Eu me chamo Manoela tenho 16 anos, cabelos castanhos longos, olhos que não se decidem por verdes claro ou escuro, sou magra tenho 1,69 de altura, seios médios e estou sempre incomodada com o tamanho da minha coxa e bunda que embora seja média também digamos assim, eu sofro pra encontrar uma calça que não fique estranha ou que minha coxa não estrague a rápido demais, estou de mudança com meu pai para a casa que ele e minha boadrasta escolheram, na verdade para uma casa maior que eles compraram em outra cidade já que já morávamos todos juntos na nossa antiga casa que era muito pequena e eu dividia o quarto com meus outros dois irmãos, mas com a chegada do bebê tivemos que nos mudar, se bem que acredito que esse não seja o real motivo da mudança... Meu pai me contou que a minha mãe morreu durante o meu parto e acredito que desde então eu carrego a morte comigo lado a lado como se fosse minha sombra, meu avô materno morreu quando eu tinha 7 anos, minha avó paterna morreu quando eu tinha 9 anos, meu avó paterno morreu quando eu fiz 11 anos exatamente no dia do meu aniversário.
Quando o meu pai achou a mulher da vida dele a Lucia que nesse momento esta grávida do meu outro irmãozinho, eu ganhei um irmão um ano mais velho o Lucas e um da mesma idade que eu o Bernardo que na época tínhamos apenas 2 anos de vida, quando entramos na escola Bernardo arranjou um melhor amigo o Bruno que acabamos namorando por quatro anos, ou melhor a gente namorou desde o dia que batemos o olho um no outro, mas o meu destino e a minha sombra dona morte vieram e mudaram tudo na minha vida, quando numa bela sexta feira a noite a Lucia me levou no hospital pois eu estava passando muito mal por ter comido alguma coisa ruim na escola e meu pai ainda estava no trabalho, Bruno, Bernardo e Lucas saíram de carro com um primo deles que estava de passagem pela nossa querida cidade São José dos Campos e infelizmente eu acabei não sendo a única da família naquela noite dentro daquele mesmo hospital.
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Meu irmão morreu, minha metade da laranja que nem era minha metade apenas nos encaixamos por quatorze anos e alguns meses tinha morrido levando com ele seu melhor amigo e meu namorado, eu descobri por acaso já que a Lucia tinha me deixado sozinha naquela sala de hospital enquanto tomava soro, eu odiava hospitais e ainda odeio, ela tinha sumido e eu resolvi perguntar para as enfermeiras que se recusavam me contar até que uma mal humorada resolveu falar, eu nunca vou esquecer as palavras dela "parece que os filhos da mulher que estava com você nesse sala chegaram de um acidente de carro, parece que morreram todos." A partir daquele dia eu evito tocar nas pessoas e evito deixar que elas me toquem muito, acredito que tudo que eu toco e amo morre. A casa ficou "grande" demais com as lembranças do Bernardo ali dentro e por isso estamos nos mudando, Lucas e o primo dele sobreviveram, e o novo bebe vai se chamar Bernardo em homenagem ao nosso irmão, exatamente hoje estou fazendo 16 anos e hoje faz um mês que os meus B's morreram.
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A casa era totalmente linda toda branca avarandada dentro de um condomínio de alto padrão frente para o mar, um sobrado lindo com todos os quartos na parte superior, meu pai ficou com a suíte máster com um closet gigantesco no final do corredor, ao lado um quarto menor que seria do bebê, logo após um banheiro e outro quarto e do lado outro quarto que eu escolhi pois era o ultimo e tinha uma vista linda do quintal e da rua, Lucas ficou com o quarto ao lado do meu embora ele quisesse morar sozinho sua mãe não tinha deixado e depois do acidente ele desistiu da ideia, ele não teve muitos machucados além do braço quebrado, as coisas do Bernardo foram doadas e então não teríamos nada ali dele, eles não teriam, eu ainda tinha uma blusa de frio dele e outra do Bruno que ambos me emprestaram e eu nunca devolvi, as coisas foram descarregadas do caminhão de mudança e montadas meu pai deu uma caixinha bem gorda para os rapazes e então eu pude me trancar no meu quarto, até aquele momento eu não tinha chorado, era final de tarde e era a hora que nos juntávamos para ver tv na sala, nós três e ninguém ousava nos incomodar, meu peito apertou e eu desabei a chorar, abracei um urso que foi presente dos dois e fiquei ali sofrendo sozinha com a minha dor como sempre.
Depois que parei de chorar resolvi colocar minhas coisas no lugar, cada foto que eu pregava no meu mural era uma lágrima que escorria do meu rosto, Lucia não queria que eu colocasse aquelas fotos lá e a única coisa que consegui responder foi "cada um luta com sua dor de uma forma", meu pai não gostou da forma como eu falei mas também não discutiu comigo e nem com ela depois eu pedi desculpa pela forma como falei e ficou tudo bem, eu não sou uma pessoa difícil de lidar.
Dias depois Lucia já tinha feito minha matricula numa escola particular e Lucas foi ver a faculdade da cidade e disse que eu não precisaria de van já que minha escola seria na rua ao lado da sua faculdade, não sei como seria meus dias na escola sem meu irmão, meu pai já estava instalando a nova filial da empresa no litoral, uma foto de todos juntos que tinha sido tirada no parque estava na sala bem na entrada, era uma foto bem grande e olhar para ela me dava uma nostalgia daquele dia tão grande que eu nem sei explicar, meu peito apertava e eu já tinha me pego chorando na frente daquela foto por várias madrugadas desde que nos mudamos, Lucas até me pegou chorando algumas vezes e mesmo que eu tentasse disfarçar era em vão, ele sabia o quanto eu estava sofrendo mas eu não o deixava me abraçar de forma alguma toda vez que ele se aproximava eu fugia dele e eu sei o quanto isso machucava ele, mas eu não podia perder mais alguém.
Lucas era um cara bonito 17 anos mas iria fazer 18 em alguns meses, olhos verdes iguais aos de Lucia, alto e cabelos pretos, corpo bonito e definido ele não era do tipo que vivia na academia. Meu pai se chama Carlos Manoel e eu sempre perturbei ele por causa desse nome.
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Eu me chamo Manoela
Short StoryVocê passa a vida inteira acreditando no que te contaram, mas e se descobrisse que é tudo mentira? Capa feita pela linda Renata Machado ❤