Que o Pandemônio Comece

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"Use a cabeça, seu idiota supremo!" Gritava Cenwulf comigo.

Eu estava irado com a morte do Anfitrião. Arremessei a cabeça do morto contra a cara do cavalo que o trouxera e chutei a neve. O desgraçado só tinha uma missão, uma, e falhou; agora estávamos sós. Não havia reforços, não havia flancos sobre o nosso controle, não havia armadilha e a vitória parecia mais sofrida, ainda que provável.

O mercenário me puxou pelo ombro e socou meu estômago, tirando o meu fôlego.

"Comporte-se. Agir como uma criança birrenta não é do seu feitio," ele disse, sério.

Eu parei e fulminei o careca com os olhos, recuperando o ar.

"Pense nos dias que se passaram," ele continuou. "Althes foi capturado na volta, e não na ida. Não faz sentido eles o segurarem por tanto tempo." Apesar da sua personalidade sanguinária, Cenwulf era uma pessoa otimista.

"Você sabe que pode estar errado!" Respondi entre suspiros. "Eles podem tê-lo capturado no acampamento e o levado para o Jarl. Não podemos ter certeza, o problema é saber se reforços virão e o quanto ele revelou sobre os nossos planos."

"Acho pouco provável que eles tenham interrogado o almofadinha. Mas por via das dúvidas é melhor agirmos agora; não temos outra escolha," disse o careca, olhando o caminho que Althes fizera.

Ainda ofegante e com o sangue fervendo, peguei a cabeça do Anfitrião, montei e fiz o caminho de volta para o forte. Haesten prendeu o corpo na montaria que chegara, conduzindo-a pelas rédeas.

Os homens reuniram-se no pátio com olhares curiosos, cheios de ansiedade para saber o que acontecia. Ao passar sob os espigões do portão de ferro, joguei a cabeça aos pés dos que se encontravam na frente e gritei, com o peito em chamas:

"Um dia, vocês contarão sobre essa batalha aos seus netos! Espero que em suas versões, eu seja o herói que os protegeu de serem decapitados, e não o vilão que torturou um inocente!" Desci do cavalo e passei no meio de guerreiros apreensivos e sérios. "Os que forem para o sul devem se preparar para sair imediatamente! O restante me ajudará a enterrar esse maldito."


Cavamos uma pequena vala, suturamos a cabeça ao corpo, o enrolamos em faixas brancas e o jogamos no buraco. Depois de enterrado, velamos o lugar por alguns instantes e, em seguida, fiz as honras:

"Que o seu corpo renovado se levante no fim dos tempos!"

Ao que todos responderam em uníssono:

"E o que um dia foi, um dia, outra vez, será!"

Retirei-me para os muros do portão com Enya ao meu lado. Fiquei tentado a manda-la embora com o mercenário para o sul, mas desisti. Se ela quisesse partir já o teria feito, logo, a minha sugestão seria ignorada. Eu não entendia a sua insistência em permanecer ao meu lado, correndo o risco de ser morta caso o forte seja tomado. Eu poderia até arriscar pensar que ela gostava de mim, mas a minha mente se voltava para outros problemas.

Falcão Negro se aproximou com a face consternada.

"Depois que vencermos, pois iremos, devemos noticiar Senhor Lothrum. Ele queria bem ao Anfitrião."

"Farei isso," respondi sem virar o rosto.

Com a visão do alto, acompanhei aqueles que seriam nossa esperança em breve. Sob a liderança do careca filho de um bode com uma prostituta, as tropas desceram a Prancha e viraram a direita, indo se estabelecerem aos pés de uma colina coroada por abetos não muito longe dali.

Confissões de um Rei - ExílioOnde histórias criam vida. Descubra agora