DIÁRIO DE UMA NOVATA» A Sua Experiência

CAPÍTULO 16

12 de Outubro
Querido Diário,
Tinha entrado na escola atrasada de novo. Meus cabelos tinham sido amarrados num elástico, mas alguns fios estavam fora do lugar.
Carregando peso dentro da mochila, tirei o celular do bolso para ver as horas e eram 8:30. Dez minutos de atraso.
Entrei na sala com uma cara de sono e encontrei a sala inteira fazendo os exercícios no quadro. A professora de Matemática parecia estar de tpm e claro, ela descontou tudo em mim.

-Ora, mas por que será que você se atrasou de novo? Olha, eu sou sempre boazinha com você, mas hoje chega! Vou tirar um ponto da sua média!

-NÃO!!-Gritei e a turma inteira me olhou. Inclusive a Lucrécia.

-Desculpa, o que?- a professora perguntou de mau humor.

-Er, quero dizer, não quero, não precisa, er, fazer isso comigo professora.. prometo que da próxima chego pontual.

-Eu espero!-uma sobrancelha erguida.
Me sento na cadeira e reviro os olhos. De repente escuto um barulho de "ei psiu".
Me viro e vejo o Marco estendendo sua mão com um bilhetinho. O pego e abro discretamente. E nele leio o que está escrito.

"NO INTERVALO VOCÊ QUER FICAR COMIGO E MEUS AMIGOS?"

Olho rapidamente para a professora, que devia estar anotando informações no seu caderno, enquanto esperava os alunos terminarem os exercícios.
Pego uma caneta rosa qualquer e respondo.

"PODE SER... ONDE VOCÊS FICAM GERALMENTE?"

Amasso todo o papel para ninguém pensar que estamos trocando bilhetinho e o entrego.
Ansiosa para a resposta,fico o observando escrevendo com sua caneta.
Depois de uns minutos ele finalmente me entrega.

"GERALMENTE NÓS FICAMOS NA QUADRA PARA JOGAR FUTEBOL. MAS SE QUISER PODEMOS FICAR NUM LUGAR SÓ CONVERSANDO."

Encaro o papel. Tento pensar no que responder e com a boca, tiro a tampa da caneta rosa e escrevo.

Mas antes que pudesse escrever uma palavra, escuto a voz da Luh gritando na sala para a professora.

-Desculpa interrompê-la, mas a LAURA está mandando bilhetinho para o Marco!

Ei, espera ai! Foi ele que começou!!
Fiquei sem reação e vi o Marco vermelho que nem pimentão. A professora me olha furiosa.
Ela vem em minha direção e pergunta onde está o bilhetinho. E óbvio, que eu entreguei a ela estendendo a mão.
Ela pega com força e em vez de ler baixo, grita na sala inteira o que estava escrito. Todos começaram a dizer "Hmmm, tão namorando!" ou "Hmm, Marco e Laura, quem diria!".
Corei.

A Lucrécia me olhava com ciúmes...

-Chega,Laura! Você aprontou muito hoje! Desobedeceu as regras de chegar cedo na escola e ainda nem fez os exercícios! Muito decepcionada com sua atitude! Já para a diretoria! Aliás, não só você! Vem o Marco também!

Que tristeza sem fim! Nunca fui para a diretoria por causa de bilhetinho! Na minha escola lá do Brasil, os professores nem percebiam que a gente conversava pelo celular...

Chegando na diretoria, encontro a mesma senhora com a qual cheguei no primeiro dia aqui na escola. Ela estava usando os seus óculos de "moda". Seus olhos pretos meio cinzas me encaravam seriamente. Engoli em seco e resolvi olhar para baixo. O Marco estava estalando os seus dedos e coçando a cabeça. Parecia nervoso.
-E então?-Pergunta a diretora Antonietta.-O que vocês estão fazendo na minha sala?
-A gente veio levar advertência.-falou Marco.

A professora que estava presente na cena, explicou tudo a ela, no que estava escrito no papel,nas minhas atitudes e blá blá blá...
A diretora só a encarava, me olhando ao mesmo tempo. De repente ela pegou uma Folha e começou a escrever.
-Laura Deda Fonseca... quem diria que você chegasse um dia a conhecer a minha advertência! Tome! Quero que seu responsável assine aqui.

Estendi a mão e peguei a advertência.

A aluna Laura Deda Fonseca não respeitou as regras de acordo ao nosso combinado no início de Setembro. Ela deverá chegar sempre às 8:20 da manhã!
Em vez de estudar os exercícios de Matemática, ela resolveu conversar com seu coleguinha através dos bilhetinhos. Peço a colaboração do responsável assinar embaixo da Folha para deixar claro de que está ciente.

Responsável: .

-E eu diretora?-perguntou Marco.

-Você não fez nada moleque! Agora podem voltar pra sala, anda!

-Mas...

-Eu disse anda! Vai!

O Marco ficou mudo e apenas concordou com ela.

(...)

-Como foi a escola hoje de manhã?-minha vó perguntava enquanto me dava a sopa no jantar.

Eu tinha voltado as 5h45 da tarde. E estamos jantando as 7h20.
-Bem...-menti. Ainda nem tinha contado a ela sobre minha advertência. E nem meus pais vão saber, até porque eles voltam tarde do trabalho.
-Ué, você parece triste! Aconteceu alguma coisa?-ela me olhou com cara de pena.
É impressionante como minha vó me conhece bem!
-Nada não vó! Tô meio mal hoje...
-Por que? Tá com febre?-ela pôs sua mão na minha cabeça para sentir a temperatura. No mesmo instante eu tirei a mão dela.
-Não. Tô mal no coração mesmo.
-Hnmm. Você quer falar sobre isso?
-Acho melhor não.
-Você sabe que sempre pode contar comigo,Laura. Até porque eu me preocupo com você! Quero que você cresça saudável, que faça o que você mais deseja!Não desista tão fácil das coisas! Porque um dia nós podemos perdê-las.

Eu a olhei e sorri. Em seguida ela me abraçou forte. Senti um conforto tão grande dentro do abraço dela que pude sentir até as batidas fracas do coração. Um coração puro e que queria ser forte. Isso é a prova de que ela foi muito batalhadora quando era mais jovem.
Me dirigi ao meu quarto, deitei-me na cama e olhei para o teto. Respirei fundo e olhei para o lado. Vi o livro da Luh que tinha me emprestado no dia em que fui dançar na casa dela na minha estante. Eu tinha acabado o livro a muito tempo, mas esqueci de devolvê-la. Até que me veio uma ideia genial. Se eu fosse até a casa dela e dar o livro, talvez ela possa conversar mais comigo sobre o livro, para que assim a gente conseguisse voltar com a nossa amizade.
"Boa, Laura!" Pensei.

Me troquei, escovei os dentes e penteei os meus cabelos. Antes de pegar as chaves para sair de casa, escutei o meu celular tocar.

-Alô?
-Oi.
-Ah,oi Marco.
-Queria me desculpar sobre hoje. Você não devia levar advertência e amanhã mesmo vou conversar com a diretora e reverter essa situação.
-Han... tudo bem Marco. Mas eu também participei das conversas do bilhetinho.
-É, mas eu que comecei.
-Mesmo assim. Não foi só por isso também que levei advertência. Esqueci de fazer os exercícios de Matemática e cheguei atrasada hoje.
-Sei. Mas tudo bem. Se eu não tivesse passado bilhetinho e sim, tivesse conversado com você no intervalo, não aconteceria isso.
-Tudo bem. Desculpado.
-Amanhã falarei para a diretora me mandar advertência também. Até porque eu errei...
-Sim,certo.
-O que você está fazendo agora?
-Preciso devolver um livro.
-Qual?
-Um livro chamado "A Estranha Vida De Amélia".
-Interessante. Nunca ouvi falar.
-É um bom livro.
-E de quem é o livro?
-Ahmm... de uma colega da sala.
-Colega?
-Sim.
-Qual o nome dela?
-Arr... tá ficando tarde, não é mesmo?Preciso ir, a noite vem vindo...
-Mas...

E desliguei. Não tinha muito tempo para falar detalhes sobre a misteriosa "Colega".