Capítulo 23

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Heitor

COMA. COMA. COMA.

A palavra se repete de forma gritante em minha cabeça enquanto todo o mundo parece se ruir a minha volta. Não dá para acreditar em como é possível receber a melhor notícia do mundo que é ter um filho com a mulher que eu amo e a depois receber uma rasteira ao saber que ela está em coma e pode nunca acordar.

Lorenzo continua a explicar a situação de Ana, mas não consigo prestar atenção em nada. A dor me dilacera o peito de uma tal maneira que não consigo e nem quero me conter. Me encosto na parede da sala e escorrego pela mesma até chegar no chão com as mãos cobrindo o rosto.

_ Não faz assim, filho. – Diego fala me erguendo num impulso. – Não se entrega desse jeito. – Pede o impossível. – Precisa ficar forte pela Ana Letícia e por esse bebê que está crescendo na barriga dela.

_ Eu não consigo. – Digo olhando para os botões da sua camisa.

_ Claro que consegue. – Ele diz apertando meus ombros.

_ Não sei o que fazer se ela... – Não consigo terminar a frase.

_ Ela vai ficar bem. – Branca sentencia um pouco atrás de Diego. – Minha filha é uma mulher forte e teimosa. Não vai se render assim tão fácil.

_ Tem razão, Branca. – Alícia fala pela primeira vez desde que cheguei. – Ana é uma lutadora. Ela vai sair dessa. Mas precisa do seu apoio, Heitor. – Acrescenta vindo para junto de mim. – Pode fazer isso? Pode ficar ao lado dela a apoiando e dando a força de que precisa para sair dessa?

_ Posso. – Digo respirando fundo e secando o rosto.

_ Ótimo. – Diego fala tocando em meu rosto. – Quero que concentre suas forças na sua namorada e no seu filho. Eu cuido do resto.

_ Obrigado. – Agradeço o abraçando e depois me afasto dele e vou até Lorenzo. – Quero ver a Ana.

_ Vou levar você até o quarto. – Diz o médico.

_ Eu vou junto. – Dona Branca fala parando ao meu lado. – Quero ver a minha filha.

_ Só vocês dois. – Pontua antes de caminhar até as portas duplas e o seguimos prontamente.

Subimos de elevador até o sexto andar onde uma placa enorme com os dizeres UTI nos recepciona assim que as portas de aço se abrem. Sinto calafrios enquanto caminho ao lado da minha sogra até o quarto onde Ana Letícia está dormindo ligada a aparelhos barulhentos que a monitoram.

Tem algumas escoriações pelos braço e rosto. Os lábios estão levemente inchados por conta de um pequeno corte na parte superior direita. Me aproximo da cama e seguro sua mão entre as minhas na esperança de que ela reagisse, mas nada aconteceu.

_ Precisa voltar para nós, Bonita. – Sussurro em seu ouvido. – Não desiste. O nosso filho precisa que você lute. – Seco uma lágrima solitária que escorre por meu rosto e me afasto para que Branca consiga ver a filha.

A assisto acariciar os cabelos da filha com cuidado, beijar sua testa e sussurrar algo em seu ouvido que não consigo escutar.

Ficamos ali ainda mais um tempo antes de sermos expulsos pela enfermeira chefe do lugar. Minha vontade é de fazer um escândalo e não sair daqui até que Ana esteja acordada e bem outra vez, mas me contenho porque sei que fazer isso não vai ajudá-la em nada.

Diego e Alícia ainda estão na sala de espera quando voltamos. Alícia leva Branca para tomar um chá na lanchonete para se acalmar. Caminho até uma poltrona afastada e sento me sentindo exausto.

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