Peter sentia-se mesmo cheirando mal. Sua cabeça estava um turbilhão, sua vida, sem sentido e, por fim, apenas por acreditar que o vendaval poderia passar, por um instante ele estava feliz. Afinal, não é sempre que a garota dos seus sonhos diz que te ama, mesmo que essa revelação aparentemente não te leve ao topo da realidade de vivenciar aquilo.
Ele apanhou uma toalha de algodão e saiu do quarto, vagando por aqueles corredores à procura do lago, para que pudesse se banhar. Seus olhos estavam fascinados com a sua nova moradia e, em meio a tanto deslumbre, ali, dentro daquele corpo, um sentimento egoísta começava a germinar.
Havia uma porta aberta. Uma sombra. Ethan e mais alguém.
Peter diminuiu os passos, a fim de tentar ouvir a conversa. Ele colocou seu rosto na pequena fenda e viu Ethan de costas. A única coisa possível de enxergar, além da criatura, era uma leve fumaça negra e uma densa sombra. Peter tentou, de todos os ângulos, ver quem era aquele outro ser com quem Ethan conversava, mas parecia algo inútil.
– Se encontrarmos algum Igniscruor em nossas redondezas, teremos que matá-lo, tirá-lo do nosso caminho. Nenhum deles pode se aproximar de Peter. As coisas podem ficar fora de controle e eu não quero encarar as consequências.
Ethan pensou um pouco, coçou a sobrancelha rala. Ele sabia de qual consequências estavam falando. Em seguida respondeu:
– Tudo bem, farei o que for preciso. Nada vai fugir do meu controle.
Um baque. Ethan volveu o pescoço, passando as mãos uma na outra.
– Algum problema, magnus Peter?
A sombra desapareceu, misteriosamente, como se nunca tivesse estado lá. Os pés de Peter avançaram, adentrando a sala iluminada por velas. Um cheiro de enxofre sufocava o recinto.
– Com quem estava conversando?
Ethan cerrou o punho.
– Com Kyle.
Enquanto falava, Ethan sentou-se em uma cadeira. Não acreditando no que ouvia, Peter questionou:
– Kyle? Nem de longe me pareceu a voz dele...
– Então, o que estava procurando?
Não era Kyle, e disto Peter tinha plena certeza. As coisas não estavam em seu eixo, havia algo errado. Havia algo que não se encaixava. Havia um mistério e Ethan estava envolvido nele, assim como não havia uma porta extra naquela sala, para “Kyle” sair sem ser percebido.
– Preciso de um banho, e por mais que Kyle tivesse ensinado o caminho, ainda não consegui me acostumar com tantos corredores. Sinto-me perdido num bosque qualquer.
Ethan sorriu malicioso. Deslizou os dedos pelo enorme diamante que pendia em sua mão – algo um tanto extravagante.
– Saindo por esta porta caminhe até encontrar o primeiro corredor à direita. Depois, quando vir uma porta aberta, caminhe até encontrar a luz.
Peter meneou a cabeça e seguiu, segundo a orientação da criatura. Ainda estava vestido com roupas humanas, embora a neve estivesse começando a cair e os seus lábios tremelicassem.
Peter já estava cansado de andar. Por mais que caminhasse, não encontrava o corredor à direita. Olhou para trás, tudo estava em silêncio junto à luminosidade que oscilava. Quando finalmente encontrou o corredor, foi surpreendido por uma luz, um brilho e um encantamento, que concluiu ser o Lago Azul.
Dentro de uma caverna havia um lago de onde resplandecia luz. A terra era de um marrom negro, que se misturava às rochas escuras – de enorme variedade de tamanhos. Estalactites desenhavam contornos extraordinários e a água era de um profundo azul-cristalino, luminoso, uma estrela que simplesmente escolheu aquele planeta para se mostrar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O último Adão
FantasyQuais mistérios um garoto aparentemente comum pode carregar consigo? Quão rapidamente sua rotina pode virar uma aventura alucinante? Essas e outras perguntas atravessaram o caminho de Peter, cuja vida monótona escorregava entre seus dedos enquanto f...