Vinte e sete: Atividades Domésticas

947 153 50
                                    

Como planejado, eu dormi na pequena cama de Amélia logo após o jantar.

Acordei no dia seguinte, antes mesmo do sol nascer. Não por minha culpa, mas pela de Henry, que me cutucava na tentativa de me acordar a qualquer custo.

— Céus, dormimos o quê? Duas horas? — pergunto enquanto me sento na cama e estico meus braços, me espreguiçando.

— Cinco — corrige enquanto estende para mim um vestido velho de sua mãe e uma toalha limpa.

— Eu devo estar com olheiras — digo tentando prender meu cabelo embaraçado em um coque.

— Os porcos não vão se importar, eu garanto — assegura, saindo do cômodo. Faço uma careta.

Porcos?

(...)

Depois de tomar uma ducha e trocar de roupa, Henry me deu um pão, assado no dia anterior, e me puxou para fora de casa.

— Fique aqui fora, irei falar com o Sr. Richard — assinto enquanto ele entra na mansão.

Henry demora mais do que o esperado, o que me deixa apreensiva. O vejo saindo da casa com um homem de terno branco ao seu lado. O mesmo é alto, tem cabelos grisalhos e possui um longo bigode. Ele acena com a cabeça para mim que sorrio amigavelmente.

— Ele aceitou depois de fazer um questionário sobre você — diz assim que pisa ao meu lado — para todos os efeitos, você é filha da amiga da minha mãe. Escutou? — concordo — agora, vamos trabalhar! — me afasta da casa.

— O que eu faço? — paramos perto da entrada da fazenda. Especificamente ao lado da horta, onde há um sobrado em que os criados põe seus materiais de trabalho e usam para descansar entre um serviço e outro.

— Sabe cozinhar? — nego — Lavar roupa? — nego — engraxar sapatos? — nego — varrer a casa? — nego — limpar as pratarias? — nego — em que mundo uma mulher não sabe fazer nenhuma tarefa doméstica? — pergunta espantado.

— Em que mundo você acha que só por eu ser mulher devo realizar tarefas domésticas? — retruco, pondo as mãos na cintura — me leve para caçar com você! — sugiro.

— Não, você não tem experiência na floresta — cruzo os braços — não quando se trata de seguir rastros e passar despercebido — ele acrescenta e eu bufo.

— O que devo fazer, então? — ele pensa por um instante.

— Ajude Amélia a carregar a produção da horta para a dispensa da mansão — diz pegando seu arco e flechas juntos a uma faca, que prende na cintura — tente não roubar nada, volto antes do sol se por — ele brinca e se despede com um breve aceno de cabeça.

— Amélia? — chamo a garota que anda a caminho da horta, seus olhos pousam em mim — onde arranjamos cestas? — ela sorri.

(...)

Passei o dia carregando alimentos de um lugar para outro. Meus braços clamam por descanso.

Uma carroça seria útil essas horas.

Carrego a última cesta cheia de amoras para a cozinha da mansão. Soube que o Sr. Richard gosta de comer torta desta fruta.

— Obrigada, menina, queres um pedaço da torta? — uma mulher velha, porém conservada, e negra com colares e brincos oferece. Ela é a cozinheira chefe da casa, Sr. Richard a trouxe do oriente. Ela usa um pano branco na cabeça, que prende o seu cabelo.

— Muito obrigada, Lourdes, mas eu dispenso — observo outra criada jogar uma sacola de legumes e frutas em uma lata enorme — para onde vai aquela comida?

— Para o lixo. Sr. Richard só gosta de alimento de primeira, fica bravo quando percebe algum defeito em sua comida. Não pode ter frutas machucadas ou legumes velhos. — comenta enquanto pica algo verde em uma tábua de madeira.

— Isso é um desperdício! — ela concorda.

— Agora imagine no palácio, quantos alimentos são desperdiçados por refeição? Esse povo rico tem cada frescura! — balança a cabeça negativamente.

Então, de repente, me sinto culpada. Culpada por ter sido tão leiga durante todos esses anos. Quando passei pela vila, eu vi quantas pessoas morrem de fome pelas ruas. Eu quase passei fome! E as pessoas simplesmente jogam a comida no lixo, podendo dar fim a um grande problema.

— Lourdes? — ela me encara — Quem e quando vai para a vila para comprar mercadorias? — ela estranha minha pergunta, mas responde.

— Qualquer pessoa que esteja disponível. Normalmente, esta pessoa é Henry. Ele geralmente vai dois dias por semana, um para comprar e outro para vender alguns produtos — explica o sistema.

— Você pode guardar as sacolas com os alimentos estragados para mim? Tenho uma ideia — ela assente com um sorriso.

*****
Vocês vão perceber ao decorrer da história que Anabela tem uma cabeça avançada para o tempo dela.

AgainstOnde histórias criam vida. Descubra agora