Despedida Temporária

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Harlafel era bem maior do que Enyardeth, mas isso era compreensível. O Baldur se tornara uma enorme rota comercial, onde dezenas de ilferons faziam seu trajeto desde Kirt até aquela vila, para depois carroças seguirem pelas estradas que abri nas Terras de Sangue. Por isso, a quantidade de casas, pontos de troca e comércio cresciam descontroladamente.

A vila se distribuía do lado leste do rio, protegendo a ponte que ficava em seu centro. Do outro lado, onde antes era uma floresta, estava o esqueleto da Fortaleza de Helm, cercado no oeste por grossos muros de pedra trazidos de Skald e protegido por cinco torreões espalhados pelas imediações. Devido à tamanha proteção daquele lado para com o muito em breve castelo, as tropas que guardavam o lugar estavam concentradas na vila, que seria o único ponto fraco até também ser murada.

Acampamos ao lado dela e, sem tempo a perder, mandei um de meus homens solicitar a presença de Etan, um representante que escolhi para ficar responsável pelos assuntos do lugar.

Nesse ínterim nós almoçamos, a tenda de Lothrum foi erguida e nela reuniram-se o próprio Lothrum, Nasty, Etan, que chegou atrasado, Cenwulf e eu. Sentamos em volta da mesa retangular que era meu local de tortura diário. Olhei para Nasty, e ela correspondeu com uma expressão apática, típica dela.

"É bom vê-lo de novo, Senhor Kjar," cumprimentou Etan.

Ele era um velho magro, meio careca e de pele branca ressecada, que servira ao meu avô e ao meu pai até perder a mão da espada em batalha. Um bom homem que tinha meu respeito por sua sabedoria e obstinação.

"Vejo que as coisas vão bem por aqui," respondi, ainda com a Tarl na minha vista.

"Não faz muito tempo que o Senhor esteve aqui desde a última inspeção para as coisas terem saído do controle," comentou ele, com um sorriso de um dente só.

"Mesmo assim é de se admirar, pois deixei este lugar na única mão de um velho," brinquei, e ele riu.

Cenwulf tirou sua pedra de amolar (eu não sei quantas vezes eu repetirei estas palavras) e pôs seus pés sobre o tampo da mobília.

"Podemos começar?" Perguntou Lothrum, com sua simpatia irritante de sempre.

"Podemos," respondi sem encara-lo. Ajustei minha máscara e tomei a palavra. "Etan, todos esses homens estão aqui para trazer Skald a estas terras, para erguer nossa supremacia perante Helnir e Falkirk," bebi da cerveja que estava ao meu lado para molhar a garganta.

"Parece que a hora finalmente chegou, não é mesmo? Depois de todos esses anos..." ponderou o velho.

"Sim, e começaremos assegurando o lado oeste. Mais alguma notícia sobre Helnir?"

"Só os mesmo boatos, Senhor: Uma movimentação de homens desse lado do rio, bem ao sul. Se quer minha opinião, isso não me cheira bem. Ainda não vimos nenhum deles por aqui, e nossos batedores não viram nenhum acampamento, apenas pequenos grupos desorganizados."

"Pode ser uma armadilha," sugeriu Nasty.

"Talvez, mas eles podem estar se reagrupando aos poucos," disse Lothrum.

"É possível. Porém, não importa o plano deles; nossa estratégia continua a mesma. Como estão os ilfers?" Perguntei ao velho.

"Ah, que bom que perguntou, Senhor. Os que estão sendo construídos vão indo bem, mas pode demorar um pouco. Por outro lado, vinte ilfers chegaram recentemente sob ordens de Tarl Ulfric, segundo os capitães," revelou Etan, sério. Ele também não gostava do meu avô.

"Ulfric?" Duvidou Nasty.

"Sim, Senhora. Foi tudo o que eles me disseram," afirmou Etan.

Nasty me encarou desconfiada da boa ação do meu avô, e eu silenciei pensando naquilo.

Confissões de um Rei - ExílioOnde histórias criam vida. Descubra agora