Paz Entediante

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Eu gostaria de ter bastante tempo para contar com detalhes sobre como me estabeleci naquelas terras, como Falkirk se adiantou em tomar o sudeste das Terras de Sangue, e como suprimi duas investidas pequenas de Helnir contra o bem avançado Forte Helm.

Contudo, o meu tempo é pouco. Na verdade, não faço ideia de quanto me resta, mas sei que não é muito. Hoje trocaram-me de cela, meu pé quebrou quando caí no percurso e a comida está cada vez mais precária. Eles têm pressa em me executar, porém, a maldita honra os força a esperar que meu último desejo seja atendido.

Entretanto, posso dizer que o tempo passou, e o máximo que posso fazer é um resumo sobre isso.


Depois da vitória sobre Falkirk, reorganizei as tropas, segurei os homens de Wokden por um tempo e, assim que pude, enviei um mensageiro a Swiftangale para contar o ocorrido e levar minha proposta sobre a solidificação do domínio de Skald sobre a região.

Oito meses se passaram até que uma resposta fosse dada. Um ano depois, trinta ilferons (embarcações maiores e mais largas do que os ilfers, usadas para o transporte de pessoas e cargas) atracaram em Helm trazendo não guerreiros, mas mulheres, crianças, velhos e homens comuns. Eles seriam os primeiros habitantes das Terras de Sangue desde a destruição do povo de Valbryt na Guerra das Sombras. Três grandes vilas seriam construídas: Harlafel ao lado do Baldur; Ygguidrid ao lado da floresta de Yggardonath, perto de Wokden; e minha homenagem à mulher que salvou minha vida, Enyardeth sob o penhasco de Garand.

Pouco tempo depois dos civis chegarem, Falkirk se movera para o sul. Eu enviara espiões com frequência para observar aquele lado da fronteira, e eles alardearam sobre corvos malditos terem se estabelecido na Fortaleza de Celten, a ultima defesa no extremo sul, na beira do mar. Eu não tinha homens suficientes para tomar o lugar, então apenas pude ignorar, mesmo sabendo que um dia o confronto seria inevitável.

E para impedir que assédios viessem de lá, criei um posto militar avançado no centro das planícies de Aftmantir, também servindo como base para dar apoio às futuras incursões que haveriam de acontecer. Ali, inclusive, era um ponto de pedágio para mercadores que se encontravam das duas vilas para trocar seus produtos.

Digo troca de produtos, pois ainda não tínhamos moedas como os ocidentais, e o objeto de valor era o peso de metais preciosos ou o que mais estava em falta para determinado lugar.

Como a região não tinha um líder, um tarl ou Husk, tomei a frente e usei a coleta do pedágio para pagar homens que abrissem três estradas a partir de Aftmorsh, o posto de Aftmantir: Uma para o leste, uma para o norte e uma para o oeste. Outras duas foram criadas com o tempo, sendo uma entre Wokden e Helm pelas margens do rio, e outra entre Wokden e Garand passando pelo sul de Yggardonath. Falando na floresta, o problema de água em Garand fora sanado com a rota livre para o lago que havia no centro daquelas árvores.


Quando outro ano se passou, a torre de vigilância mais próxima de Garand, alertou-nos com suas chamas. Essas torres estavam enfileiradas do leste ao oeste, com uma pira de metal no topo pronta para ser acesa em caso de necessidade. Peguei meu Devorador e liderei quatrocentos homens para onde o problema se encontrava.

Helnir enviara um pequeno grupo de cerco contra Helm, que estava com parte dos seus muros finalizada. Eu cheguei com antecedência, no mesmo instante em que o cerco fora montado, pois espiões nossos haviam adiantado sobre o ataque. E junto com a guarnição do lugar, nós dilaceramos aquela investida como se esmigalhasse pão.

Entretanto, eles usaram a mesma armadilha que um dia eu fizera naquela ponte. O verdadeiro ataque veio por trás, no fim da tarde, do nosso lado do território. Quando as sentinelas viram a aproximação de quase quinhentos homens a pé e a cavalo, ordenei que a trombeta fosse tocada e que os civis atravessassem a ponte para se refugiarem no forte que estava aberto no lado leste. Assim, esperei que os homens de Helnir passassem pela vila para realizar o contra-ataque: Ordenei que a vila fosse incendiada, prendendo nossos inimigos na ponte, com nossas armas de um lado, e com as chamas das casas do outro; a mesma estratégia usada por Cenwulf.

Confissões de um Rei - ExílioOnde histórias criam vida. Descubra agora