós dois atacamos o mesmo táxi, ambos ansiosos para deixar o trânsito horrível para trás. Uma faísca se acendeu entre a gente, e ele só me deixou com o táxi porque o deixei com meu número. No outro dia ele me ligou, tomamos uns drinks, conversamos e logo engatamos um namoro.

Sempre Seu Idiota, James | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora