12.2 - Festa estranha com gente esquisita

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Quando cheguei na casa de Sérgio fui recebido por uma hostess. Revirei os olhos e fiquei imaginando porque alguém precisaria de uma recepcionista para uma festa em sua própria casa. Da primeira vez que estive com Sérgio e com Vivian não percebi que eles eram ricos. Porque essa era a única explicação para uma festa desse nível. Não que eu ligasse para esse tipo de coisa, mas essa situação me fez imaginar que tipo de vida eu teria se soubesse da existência desse pai desde cedo. Provavelmente eu seria bem pior do que já sou e esse pensamento não me agrada em nada.

Disse à moça que procurava por Sérgio e ela pediu que eu entrasse. Assim que entrei, a festa literalmente parou. Fez-se um silêncio instantâneo, uma música brega e natalina tocando de fundo era a única coisa que podia ser ouvida. Vários pares de olhos arregalados e expressões de supresa me encaravam e eu só pensava se seria possível enterrar minha cabeça no chão. Aquela era uma boa hora para ser um avestruz.

Percebendo o desconforto que minha entrada causou, Sérgio caminhou até mim com passos largos abrindo caminho entre várias pessoas que voltavam aos poucos ao que estavam fazendo antes de eu chegar. Quando parou na minha frente, meu pai biológico também estava bem desconfortável.

— Ei, garoto! Você veio - ele disse colocando a mão nas minhas costas. — Não achei que fosse vir.

Ótimo! Fui convidado por educação e só tinha percebido ali, quando o constrangimento já tinha se instalado.

— Tudo bem eu estar aqui? - eu perguntei tentando disfarçar a raiva (de mim mesmo) e a decepção na minha voz. — Porque eu posso ir embora, sem problema.

— Não, não vá! Fico feliz que tenha vindo. Eu queria muito que você viesse.

Sei.

— Assim você conhece a sua família - ele continuou.

A tal da minha "família" não tinha nada de interessante, ou extraordinária. Eram pessoas bem comuns, normais e simples até demais. Ao cumprimentar cada um dos milhares de tios, tias, primos e primas - até de 3° grau - não pude deixar de notar a semelhança física que algumas daquelas pessoas tinham comigo. Eu nunca me achei parecido com a minha mãe, somos até muito diferentes, para falar a verdade, e muito menos com o cara que achava que era meu pai, até então.. O que eu não sei dizer é porque eu nunca desconfiei que eu era adotado, ou coisa parecida.

Finalmente, depois de uns 20 minutos, fui apresentado à ultima pessoa que estava no recinto.

— Deixei a principal para o final - disse Sérgio, sorrindo mais que o habitual. — Daniel, essa é Olívia, sua avó.

Minha avó. Não esperava conhecê-la. Na verdade, até já tinha esquecido o que era ter uma avó. A única avó que eu tinha conhecido - até aquele momento - morreu quando eu era pequeno, mal me lembrava dela. Olívia era baixinha e tinha o semblante daquelas avós de desenhos animados. Ela era toda rechonchuda e tinha uma expressão amigável com um sorriso enorme. Assim que fomos apresentados, ela me envolveu em um abraço apertado e me deu três beijos nas bochechas. Quando ela olhou para mim novamente, seus olhos estavam marejados. E eu, como sempre, não sabia como agir. Sorri sem jeito e fui procurar um lugar para sentar. No meio do caminho, uma mulher bem alta que deveria ter seus 40 e poucos anos me abraçou e cochichou no meu ouvido:

— Não se deixe enganar pela cara de santa. Aquela velha é o demônio!

Somente acenei que sim com a cabeça e continuei andando. Um tempo depois descobri que a tal mulher era esposa de um dos meus tios.

Depois de um tempo sentado em um canto isolado, já conseguia perceber várias coisas sobre aquelas pessoas. Todos eles pareciam ser muito unidos e gostar bastante um do outro, mas algo não se encaixava. Talvez fosse paranoia minha, já que eu vinha de uma família totalmente disfuncional, mas eu podia sentir que havia algo de errado ali, só não sabia dizer o que.

Quase uma hora já tinha se passado e ninguém tinha vindo até mim para conversar. Nem mesmo Sérgio, que vez ou outra me olhava de longe, meneava a cabeça e voltava a se perder na conversa com seus parentes. Não que eu me importava com esse tipo de coisa, mas achei que pelo menos alguma daquelas pessoas estaria curiosa ao meu respeito. Engano meu. Parecia que a curiosidade tinha ficado lá mesmo na porta a hora que eu cheguei e todo mundo parou para me olhar. Talvez eu que fosse desinteressante mesmo. Ou talvez eles estivessem ocupados com conversas melhores. Em todo o caso, decidi me levantar para esticar as pernas. Fui até uma janela enorme de vidro e tirei meu maço de cigarros do bolso. Nesse instante Sérgio me olhou e, surpreso, não conseguiu esconder o desapontamento. A recepcionista colocou uma da mãos em meus ombros e me informou que era proibido fumar lá dentro.

Fui em direção à saída, mas não parei na calçada. Continuei seguindo meu caminho de volta para casa, sozinho como de costume, e com a mesma sensação de sempre: a de que eu sou uma decepção para todo mundo.

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⏰ Última atualização: Jan 04, 2018 ⏰

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