Trinta e cinco: Feridas

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Henry carregava no rosto uma expressão fria que me deu calafrios. Ele apontava o arco que carregava em nossa direção.

— DÊ MAIS UM PASSO E EU CORTO O PESCOÇO DELA — o homem lhe avisou e Henry achou que aquilo não passava de um blefe, pois continuou a andar.

Então o homem deslizou a ponta da lâmina por uma pequena região do meu pescoço, que abriu uma ferida superficial, e me fez sangrar.

Henry parou.

— Vamos fazer assim, você larga ela e eu não te mato — Henry sugeriu e o homem riu.

— E por que eu faria isso? — ele questionou.

— Para não terminar como eles — Henry apontou com a cabeça para os três corpos no chão.

— Eram a minha família — o homem informou, irritado.

— Mais um motivo — Henry disse e eu lhe encarei como se estivesse louco.

— Você pensa mesmo que estou brincando, seu desgraçado? Eu vou matar essa vadia — ele puxou a faca enquanto falava e ia acertar com tudo em mim, quando Henry rapidamente disparou uma flecha que acertou o seu ombro.

Antes que ele tivesse tempo para pensar em qualquer coisa, eu joguei minha cabeça para trás, acertando o seu rosto. Quando ele caiu atrás de mim, eu tentei andar para longe dele. Meu corpo inteiro tremia. Henry correu em minha direção e retirou as minhas cordas, eu puxei o pano da minha boca e lhe abracei com força. Chorando em seu ombro.

— Tudo bem, eu estou aqui — ele alisou o meu cabelo.

Eu ouvi o homem resmungar de dor atrás da gente e lembrei do que ele me fez. Eu puxei a faca das mãos do Henry, que me olhou confuso. Virei-me e caminhei na direção dele, sentindo a raiva queimar o meu peito.

— Você pode o segurar para mim? — pergunto ao Henry que assente, mesmo sem entender, e se posiciona ao lado contrário. Segurando seus braços. Me ajoelhei ao lado do homem e abaixei suas calças. — Você vai pagar caro pelo que fez comigo — eu lhe garanti enquanto puxava seu membro e o cortava. Ele gritou com a dor e eu sorri. — Eu espero que você queime no inferno junto aos seus irmãos — eu sussurrei enquanto o observava morrer lentamente pela perda excessiva de sangue.

Eu continuei ao seu lado até depois dele ter parado de respirar. Eu não tinha forças para me levantar ou caminhar. Henry me segurou pelos ombros e me levantou, ele havia entendido o que aconteceu comigo.

— Eu sinto muito que tenha passado por isso — ele sussurrou e eu vi uma lágrima escorrer.

Ele estava se culpando.

— Não foi sua culpa — afirmei e enxuguei suas lágrimas, mas ele segurou minha mão.

— Como não? Fui eu quem te mandei embora. Se você não tivesse ido, nunca teria encontrado eles. — ele disse com raiva de si mesmo.

— Está tudo bem, só me leve para casa — eu pedi baixinho e ele assentiu, tirando sua capa e a passando pelas minhas costas. Ele me guiou e quando chegamos perto de seu cavalo, eu lembrei — Tempestade!

— O quê? — ele franziu a testa.

— A minha égua. Eles acertaram uma flecha nela e foi por isso que eu caí! — eu explico rapidamente e tento a procurar por todos os lados, ele me fez parar.

— Você consegue me dizer de onde caiu, exatamente? — eu varro os olhos pelo local, tentando lembrar.

— Ali — apontei para o topo do morro.

— tudo bem, eu vou te levar para casa e eu volto com remédios para ajudá-la. Pode ser? — ele pergunta com cautela e eu assinto. Ele me põe em cima do cavalo e eu tremo com o seu toque. Henry percebe isso.

— Eu...— tento explicar.

— Eu vou andando — ele sorriu sem graça.

— Obrigada — murmurei, abraçando o meu próprio corpo.

(...)

Quando chegamos, Joana se assustou com meu estado e pediu para que Amélia trouxesse água e panos.

— O que aconteceu? — ela perguntou com os olhos arregalados enquanto eu me sentava em minha cama. Henry olhou para mim com pena e não conseguiu dizer nada, mas não era preciso uma palavra para entender o meu trauma. — Oh, querida, eu sinto muito — ela sussurrou com os olhos marejados. Eu balancei a cabeça e fixei meus olhos em um ponto. Amélia chegou em um instante, com uma bacia de água em mãos e panos em seus ombros.

— Eu vou atrás da Tempestade — ele avisou, antes de sair.

Joana se posicionou em minha frente, sentada em um banco. E a cada toque seu, minha mente me torturava com o que havia acontecido hoje. Eu me sentia suja e devastada por dentro.

— Você é uma menina forte. Vai conseguir passar por isso. — Joana disse enquanto limpava meus machucados.

— É o que eu espero — murmurei, sem forças.

Mas eu sabia o que aconteceria. Seria exatamente como as outras feridas, esse dia doeria em mim até o tempo curar. Contudo, eu sempre lembraria dele quando olhasse para a maldita cicatriz que ficará em mim.

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Desculpem pelo capitulo meio bleh, vou tentar não botar tantas cenas assim e escrever capítulos maiores.

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