Fogo, Sangue e Caos no Baldur

490 63 178
                                    

Quando avistamos a ponte, o sol começava a acordar preguiçosamente e as águas estavam ruidosas ao bater nos grossos pilares de sustentação; espumas douradas pelo sol cercavam as pedras brancas e arredondadas que sustentavam a grande ponte.

Os desgraçados de Helnir haviam montado acampamento na outra margem do rio e ao nos verem chegar, bloquearam toda a passagem ponte em formação de combate. Uns gritavam insultos e provocações enquanto outros baixavam as calças e urinavam na nossa direção. Observei os dentes sorridentes e amarelos dos filhos de um bode, desejando ter machadinhas de arremesso para abrir aqueles crânios cheios de merda. Não vi nenhum estandarte balançando, o que indicava que se houvera algum Tarl, já não estava mais lá, deixando o lugar sob o comando de alguém de confiança.

Mantivemos uma boa distância deles, permanecendo nas planícies. Haesten juntou cinco dos seus homens para discutirem sobre a situação, e o restante de nós permaneceu em alerta. Eu estava na linha de frente com os braços cruzados, encarando nosso objetivo. Vestia cota de malha sobre um colete de couro fervido e forrado com lã, portava minha Hassak no quadril esquerdo e meu machado estava encravado no chão.

Osdrid se aproximou trajado igual e com espada em punho.

"Eles não vão atacar," disse. "Se tivesse meus flancos protegidos pelo rio também não atacaria."

Eu mantive o silêncio. Pensava em tudo o que me acontecera para chegar até ali e agora, sentindo a morte afiando sua foice, imaginava como desviaria de sua lâmina e permaneceria vivo.

"Preocupado?" Perguntou ele.

"Não," menti.

Sem tirar os olhos da ponte, ele confessou:

"Na minha primeira batalha eu quase me caguei. Estava nas fileiras de trás, mas já imaginava o que fazer caso o inimigo chegasse tão perto. Então, lembrei das palavras que um dia ouvira do meu pai: 'os heróis não são lembrados por conta dos feitos que conquistaram; são lembrados porque arriscaram ou perderam suas vidas em tais feitos'. Acabei sem precisar me arriscar tanto, mas de algum modo aquela lembrança me deixou pronto para aquilo."

Eu, apesar de ouvir a citação ridícula dele, ainda estava concentrado na missão. Imaginei o que meu pai queria que eu fizesse, o que havia aprendido quando ele me levava para os conselhos e reuniões de guerra, e se eu deveria morrer ou continuar sobrevivendo como sempre fiz.

"Você tem ideia de quantos são?" Indaguei, monótono. O vento trazia os xingamentos dos miseráveis, mas sem definição.

"Uns oitocentos? Oitocentos e cinquenta talvez?"

Olhei para a margem e as tendas lá colocadas, e vi os que ficaram mais atrás se movimentarem sem apreensão alguma. O sol nascente atrás de nossas tropas refletia nas lanças, espadas, machados e bossas dos escudos que as fileiras da frente portavam, inclusive nas pequenas lâminas de arremesso.

O vento mudou de direção e empurrou meu cabelo para frente, cobrindo a parte nua do meu rosto.

"Você vê facas ou machadinhas com os que estão na margem?" Perguntei, sério.

"Não," disse ele, ponderando a resposta.

Observei mais um pouco, refletindo se devia dar ouvidos as minhas ideias absurdas, ou tentar não morrer sempre que achava encrenca.

"Você é bom com a espada?" Perguntei a Osdrid.

"Melhor do que você pensa," ele rebateu, me olhando confuso. "Você é bom com o machado?"

"É o que vamos descobrir," retruquei, dando meia volta.

Atravessei nossas fileiras e me encontrei com Haesten. Ele estava de costas, com o careca sinistro que incomodava Osdrid na sua frente e três outros que não reconheci.

Confissões de um Rei - ExílioOnde histórias criam vida. Descubra agora