Capítulo 6

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Sofia

Como se já não bastasse a vergonha de ter sido praticamente arrancada da festa por Heitor agora também estou de castigo. Tudo só porque quis ser como uma adolescente qualquer.

A cada dia que passa tenho mais certeza de que ninguém me entende. Ninguém entende o que eu sinto. Nem mesmo eu consigo entender. Minhas emoções ficaram ainda mais indecifráveis depois do acidente que matou os meus pais.

Quando Heitor me contou primeiro senti tristeza. Depois me neguei a acreditar. Agora sinto raiva. Raiva por eles terem nos abandonado aqui. Tudo o que eu queria era a ter a minha vida de volta. Poder conversar com a minha mãe sobre tudo.

Sei que fugir de casa no meio da noite foi perigoso. Tenho total consciência de que poderia ter acontecido algo comigo. E também sei que não posso pintar o meu irmão como o completo vilão da história. Não deveria ter desejado a sua morte no lugar da dos nossos pais. Mas não pensei direito. Só explodi quando ele ameaçou me mandar para um colégio interno.

Adormeci depois de uma longa crise de choro. Quando acordei na manhã seguinte estava exausta e com um péssimo humor. Me vesti para ir à escola e desci para o café da manhã. Pensei que encontraria com Heitor como em todas as manhãs, mas ele não aparece.

_ Você está legal, Sofia? – Tina pergunta quando nos acomodamos no carro com o motorista ao volante.

_ Por que não estaria? – Respondo de modo áspero.

Ela não tenta conversar mais e seguimos o resto do caminho no mais completo silêncio. Quando chegamos Tina vai se juntar ao seu reduzido grupo de amigos. Júlia vem saber como estou depois de ontem.

_ Nunca estive melhor. – Forço o meu melhor sorriso e agradeço aos céus quando o sinal para o primeiro horário toca.

Não presto a menor atenção nas aulas. Minha cabeça está longe. Na hora do intervalo não como nada. Fico junto as meus colegas, mas não participo das conversas.

A volta para casa foi tão silenciosa quanto a ida até a escola. Quando chegamos Guadalupe nos espera para o almoço como todos os dias. Pensei que agora a tarde Heitor viria para conversarmos e fazermos as pazes como sempre acontece quando brigamos. Mas ele não veio. E o silêncio dele me deixa angustiada.

Depois do almoço me tranco no meu quarto para fazer a minha lição de casa. Quando termino o dever deixo todos os materiais sobre a cama e vou até a cozinha pegar um lanche.

_ Você leva esse lanche para a sua irmã? – Lupe pede assim que termino de comer meu lanche.

_ Levo sim.

_ Ótimo. – Ela me estende uma bandeja com um sanduiche e suco. – Cuidado na escada quando subir.

_ Está preocupada que eu derrube o lanche da caçula ou que eu caia da escada? – Pergunto em tom de brincadeira.

_ Deixa de brincadeira e anda logo menina! – Manda fazendo menção de me atirar um pano de prato.

Saio da cozinha rindo. Mas logo fico séria me concentrando na tarefa de subir com a bandeja sem derrubar nada. Chego até a prender um pouco a respiração quando estou nos últimos degraus. Depois da escada chegar ao quarto de Tina é a parte mais fácil do processo.

A porta está apenas encostada e não encontro problema algum em abri-la. Minha irmã está praticando o seu violino, mas para assim que nota a minha chegada.

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