Capítulo 2

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Ana Letícia

É o som irritante do alarme a me acordar pontualmente as 05hrs30min da manhã. Mesmo exausta e morrendo de vontade de desliga-lo e voltar a dormir me levanto para me preparar para mais um dia de trabalho. Me arrasto de forma lenta até o único banheiro da casa. Tomo um banho rápido para não gastar muito gás e deixar água quente para minha mãe e meu irmão.

Me visto para o trabalho e depois sigo para a cozinha para preparar o nosso café da manhã. Não demora e mamãe se junta a mim para me ajudar. Mas percebo pelo leve tremor em suas mãos que há algo errado.

_ Está tudo bem, mãe? – Pergunto colocando a mão em seu ombro. Ela nega com um movimento de cabeça, mas não me olha nos olhos. – Não minta para mim, mãe. – Peço.

_ Não. – Diz olhando para as mãos. – As coisas não andam nada bem. – Fala começando a chorar.

_ Calma, mãe. – Peço segurando suas mãos. – Suas mãos estão frias. – Comento assustada com seu estado. Nunca a havia visto dessa maneira. – Senta um pouco. – Puxo uma cadeira e a faço sentar. – O que é tão grave que está a deixando desse jeito?

_ O dono do cortiço se reuniu com os moradores ontem. – Começa a dizer entre o choro. – Ele disse que vendeu o cortiço e que temos pouco mais de três meses para sair daqui.

_ Ele não pode fazer isso, mãe.

_ Claro que pode, Ana. – Fala soltando suas mãos das minhas para secar as lágrimas. – O seu Manuel é o dono e pode fazer o que bem entender com o prédio dele. E o que ele quer fazer é vender e nos deixar sem casa.

_ Fica calma, mãe. – Peço tocando seu rosto ainda úmido. – Nós vamos dar um jeito. – Garanto a abraçando.

Nos afastamos quando ouvimos os passos de Gael acompanhados por sua bengala enquanto se aproxima da cozinha. Ele nos cumprimenta já usando o uniforme do colégio. Beijo seu rosto e me apresso em servir o seu café tentando fingir naturalidade.

Tomo apenas uma caneca de café antes de correr para o trabalho. Enquanto caminho em passadas apressadas penso em como vamos resolver essa questão da nossa casa. O fato é que vamos ter que nos mudar mais cedo ou mais tarde, mas a questão é: Para onde nós vamos?

Não temos tanto dinheiro quanto gostaria. Perdi o meu segundo emprego e o que ganho como garçonete na cafeteria não dá para muito. Mamãe também não consegue muito com suas costuras. Gael é um bom menino que está sempre tentando nos convencer a deixa-lo trabalhar, mas não deixamos por medo de que alguém se aproveite de suas limitações e o machuque só porque não enxerga.

Assim que chego à cafeteria o meu chefe me manda limpar os banheiros e a frente da loja. Quando acabo a limpeza sigo para a cozinha para ajudar a lavar a louça suja. Além de também me dividir em servir mesas e anotar pedidos.

Faço uma pausa de 20 minutos para almoçar e aproveito o tempo para pensar na situação da minha família. Se ao menos tivesse concluído o meu curso de administração talvez minha família e eu não estivéssemos passando por esse momento difícil. Meus pensamentos são interrompidos pelos gritos enfurecidos do meu chefe.

Volto para o trabalho e dessa vez não paro até o final do meu expediente às 21hrs. O caminho de volta para casa é completamente deserto e procuro caminhar o mais rápido possível. Quando chego estão todos dormindo. Evitando fazer barulho tomo o meu banho, visto o meu pijama e depois sigo até a cozinha para pegar um copo com leite.

Pretendia ir para o meu quarto, mas paro no meio do caminho quando escuto o barulho de algo caindo na sala e decido ir até ver o que houve. Encontro com Gael a recolher alguns livros os deixando sobre o sofá.

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