Juramento

168 31 43
                                    


Antes de alcançar a superfície, encontrei a silhueta do que um dia fora um verme gigante, onde estive preso, fazendo o percurso contrário ao meu. Seus pedaços flutuavam por todas as partes, junto com alguns corpos de submissos e escravos.

No fim das contas, não importa nossas ambições. Somos todos frágeis perante a grande piada chamada de vida, e um dia encontraremos o nosso fim.

Vi o Pequeno Hork espiando o que acontecia no mundo, e emergi no meio de madeiras negras. Na superfície, as três embarcações estavam ancoradas uma de frente para a outra do lado norte. Duas sombras menores e uma gigante contra a luz do Grande Hork que iluminava ao fundo.

Nadei na direção delas. Depois de duas braçadas a minha respiração tornara-se mais difícil, e a quantidade de ar que eu puxava fora diminuindo. Ofegante, eu parei e toquei a parte de trás da minha orelha.

Os pelos sedosos nas fendas estavam grudados, e os meus dedos pioraram a situação. Porém, enquanto eu arquejava, senti os meus pulmões queimarem outra vez, e o ar penetrar pelas minhas narinas. As fendas se fecharam, não sem antes causar dor.

Independentemente do tipo de magia que aquela criatura usara, funcionou em durar o tempo que eu necessitara.

Aproximei-me do ilfer que Cenwulf mencionara. Dei a volta na popa e encostei-me na lateral esquerda.

"Eu o vi no convés superior." Ouvi a voz do mercenário dizer. "Não importa o tempo que leve, nós vamos acha-lo. Nem que seja o seu corpo boiando."

"Se for esse o caso, como avisaremos a aqueles dois?" Era Derok. O maldito Derok da cara larga.

"Avisar a quem, seu careca avarento?" gritei, revelando-me na escuridão do mar.

Os dois mercenários expuseram as cabeças para fora do ilfer. Derok segurava uma lamparina.

"Que os deuses caguem em mim, seu filho da mãe imbecil! Você é imortal?" Espantou-se Cenwulf.

"Acho que eu não gostaria de saber," respondi, e apontei para o objeto de luz. "Até vocês usam essa coisa?"

"Vou pegar uma corda!" disse Derok, saindo.

"Onde você estava? Nós o procuramos por toda parte," comentou o careca.

"Ganhei um tempo livre, fui conhecer a paisagem," brinquei.

Eu poderia ter contado a verdade a Cenwulf. Minha confiança nele permitia isso, mas não garantia a sua credulidade. Provavelmente eu o ouviria dizer que eu tinha desmaiado e sonhado demais.

Um vento norte uivou e trouxe um frio que fez meus dentes baterem uns nos outros. A nossa conversa despertara alguns homens que bisbilhotaram a situação.

"Não acha que esse resgate já atrasou demais?" ironizei.

"Derok, quanto tempo se leva para buscar uma corda?" gritou Cenwulf, acordando toda a tripulação.

O mercenário da cara larga surgiu logo em seguida. Jogou uma corda grossa e cheia de nós onde eu me encontrava e amarrou-a em algum lugar do ilfer.

Puxei-a testando sua firmeza, apoiei os pés no casco e iniciei a escalada. Os homens aceleraram o processo, ajudando-me a subir o curto percurso.

Passei a perna para dentro da embarcação, jogando litros d'água nos bancos de remo.

"Você está horrível. Ser escravo foi tão ruim assim?" zombou o careca, segurando-me pelo braço.

Todos os homens me encaravam, conhecendo pela primeira vez a face do homem que um dia os liderou.

Confissões de um Rei - ExílioOnde histórias criam vida. Descubra agora