Heitor
COMA. COMA. COMA.
A palavra se repete de forma gritante em minha cabeça enquanto todo o mundo parece se ruir a minha volta. Não dá para acreditar em como é possível receber a melhor notícia do mundo que é ter um filho com a mulher que eu amo e a depois receber uma rasteira ao saber que ela está em coma e pode nunca acordar.
Lorenzo continua a explicar a situação de Ana, mas não consigo prestar atenção em nada. A dor me dilacera o peito de uma tal maneira que não consigo e nem quero me conter. Me encosto na parede da sala e escorrego pela mesma até chegar no chão com as mãos cobrindo o rosto.
_ Não faz assim, filho. – Diego fala me erguendo num impulso. – Não se entrega desse jeito. – Pede o impossível. – Precisa ficar forte pela Ana Letícia e por esse bebê que está crescendo na barriga dela.
_ Eu não consigo. – Digo olhando para os botões da sua camisa.
_ Claro que consegue. – Ele diz apertando meus ombros.
_ Não sei o que fazer se ela... – Não consigo terminar a frase.
_ Ela vai ficar bem. – Branca sentencia um pouco atrás de Diego. – Minha filha é uma mulher forte e teimosa. Não vai se render assim tão fácil.
_ Tem razão, Branca. – Alícia fala pela primeira vez desde que cheguei. – Ana é uma lutadora. Ela vai sair dessa. Mas precisa do seu apoio, Heitor. – Acrescenta vindo para junto de mim. – Pode fazer isso? Pode ficar ao lado dela a apoiando e dando a força de que precisa para sair dessa?
_ Posso. – Digo respirando fundo e secando o rosto.
_ Ótimo. – Diego fala tocando em meu rosto. – Quero que concentre suas forças na sua namorada e no seu filho. Eu cuido do resto.
_ Obrigado. – Agradeço o abraçando e depois me afasto dele e vou até Lorenzo. – Quero ver a Ana.
_ Vou levar você até o quarto. – Diz o médico.
_ Eu vou junto. – Dona Branca fala parando ao meu lado. – Quero ver a minha filha.
_ Só vocês dois. – Pontua antes de caminhar até as portas duplas e o seguimos prontamente.
Subimos de elevador até o sexto andar onde uma placa enorme com os dizeres UTI nos recepciona assim que as portas de aço se abrem. Sinto calafrios enquanto caminho ao lado da minha sogra até o quarto onde Ana Letícia está dormindo ligada a aparelhos barulhentos que a monitoram.
Tem algumas escoriações pelos braço e rosto. Os lábios estão levemente inchados por conta de um pequeno corte na parte superior direita. Me aproximo da cama e seguro sua mão entre as minhas na esperança de que ela reagisse, mas nada aconteceu.
_ Precisa voltar para nós, Bonita. – Sussurro em seu ouvido. – Não desiste. O nosso filho precisa que você lute. – Seco uma lágrima solitária que escorre por meu rosto e me afasto para que Branca consiga ver a filha.
A assisto acariciar os cabelos da filha com cuidado, beijar sua testa e sussurrar algo em seu ouvido que não consigo escutar.
Ficamos ali ainda mais um tempo antes de sermos expulsos pela enfermeira chefe do lugar. Minha vontade é de fazer um escândalo e não sair daqui até que Ana esteja acordada e bem outra vez, mas me contenho porque sei que fazer isso não vai ajudá-la em nada.
Diego e Alícia ainda estão na sala de espera quando voltamos. Alícia leva Branca para tomar um chá na lanchonete para se acalmar. Caminho até uma poltrona afastada e sento me sentindo exausto.
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Vidas Opostas
RomansaAna Letícia é uma jovem de 23 anos que batalha desde muito nova para ajudar com as despesas da casa depois que seu pai foi embora por não aceitar ter um filho deficiente visual. Mesmo passando por algumas dificuldades ela nunca se deixou abater. Mas...