Dois: Gentileza gera gentileza

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— Seu pai solicita sua presença no jantar, Vossa Alteza — uma criada anuncia na porta do meu quarto e se retira. Dou uma última olhada pela grande vidraça, que contém uma vista privilegiada para fora dos muros, antes de sair. No caminho encontro diversos guardas e criados que abrem espaço para que eu passe. Desço as escadarias de mármores, tendo cuidado para não tropeçar em meus próprios pés. Atravesso o corredor principal, que é decorado por diversos quadros e estátuas valiosas. Um guarda faz referência antes de abrir a porta para sala de jantar.

— Desculpem-me pelo pequeno atraso — peço sentando ao lado esquerdo de meu pai na grande mesa, que possui pelo menos quatorze lugares.

— Anabela, querida! — meu pai me cumprimenta.

— Olá, papai. — sorrio timidamente. O relógio, posicionado no fundo da sala, dá nove badaladas, informando que os cozinheiros começariam à nos servir.

— Ansiosa para o baile de amanhã? — ele pergunta enquanto passa o saleiro para mim. Recebo o olhar preocupado de minha mãe, ela sabe minha resposta mas clama silenciosamente para que eu minta.

— Claro — desvio meu olhar e me sirvo. Olho para os diversos talheres postos à mesa. Desde pequena, assim como minhas irmãs, tive aulas de etiquetas. Mas, sinceramente, nunca entendi para que tantos, se não usamos nem a metade. Uma criada serve-me um pouco de suco e acaba por derramar um pouco em mim.

— Alteza, perdoe-me. Juro pela minha vida que não foi proposital. — ela pede desculpas a ponto de chorar.

— Tudo bem, não se preocupe. Pode voltar para a cozinha, isso foi um acidente. — digo tentando acalma-la. Ela assente e se vai.

— Você é tão dócil com essas mulheres — Jade comenta em tom reprovador.

— Elas cuidam de nós e da nossa casa, não irá me matar ser gentil com elas — explico encarando o meu prato.

— Elas são pagas para isso, Anabela — Dulce se intromete na conversa.

— A irmã de vocês está certa, meninas. Se querem se tornar boas rainhas devem ser gentis e educadas com todos, inclusive com os criados. — minha mãe adverte. Um criado pede permissão para interromper o jantar, meu pai a concede e ele lhe entrega uma carta.

— De quem é, meu senhor? — minha mãe, curiosa assim como nós, pergunta ao meu pai que lê a carta atentamente.

— Boas notícias, a família Simmons comparecerá ao baile — anuncia e lança um sorriso cúmplice para minha mãe.

— O rei e a rainha da França virão em nosso baile? — Dulce pergunta, engasgada com a notícia. Meu pai assente.

— Isto é maravilhoso — exclama minha mãe enquanto ergue sua taça de vinho para bater na taça de meu pai.

— Qual a razão para tal celebração? — questiono sem entender e eles se entreolham.

— Querida, está afim de uma caminhada noturna no jardim real? — ele limpa sua boca no pequeno lençol que estava em seu colo e se levanta, onde estende sua mão em minha direção.

— Por que não? — agarro sua mão com um sorriso.

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