A manhã de primavera surgiu quente desde os primeiros raios de sol. Não havia chovido e as nuvens se dissiparam, fazendo a tenda em que eu dormia parecer aumentar a temperatura ainda mais, me deixando suar só por estar dormindo. Com um humor azedo, ergui-me, bocejei e tirei a sujeira dos olhos. A cabeça latejava um pouco sob efeito do vinho da noite anterior e após a minha conversa com Lothrum.
Sai debaixo da lona, e senti o calor do sol atingir minhas costas: Era a primeira vez depois de muito tempo que dormi num acampamento sem a cota. Antes de procurar algo para mastigar, me pus a desmontar meus aposentos. Os homens ao redor também trabalhavam para levantar acampamento e dar continuidade à marcha.
Cenwulf surgiu logo em seguida. Estava com uma prostituta abraçada em sua cintura que foi dispensada com um beijo e um pequeno bracelete de prata.
"Essa daí pode levantar sua autoestima rapidinho," disse ele, vendo minha expressão nada amigável.
Continuei calado.
"Temos alguém que vai para a escola!" Era a voz de Haesten, se aproximando.
"Cuidado, Haesten. Ele está com cara de quem vai lhe atacar com o tinteiro!" Zombou o careca, dando risadas.
"Visitamos Esthar uma vez," contou o cabelo de palha, depois de parar de rir. "Lá, as crianças nobres se reúnem num grande salão chamado 'escola' para ficar encarando livros. Ainda não acredito que você vai fazer a mesma coisa."
"Eu não vou," respondi, seco.
"Não é o que entendi," Cenwulf disse, agachando-se para me ajudar com os nós. "Você não tem escolha, lembra?"
"Posso mata-lo."
"Não pode."
Sem nenhuma delicadeza peguei a lona e puxei como se arrancasse um homem de cima do cavalo.
"Não fique assim, será divertido, pelo menos para nós," disse Haesten.
Naquele instante, o ruído de cascos contra a grama se aproximou rapidamente.
"Você acaba de ser premiado," disse Cenwulf, olhando por sobre o meu ombro.
Virei-me e vislumbrei a beleza de Nasty chegando perto com a sua montaria. Toda vez que a via um desejo de segura-la pelas tranças e beijar seu pescoço delicado se apoderava de mim. Nunca vi uma ruiva como aquela.
"Máscara da Morte, Mercenários," ela cumprimentou, parando o animal.
"Nasty," os mercenários devolveram em uníssono.
"Não perguntei antes, mas como está Meridia?" Cenwulf quis saber.
"Bem melhor longe de você," ela retrucou; sua voz era tão afiada quanto o aço. Em seguida, pôs seus olhos sobre mim. "Não há nada para fazer nesse mar de grama, estou entediada. Como Lothrum irá atrasar, pensei em testar a habilidade do herói destas terras."
Virei o rosto com a menção do nome daquele monte de bosta, concentrando-me nos nós.
"Estamos demorando muito," observou Haesten. "Desse jeito só chegaremos em Aftmorsh pela noite."
"Você já deslocou um exército desse porte, mercenário? Se não, então não fale merda," ela rebateu.
Seu cavalo bufou, e Haesten não reagiu.
"E nosso Comandante aqui é quem deve se preocupar com isso," ela continuou, voltando a me encarar. "Então, aceita um pequeno aquecimento?"
Eu observei seus olhos de esmeraldas e me ergui, dando-lhe as costas:
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Confissões de um Rei - Exílio
Fantasía"Confesso. Sim, confesso que sou culpado por todos os crimes a mim atribuídos, mas que meu espírito orgulhoso se nega a arrepender-se. Matei, traí, corrompi, torturei e pratiquei todos os atos de tirania. Dos pecados capitais? Só não cometi a pregui...