13. covarde

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Querida Amelia,

Tudo estava pronto para a cerimônia. As mulheres usavam vestidos impecáveis e a maioria dos homens era o retrato da elegância nos — provavelmente alugados — smokings negros que desfilavam pela capela. Tudo estava pronto para o dia mais feliz da sua vida. Para a sua nova vida com Charles.

Fazia um calor dos infernos na capela. Sua mãe não desgrudava os olhos da porta, e Nicholas era incapaz de desviar a atenção do próprio relógio de pulso, como se o ato pudesse fazer o tempo passar mais rápido. No altar, Charles trocava o peso entre as pernas, passando as mãos pelos cabelos negros, respirando fundo a todo momento.

Todos conversavam em sussurros, admirando a decoração, a capela, o noivo e esperando pela entrada da noiva e do pai. O cheiro das flores, misturado ao perfume doce das velhas senhoras era nauseante, pesado, e tive de fechar meus olhos e me concentrar para não vomitar no chapéu verde da sua tia Celia.

Então, enquanto eu controlava minha ânsia de vômito, os músicos começaram a tocar a marcha nupcial. Todos viraram o pescoço para admirar você, a estrela do dia. E você, Amelia, estava linda.

De primeira, não olhei pra você. Continuei com os olhos presos ao padre, sabendo que todas as atenções estariam com você. Eu ainda estava furioso pelas coisas que você dissera no meu apartamento, então não quis te dar o gosto do meu olhar por pirraça. Mas quando me rendi e olhei, Amelia... quando desisti de lutar essa batalha para um e olhei, me apaixonei por você outra vez.

Seus cabelos castanhos estavam presos num coque, e seu vestido branco, coberto de pequenas pérolas, brilhava como se o próprio Sol caminhasse em direção ao altar. Você era o centro da minha galáxia, e não podia ser diferente. Você estava linda, Amelia, e a única coisa que me deixou triste foi o seu sorriso.

Seu olhar encontrou o meu por um segundo antes de você desviar o rosto para o escolhido. Do altar, Charles estava encantado. Era a cena perfeita. Vê, você não estava pensando em mim. Todas as suas atenções estavam com Charles, o sortudo. Ele sorriu de volta em sua direção, os olhos azuis brilhando quando seu pai, em lágrimas, beijou suas bochechas.

Quando Charles tomou você pela mão, perdi a coragem de dizer que te queria. Na minha cabeça eu tinha essa ideia idiota de esperar pelas famosas palavras do padre e, como num desses filmes românticos que você detesta, parar seu casamento para que pudéssemos fugir para o nosso felizes para sempre.

Bem, o único problema com a minha estratégia era que você não queria fugir comigo.

Mesmo confessando que não tinha certeza sobre se casar com Charles, você estava feliz com ele. Vocês eram — ou são, não sei — o casal perfeito. Com ele você teria viagens, estabilidade e aquela afinidade de ideias entre pessoas que são feitas do mesmo material. O que você teria comigo? O que eu poderia te dar?

Perdido na busca pela resposta, esperei pelas palavras do padre. Quando elas vieram, me calei, esperando por um momento melhor que ficou entalado na minha garganta e que como todo momento, passou. Charles beijou sua testa e estava feito. Debaixo de sorrisos, felicidade e aplausos, você era uma mulher casada.

Saí da capela e, do lado de fora, enquanto os convidados se preparavam para atirar arroz em vocês, Scott sorriu meio sem jeito e disse: "Relaxa. Você perdeu a batalha, não a guerra, Napoleão." Eu franzi os lábios e assenti para meu amigo. "Vamos para a festa, Scott", foi tudo o que eu consegui dizer no estado em que estava. E foi daí que a coisa... desandou.

Eu não podia deixar seu casamento ser a minha Waterloo, Amelia. Eu não podia permitir isso. Não depois de ter você na minha cama, nos meus domínios. Não depois de ouvir você gemer meu nome de novo, de novo e de novo, como se você precisasse de mim.

Sei que pareço um idiota possessivo, mas eu não estava pensando direito na hora. Em algumas horas você embarcaria para Toscana com seu novo marido, e eu ficaria aqui, com nada além de um punhado de sentimentos confusos e mágoas.

Eu sinto muito. De verdade.

Sempre seu idiota,
James.

P.S.: Droga, Amelia. Por que é tão difícil arrancar o Band-Aid e esquecer você?  

Sempre Seu Idiota, James | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora