"Você descobriu alguma coisa?" Perguntei a Cenwulf.
"Não muito mais do que já lhe disse," respondeu ele.
"Mas só isso basta para saber o quão delicada é a situação do Jarl," comentou Enya.
Mandei convocar o mercenário aos meus aposentos assim que deixei o refeitório. Errei ao pensar que aquela seria uma simples visita dos líderes de Skald; as coisas pareciam ter mudado nos últimos anos, só restava saber o quanto pior se tornou.
"Talvez o seu pai venha conversar com você antes de partir, porém, acredito que não irá revelar mais," explicou o careca. "Ele está com problemas para manter os tarls nas rédeas, especialmente o seu avô. O motivo eu não sei, mas tem haver com você."
Nós três estávamos em pé no centro da sala, com a claridade do meio-dia, que vinha janela leste, iluminando o ambiente. Sentei-me na cama, e de cabeça baixa tentei juntar as peças que tinha em mãos.
Meu pai era Ur, o Impetuoso. Guerreou com Valbryt por anos para manter o controle de Swiftangale, e provou-se o Tejiak mais cruel na história, atrás apenas de Garr, Filho de Lobos. Ele parecia encarnar o nosso pai ancestral em batalha com tamanha fúria, que homens fraquejavam perante a sua presença durante um combate; para os tarls mostrarem insatisfação para com ele, teria que ser um problema dos grandes.
E isso era, de verdade, problemático. Um jarl não exerce seu cargo a partir de um direito divino e de sangue como acontecia com os reis. Sua liderança vinha da sua força e sabedoria que mantinham o respeito e o temor dos outros, evitando possíveis revoltas. E minha preocupação era justamente essa. Algum tarl prepotente desafia-lo para um Amdarf, um duelo para disputar a liderança de Skald. Ele não era mais aquele jovem que venceu Hertan, o filho de Ulfric, deixando suas tripas para os corvos e levando a mão de Hirja como prêmio...
"Se quer saber o que eu penso, você deve esperar até essa reunião de hoje a noite para ter certeza de algo, e só assim tomar uma decisão, ou não," opinou Cenwulf, cruzando os braços.
"Ele está certo, Ivarr. Se seu pai precisasse de sua ajuda ele certamente diria," disse Enya. Ela apoiava uma mão na barriga enquanto mostrava-se afável.
Ergui-me, ajustei a face dourada e respondi:
"Duvido muito. Mas não vejo outra escolha; que assim seja. Esperemos para ver o que está acontecendo entre os nobres de Skald."
Cenwulf acenou, e Enya disse "Nefar", o que compreendi como um outro idioma desconhecido por mim.
Enquanto a esperada hora não chegava, eu me organizei nos afazeres pendentes durante toda a tarde. Avaliei os números de homens e de suprimentos para comporta-los, inspecionei se todos estavam bem alojados, e averiguei as necessidades da vila naquele momento. A quantidade de homens e cavalos era enorme, e temi não poder abrigar a todos. Podíamos ser guerreiros brutais, mas a hospitalidade é algo sagrado: Isso conquista admiração e mantém alianças.
Voltei para o castelo com os últimos raios de sol minguando no oeste. Encontrei-me com Haesten, e ele revelou que todo aquele exército não pertencia nem aos tarls que ali estavam, nem ao Jarl: Aqueles homens faziam parte da aliança dos outros três tarls, que nunca lutaram pelas Terras de Sangue, mais Guthrum: irmão de Lothrum que se tornara senhor da guerra há poucos meses, após uma divisão de terras entre os dois.
Estranhei os fatos, porém, aquilo começou a ter um significado maior, uma peça importante naquele jogo.
Subi para os meus aposentos, e Enya já estava a minha espera para o jantar. Se eu não estivesse tão concentrado naquela confusão, teria observado que ela não saíra do quarto em nenhum momento enquanto a comitiva ficara em Garand.
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Confissões de um Rei - Exílio
Fantasía"Confesso. Sim, confesso que sou culpado por todos os crimes a mim atribuídos, mas que meu espírito orgulhoso se nega a arrepender-se. Matei, traí, corrompi, torturei e pratiquei todos os atos de tirania. Dos pecados capitais? Só não cometi a pregui...