Against

Quarenta e cinco: Calças.

O golpe acabou depois da morte do Rei Luís. A Inglaterra finalmente estava a salvo, mas ainda tínhamos grandes desafios pela frente.

Eu precisei ficar quatro dias em cima de uma cama por conta dos meus machucados, mas, assim que me recuperei, tomei a frente das coisas.

A primeira coisa que fiz foi me mudar de volta definitivamente para o palácio. Minha mãe confiou em mim para administrar os assuntos reais. Então, mandei prender temporariamente todos os membros da corte francesa, inclusive Príncipe Benjamin. Quando Dulce tentou falar comigo para fazer uma reclamação e pedido, eu também a fiz ficar presa dentro dos próprios aposentos e pus dois seguranças na sua porta para se certificarem de que ela ficaria lá dentro.

A segunda coisa que fiz foi pedir a ajuda dos empregados e curandeiros para cuidarem de todos os soldados e camponeses que estiveram em guerra pela minha causa. Disponibilizei uma ala do castelo especialmente para que eles fossem acomodados e tratados.

A terceira, e última, coisa que fiz foi convocar a nobreza do meu país para uma reunião de emergência onde discutiríamos a respeito do povo. E para a reunião, eu contei com a ajuda de Henry que entrou na sala do trono ao meu lado, vestindo uma calça marrom e uma blusa folgada branca que tinha seus primeiros botões abertos. Ele não dava a mínima para o que iriam pensar ao seu respeito e eu o admirava em parte por isto.

— Senhores, o que eu quero fazer é muito simples: cuidar do meu povo. Para isso, precisaremos da ajuda dos nossos aliados e, por isso, escrevi para os que nos ajudaram na guerra para que eles mandassem sementes ou um terço de suas produções. E nós o pagaremos com pedaços de terra e ouro. — eu expliquei a tática que havia usado e esperei por uma resposta que veio logo a seguir.

— Alteza, se me permite dizer, a senhora está cometendo um grave erro. Não podemos nos desfazer de terras e de parte de nosso ouro por meros camponeses, afinal estamos em uma crise. — um duque barbudo e gorducho disse enquanto tinha uma perna de alguma ave em uma das mãos.

— Eu não só posso me desfazer, como irei. E o senhor será o primeiro a doar uma de suas terras. — eu sorri ao ver sua expressão horrorizada — ao contrário de vocês, que se esconderam com os rabos entre as pernas em suas casas ou fugiram quando o país mais precisou de ajuda, os camponeses ficaram e lutaram! Esse é o meu jeito de agradecer por seus esforços e pelas vidas que muitos deles perderam na batalha. — eu disse de queixo erguido, convicta do que queria — Além disso, também quero que todos os guardas não machucados estejam nas ruas e na fronteira da vila do sul com os países vizinhos. Não adianta darmos comida ao povo e os saqueadores levarem tudo.

— Aposto que o Rei não faz ideia do que está acontecendo, ou ele não deixaria que sua filha de calças fizesse essas loucuras — escutei um deles sussurrar.

— Os meus pais foram quem me botaram no comando. E foi a filha de calças deles que esteve em uma guerra pelo país e ganhou. — eu comecei a dizer e puxei a besta que estava embaixo da mesa para cima da mesma, assustando todos eles — Quem se achar melhor do que eu para administrar esse país, que tire essa besta das minhas mãos — eu os desafiei e o clima ficou tenso — não? Ninguém? — nenhum deles ousou se mexer — agora que esclarecemos que vocês não são melhores do que eu, simplesmente por terem culhões, podemos seguir com o projeto, certo? — eles assentiram — certo, senhores? — perguntei novamente com a voz mais firme.

— Sim, Alteza — responderam em coro e eu sorri vitoriosa.

— Dispensados — eu disse e eles se retiraram.

— Por Deus, Bela! Até eu fiquei com medo de você — Henry disse ao meu lado e eu gargalhei, deixando a pose autoritária se desmanchar.

— Eles precisam entender que eu não serei rainha por causa da coroa do meu pai, mas sim porque é quem sou. Precisam me respeitar e entender que não são melhores do que eu por ser mulher e eles, homens. — eu o expliquei meu ponto de vista.