Ana Letícia
É o som irritante do alarme a me acordar pontualmente as 05hrs30min da manhã. Mesmo exausta e morrendo de vontade de desliga-lo e voltar a dormir me levanto para me preparar para mais um dia de trabalho. Me arrasto de forma lenta até o único banheiro da casa. Tomo um banho rápido para não gastar muito gás e deixar água quente para minha mãe e meu irmão.
Me visto para o trabalho e depois sigo para a cozinha para preparar o nosso café da manhã. Não demora e mamãe se junta a mim para me ajudar. Mas percebo pelo leve tremor em suas mãos que há algo errado.
_ Está tudo bem, mãe? – Pergunto colocando a mão em seu ombro. Ela nega com um movimento de cabeça, mas não me olha nos olhos. – Não minta para mim, mãe. – Peço.
_ Não. – Diz olhando para as mãos. – As coisas não andam nada bem. – Fala começando a chorar.
_ Calma, mãe. – Peço segurando suas mãos. – Suas mãos estão frias. – Comento assustada com seu estado. Nunca a havia visto dessa maneira. – Senta um pouco. – Puxo uma cadeira e a faço sentar. – O que é tão grave que está a deixando desse jeito?
_ O dono do cortiço se reuniu com os moradores ontem. – Começa a dizer entre o choro. – Ele disse que vendeu o cortiço e que temos pouco mais de três meses para sair daqui.
_ Ele não pode fazer isso, mãe.
_ Claro que pode, Ana. – Fala soltando suas mãos das minhas para secar as lágrimas. – O seu Manuel é o dono e pode fazer o que bem entender com o prédio dele. E o que ele quer fazer é vender e nos deixar sem casa.
_ Fica calma, mãe. – Peço tocando seu rosto ainda úmido. – Nós vamos dar um jeito. – Garanto a abraçando.
Nos afastamos quando ouvimos os passos de Gael acompanhados por sua bengala enquanto se aproxima da cozinha. Ele nos cumprimenta já usando o uniforme do colégio. Beijo seu rosto e me apresso em servir o seu café tentando fingir naturalidade.
Tomo apenas uma caneca de café antes de correr para o trabalho. Enquanto caminho em passadas apressadas penso em como vamos resolver essa questão da nossa casa. O fato é que vamos ter que nos mudar mais cedo ou mais tarde, mas a questão é: Para onde nós vamos?
Não temos tanto dinheiro quanto gostaria. Perdi o meu segundo emprego e o que ganho como garçonete na cafeteria não dá para muito. Mamãe também não consegue muito com suas costuras. Gael é um bom menino que está sempre tentando nos convencer a deixa-lo trabalhar, mas não deixamos por medo de que alguém se aproveite de suas limitações e o machuque só porque não enxerga.
Assim que chego à cafeteria o meu chefe me manda limpar os banheiros e a frente da loja. Quando acabo a limpeza sigo para a cozinha para ajudar a lavar a louça suja. Além de também me dividir em servir mesas e anotar pedidos.
Faço uma pausa de 20 minutos para almoçar e aproveito o tempo para pensar na situação da minha família. Se ao menos tivesse concluído o meu curso de administração talvez minha família e eu não estivéssemos passando por esse momento difícil. Meus pensamentos são interrompidos pelos gritos enfurecidos do meu chefe.
Volto para o trabalho e dessa vez não paro até o final do meu expediente às 21hrs. O caminho de volta para casa é completamente deserto e procuro caminhar o mais rápido possível. Quando chego estão todos dormindo. Evitando fazer barulho tomo o meu banho, visto o meu pijama e depois sigo até a cozinha para pegar um copo com leite.
Pretendia ir para o meu quarto, mas paro no meio do caminho quando escuto o barulho de algo caindo na sala e decido ir até ver o que houve. Encontro com Gael a recolher alguns livros os deixando sobre o sofá.
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Vidas Opostas
RomanceAna Letícia é uma jovem de 23 anos que batalha desde muito nova para ajudar com as despesas da casa depois que seu pai foi embora por não aceitar ter um filho deficiente visual. Mesmo passando por algumas dificuldades ela nunca se deixou abater. Mas...