CAPÍTULO 32

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29 de Maio
Querido Diário,
Hoje era o último dia de aula antes dos exames. Minha cabeça ficava dolorida só de imaginar de encarar essas provas. Eu precisava me dar bem, não só por eu ter me esforçado e estudado toda a matéria, mas sim porque eu tinha que voltar ao Brasil. Se eu não passasse, seria um desastre total !
Hoje teve aula de vôlei na Educação Física. Aprendemos técnicas novas e nos dividimos em grupos para testar se estávamos bons nisso. O problema que alguns pensavam que era um campeonato, que esperavam que ganhassem um prêmio. E uma dessas pessoas foi a Alice. Ou melhor, Alicobra .

Eu tive receio de que teria uma leve vingança, depois daquele dia que eu dei uma bolada no rosto dela sem querer.
Mas abafei esse pensamento e me foquei.
Eram dois times : amarelo e azul.

A última coisa que eu esperava era que estaria junto com Alice no grupo Amarelo.

—Alice terá que ajudar você com algumas técnicas, já que ela é boa em esporte!—o professor me explicou já iniciando o jogo.

Prendi meus cabelos num elástico e olhei para a Alice.
Ela dava um sorrisinho malicioso, o que dava pra entender de que pretendia fazer algo contra mim. Engoli em seco, me lembrando quando ela soube que eu e o Marco estamos juntos.

Muitas mãos foram correspondidas, menos as minhas, que ficavam que nem doidas tentando pegar a bola. Estranho, todos já sabem como jogar vôlei, apesar de terem aprendido nesse ano na escola. Só não sei, esse esporte não é pra mim!

Lucrécia, que estava no mesmo grupo que eu, tentou tacar a bola para mim, mas Alice sempre conseguiu alcançar e parecia que não queria deixar eu tentar jogar.
Ela fez várias vezes a mesma situação, o que me deixou meio irritada.

-Da próxima vez, deixa eu jogar também...-sorri forçado para não parecer mal educada.

Ela revirou os olhos, e correndo para ganhar mais um ponto para o nosso time, ela pisou no meu pé.
Fiquei um tempo imóvel segurando meu pé, tentando afastar a dor.
Ela riu, disse que foi sem querer e abraçou o grupo que cantava aleluia pois havíamos ganhado a primeira rodada.
Fizemos uma pausa para recuperar o fôlego, e bebemos um pouco d'água.

-Até que enfim!-Lucrécia se sentou ao meu lado, abrindo a tampa da garrafa de água.
-Até que enfim o que?-questionei.
-Até que enfim estamos fazendo um pequeno intervalo. Vôlei não é pra mim.
-Muito menos pra mim! Não percebe? Nunca consegui jogar direito, e o pior é que a chata da Alice pisou no meu pé e nem se preocupou comigo quando fiquei imóvel tentando não sentir dor no meio do jogo.
-É, eu vi. Mas também não é sua culpa, e sim daquela falsa que só Deus sabe explicar quem é aquela ser. Não sei como todas adoram ela.
-Talvez por ser rica e Boa em esporte?-retruquei. Mas logo lembrei que ela tem problemas familiares, e que não é por ter tudo que ela quer, que ela é feliz.
-Talvez, mas eu não sei a resposta para isto.-ela suspirou, parecendo ler meus pensamentos.
O professor nos chamou novamente para iniciarmos a segunda rodada. Respirei fundo, bebi mais um gole d'água e fui ao local onde meu time estavam posicionados.
Alice reuniu todos para fazermos um plano para ganharmos essa rodada também.

—Seguinte, vocês duas ficam na frente, Daniel no meio com vocês dois do lado, eu fico no meio e Laura...—Ela me encara por alguns minutos.

—Eu?
—Laura não precisa fazer nada. Tem que fazer aula particular, não é possível que não sabe tacar a bola direito mesmo te ensinando!
—Ah, pena que você nem me ensinou! Que tal me ajudar?—fiz cara de desafiadora. Pelo amor de Deus, vê se pode uma garota dessas me expulsar do time! Ela não é a professora, nem técnica, nem nada! Tudo bem que ela é atleta e sabe o que está falando, mas não é motivo para fazer isso!
Sinceramente, já perdi a paciência com essa garota! Várias vezes deixei isso pra lá, mas agora tenho que reagir!

—Eu não vou sair do time, Alice! Quem tem que decidir isso não é você!
—E muito menos você! Tô fazendo isso pro seu bem e pro nosso time também! Você é capaz de nos deixar perder!
—Eu não concordo! Não é uma competição, é justamente para aprendermos as novas técnicas!
—Pois bem! Não quero que dessa vez você faça alguma coisa de errado. Posso te ensinar depois, a sós, tudo!

Eu ia começar a retrucar mas um garoto chamado Francesco,que estava no nosso grupo, disse:

—Meninas, não adianta vocês ficarem discutindo agora!—e atrás dele, finalmente apareceu o professor de Educação Física.

Olhamos para ele, que ficava sem entender por tanta demora que estávamos fazendo, e então, na versão dela, Alice explicou o que estava acontecendo.
Ele a escutou, e em seguida disse:
—Alice tem razão! Laura, você vem comigo para uma outra sala. Realmente você está com bastante dificuldades. Enquanto à vocês, podem iniciar a rodada! Minha ajudante ficará por aqui para controlá-los.

Fiquei de boca aberta, sem acreditar no que eu estava ouvindo. Não tive coragem de olhar para o rosto da Alice, por isso, consegui apenas dirigir o olhar à Lucrécia, que era a única que sentia por mim.
Fui olhar ao Marco que estava no outro time, mas ele não estava prestando atenção em nós.

Saí com o professor às pressas e entrei na nova sala.

—Você tem que ter a total confiança na bola. Como se fosse sua amiga.—disse depois de eu treinar bastante com ele.
Afirmei com a cabeça com muito calor.
—Bem. Acho que você melhorou bastante agora. Vai ao banheiro lavar o rosto e depois pode ir embora.

Fui depressa ao banheiro, não via a hora de tudo acabar pra voltar pra casa e descansar.
Lavei meu rosto, troquei de roupa e fui encher a garrafa no bebedouro.
Sem eu ter notado, tinha uma pessoa me observando. Quando fui ver quem era, me surpreendi.

—Oi. Tá se dando bem aí?—ela começou a rir.
Isso mesmo. Era a Alice.

Antes que ela desse um passo para trás, eu coloquei fogo na lenha:
—Alice. Quero conversar com você no final da aula.—disse pensativa. Não tinha tanta certeza de que queria fazer aquilo.
—Comigo?—ela franziu a sobrancelha, tentando se certificar do que estava escutando.
—Sim.—e com um pouco de ironia—Tem mais alguém conversando comigo?

Ela começou a rir sem se controlar. Acabei fazendo o mesmo, mas só parei porque ela se conteu.

—Não vejo a hora.—disse mais séria. E por fim, deu meia volta, e voltou aonde estava.

—É. Também não vejo a hora.—eu disse mais baixo,sozinha no meio do corredor.

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