15. pernas

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Querida Amelia,

Antes de você e Charles chegarem à festa, eu já estava podre de bêbado.

Para ser sincero, não sou um grande fã de álcool. O gosto é muito amargo e a sensação de estar bêbado não me atrai tanto. Scott diz que esta resistência se vale do meu trabalho no pub. Servir pessoas todas as noites, limpar vômitos e ajudar motoristas bêbados a arranjar um táxi pode arrancar a diversão de encher a cara quando o copo está entre seus dedos. É uma boa teoria.

Enfim, quando você e Charles chegaram para abrir a festa com uma valsa sem graça, eu já estava na sexta — ou sétima — dose de vodca, isso sem contar as taças de champanhe. Tenho fragmentos de memória de Scott me pedindo para parar, dos olhos apreensivos do garçom atrás do balcão, de risadas e do cheiro de flores. Assim como da nossa noite, não me lembro de muito.

Mas me lembro que antes da valsa seu tio Terry pegou o microfone e começou um discurso meloso sobre como você e Charles eram almas gêmeas. E foi aí que meu cérebro foi atingido pela ideia mais idiota de todos os tempos. Empurrei Scott e tropecei pela festa.

Naquela manhã você disse que não se lembrava de nada, que eu era um mentiroso, que eu forcei você a transar comigo porque eu queria trepar. Pois bem, Amelia, eu queria ter o prazer de refrescar sua memória. Ainda mais na frente de todo mundo.

Não foi difícil arrancar o microfone das mãos gorduchas de seu tio. Eu estava terrivelmente bêbado naquela noite, mas me recordo da súbita mudança de suas feições quando segurei o microfone, do medo que se desenhava em sua expressão pétrea. O brilho nos seus olhos amendoados foi o suficiente para me fazer sentir invencível.

Todos na festa podiam perceber que você não estava mais relaxada. Charles, ignorando o que se passava entre nós, ria. Ao lado dele, você não esboçava nada, apenas o aviso silencioso de não faça isso, James se repetindo como um disco arranhado. Durante aqueles segundos eu gostei de saber que você estava com medo das minhas palavras, que eu tinha o poder de acabar com o seu casamento se dissesse um bocado de verdades inconvenientes no microfone. Então foi isso o que eu fiz.

No microfone, disse tudo o que eu sentia por você, seu casamento idiota, seu marido imbecil e, é claro, sobre a nossa noite incrível. Não me recordo de tudo o que eu disse, mas certas passagens não me abandonaram tão fácil. Lembro de dizer que você não sabia se queria se casar com Charles, por exemplo. E que o meu lugar favorito do mundo era no meio das suas pernas, com você gemendo meu nome.

Eu sinto muito, de verdade. Mas olhe pelo lado bom. Pelo menos você não teve nenhum discurso... sem graça na festa de casamento, não é?

Sempre seu idiota,
James.

P.S.: Scott me mandou um vídeo que alguém gravou do meu discurso, e foi por isso que decidi escrever todas essas cartas. Não acho que você vá conseguir me perdoar algum dia, mas é um começo. Sei que você não quer me ver, mas me mande um sinal, Amelia. Mesmo se esse sinal for um "Vai se foder", me mande um sinal.

P.S.: Não sei se alguém já te disse isso, mas você tem pernas incríveis. E uma voz muito sexy.

Sempre Seu Idiota, James | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora