21. objetivo

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Querida Amelia,

Eu estou com a pior ressaca de todos os tempos — a segunda pior, na verdade, já que na primeira você estava lá — mas tomei uma decisão importante: vou esquecer você.

Os sons da cidade enchem meu apartamento, os raios de sol iluminam meus lençóis bagunçados, e eu vou te esquecer. Tentei tudo o que pude, mas é hora de desistir. Algumas vezes temos de aceitar que a vida não é como um filme, que nem todo final é um final feliz e que nem todo "Me perdoe" merece um "Tudo bem" como resposta. São necessárias duas pessoas para dançar este tango, e eu estou cansado de dançar sozinho.

Eu tentei, Amelia, mas esta é a última carta que escrevo a você. Não estou pronto para esquecer do som da sua voz, dos seus brilhantes olhos amendoados e da sua tatuagem idiota de cavalo-marinho, mas tudo bem. Aparentemente os humanos têm essa obsessão por escolher as coisas que vão destruí-los no final. Me destrua, então, para que eu possa renascer em alguém novo, alguém melhor.

Todo dia eu pensarei um pouco menos em você, e um dia, antes mesmo que eu possa notar, você será apenas uma memória. Você será apenas uma transa casual, e eu serei uma história engraçada que no futuro você contará à sua filha antes da despedida de solteira dela. E a sua filha contará à sua neta, e eu me tornarei uma anedota da família. Um segredinho sujo das mulheres, um rito de passagem engraçado.

Desejo tudo de bom a você, Amelia. Ainda estou completamente apaixonado por você — em itálico, negrito, sublinhado e tachado — mas não vou te incomodar com essas cartas mal-escritas. Vou esquecer você de um jeito ou de outro. Pode levar um mês, um ano ou um século, mas um dia vamos nos encontrar na rua e meu coração não vai bater mais rápido. Esse será meu objetivo a partir de agora.

Vou me divertir com Scott, Tracy e Keira, e vou esquecer você. Talvez eu esbarre numa garota legal passeando com o cachorro dela, e nós vamos nos apaixonar como Roger e Anita dos 101 Dálmatas. Eu e ela vamos dançar na sala de estar, com nossos cães latindo e pulando ao nosso redor. Vamos nos abraçar, cozinhar um para o outro e cuidar um do outro. Vamos envelhecer juntos, Amelia, e você será apenas uma memória triste que me levou a uma incrível vida nova.

Percebi que escrever essas cartas apenas me deixaram mais triste do que antes. Pensei que estas sentenças me trariam alguma espécie de conforto, mas eu estava errado. Essas cartas idiotas só me trouxeram dor e o lembrete amargo de que nossa breve história — isso chegou a ser uma história? — nunca teve futuro.

É como encher um balde cheio de buracos, entende? A água cai, cai e cai, mas nada acontece. Todas as vezes em que pedi perdão foram inúteis no final das contas, assim como a água escapando do meu balde esburacado.

Mas não consigo terminar esta carta. Existe algo doloroso sobre finais, você não acha? Acabou. Fin, como naqueles filmes europeus onde toda personagem parece um desses hipsters esquisitos de hoje em dia. Como estas palavras tão pequenas podem ser tão absolutas?

Mas chega disso e me deixe dizer, me deixe puxar o Band-Aid: adeus, Amelia. Adeus minha maior derrota, minha Waterloo pessoal. Adeus à mulher que eu tive por apenas uma noite borrada e confusa e que mudou tudo dentro da minha cabeça e do meu coração. Espero que algum dia você e sua família possam me perdoar por todas as merdas que eu fiz.

Pronto, está feito. Fin. Cuide-se, Amelia.

Só mais outro idiota,
James.

P.S.: Sem P.S. dessa vez.

Sempre Seu Idiota, James | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora