10. tentação

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Querida Amelia,

Certa vez alguém disse que a tentação é uma faca que pode cortar o queijo ou a garganta de um homem. Não sei quem disse, provavelmente um desses escritores ingleses entediados do século XIX, mas posso afirmar que após aquela noite, a tentação é uma faca deliciosa de se ter contra o próprio pescoço.

Quando você me pediu para ir embora, não pensei em mais nada. Naquele instante o tempo parou. A música silenciou, os strobos de luz colorida congelaram, ninguém dançava e nada mais importou. Peguei você pela cintura e saímos na mesma hora.

O caminho até meu apartamento não durou muito. Ou talvez tenha durado dias. É difícil dizer. Eu mal conseguia me concentrar ao volante com você me beijando daquele jeito, como se o mundo fosse acabar antes da próxima curva. O tempo perde a referência diante de momentos assim.

Quando chegamos, tropeçamos pela sala, batendo em móveis, livros e tentando chegar ao quarto sem romper aquela trilha de beijos desesperados que iniciamos ainda no elevador. Eu abraçava você como se vivesse um sonho, como se você fosse desaparecer se eu me afastasse demais ou parasse de te beijar.

Então você caiu na minha cama, rindo contra os meus lábios com seu hálito de vodca e morango. Em cima de você, eu parei e engoli em seco ante a visão dos seus olhos bêbados debaixo de mim.

Estávamos — muito — bêbados por causa do álcool, mas eu estava muito mais embriagado pela ideia de ter você nos meus braços, Amelia. Minha cabeça rodava, o certo e o errado lutando em minha mente pela posição de destaque. Você era irmã de Nicholas, você estava noiva e seu casamento seria no dia seguinte. O que diabos estávamos fazendo na minha cama bagunçada?

Olhei pra você e meu coração bateu enlouquecido quando sua expressão mudou. Com o rosto confuso, você disse: "Eu não sei, James". Abobalhado, assenti, pronto para me trancar no banheiro e tomar quantos banhos gelados fossem necessários para esquecer você e aquela noite idiota. Era fácil ver a sombra da dúvida nos seus lindos olhos amendoados, ou talvez fossem as seis cervejas embrulhando meu estômago e me fazendo imaginar coisas. Então, tenso como as cordas de um violino, esperei.

Algo na minha expressão deve ter denunciado meus pensamentos, porque você riu e segurou meu rosto entre as suas mãos quentes. "Não sobre isso, seu idiota. Eu não sei se quero... se quero me casar com ele." Não sei se é possível morrer de felicidade, Amelia, mas ao ouvir suas palavras eu me senti incrivelmente próximo ao Paraíso. "Não se case, então", sussurrei contra seus lábios. "Fica comigo, Amelia." E com dedos trêmulos de ansiedade, euforia e sabe-se lá mais o quê, abri sua camisa botão por botão.

Você estava tão confortável entre os lençóis azul-marinho da minha cama que seria um crime te deixar insatisfeita. Cada gemido que você me dava era uma benção, um pedaço de alegria ao meu coração faminto. Cada beijo era sagrado, uma pequena parte de você que eu poderia carregar comigo. A verdade é que eu nunca me senti assim, sabe? Eu nunca... nunca quis tanto alguém, Amelia.

Se eu fechar os olhos, ainda posso ouvir o som da sua voz sussurrando meu nome, pedindo por mim. Quem precisa de música depois disso? Beethoven e Mozart que fiquem com suas genialidades, seus sustenidos, bemóis e sinfonias grandiosas. Nenhuma melodia chega aos pés da sua, Amelia.

Eu estava tão feliz quando você adormeceu nos meus braços que sorri para o teto, pensando em como seria maravilhoso se pudéssemos repetir aquela noite de novo e de novo, até o final dos séculos. É idiota, eu sei, mas acho que sou um pouco romântico no final das contas.

Sinto muito, mas você consegue ao menos entender o que eu estava sentindo durante o seu casamento? Espero que sim.

Sempre seu idiota,
James.

Sempre Seu Idiota, James | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora