Capitulo Dois

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11 de Setembro de 2001, 07h09.

Dentro de seu quarto, Peter analisou sua imagem diante do espelho. Era aparentemente normal. Nada poderia aterrorizá-lo, ele era humano e isso bastava. Ele tentou entender por qual razão tinha que ser ele o escolhido, por que ele tinha que pertencer à última linhagem de Adão e Eva. Por que não qualquer outro?

Ele arrancou a camisa e analisou a tatuagem vermelho-cintilante em seu abdômen, o tamanho da tatuagem não passava dos doze centímetros, um pouco maior do que em sua última olhadela, lá no mundo das maluquices. Falando em maluquices, Peter se perguntou que tipo de criaturas eram aquelas.

Peter riu indignado. Como encontraria uma garota com o coração imortal no meio de tantas garotas que andam de um lado para o outro nesse bendito mundo? Completamente impossível. Surreal. Então, ele poderia concluir, em suma, que tanto ele, quanto os Ignisalbus seriam destruídos... Deveria Peter iniciar a viver de uma forma como jamais viveu? Não parecia uma má ideia, parecia?

Ele vestiu uma camisa amarela, que estava dobrada na poltrona, e deitou-se em sua cama, com a cabeça enterrada no travesseiro. A porta do quarto se abriu, era Allyssa, sua irmã, a mascote da casa.

– Peter, a mamãe fingiu estar morta e eu chorei muito antes de descobrir que ela estava mentindo. – sua voz era melancólica e ao mesmo tempo teatral.

Peter custou a acreditar que sua irmã “gênio da lâmpada” pudesse cair numa brincadeira daquelas. Sua irmã era um dos três motivos que o faziam viver. Para Peter ela precisava dele, tanto quanto ele precisava dela. Não tinham uma mãe perfeita, assim como também estavam longe de ter a mãe que mereciam. Não que ela fosse uma psicopata, só que de tudo ela parecia achar graça, além de ser alcoólatra. Peter nunca conseguiu entender onde ela tinha conseguido dois filhos certinhos demais, para terem saído de suas entranhas. Segurando a mão pequenina de sua irmã, ele disse:

– Tudo bem Allyssa, a mamãe não vai morrer. E, não importa o que aconteça, eu sempre vou protegê-la.

Allyssa amava Peter de uma forma incalculável, era ele o pai que ela não conheceu e tão pouco conheceria. Ele abraçou o corpo magro e pequeno da menina de sete anos e beijou o topo de sua cabeça, desfiando uma madeixa do seu cabelo loiro e longo. Parte dele sabia que talvez as suas palavras não fossem verdadeiras, talvez ele não a protegesse para sempre, e isso fazia com que ele se sentisse a pior pessoa do mundo. Pensando bem, ele já tinha se considerado a pior pessoa do mundo, numa certa época da qual preferia não se recordar.

Uma lágrima rolou, pousando no cabelo loiro. Pobre garota, o que seria de sua vida sem o seu irmão, caso acontecesse algo ruim com a sua vida?

– Ah! – gritou Allyssa, fazendo Peter limpar os olhos. – Não acredito que pintou o cabelo... Já imaginou o que a mamãe vai falar? Peter, ela vai matar você!

– A mamãe não vai dizer nada, atualmente ela só liga para os seus vinhos. – disse Peter, quase para ele mesmo. – E você, gostou? Estou um astro de TV?

Ela fingiu estar pensando.

– Sim, adorei.

Três batidas na porta foram ouvidas.

Catherine estava num vestido florido e usava uma sapatilha All Star. O sorriso dela pareceu iluminar a manhã de Peter, seus pensamentos o fizeram corar e seus batimentos cardíacos atingiram um recorde. Allyssa olhou para o irmão e riu, colocando a mão na boca. Talvez ela soubesse o que ele diria em seguida.

– Tudo bem Allyssa, agora vá pegar a sua mochila. – ele bateu no rosto tentando não dormir. – Hoje você irá para a aula com a Cath, mas antes ela levará uns documentos num escritório próximo ao seu colégio.

O último AdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora