Capitulo Seis

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Amanheceu. Alguma perspectiva de vida? Não, nenhuma.

Peter caminhou até a janela. Mais um dia de vida. Lá fora as criaturas tatuadas já tinham começado o dia, andavam de um lado para o outro. O sol já começava a mostrar seu brilho e a neve da noite passada não passava de água empossada, ou gotículas d’água nas árvores.

Peter espreguiçou e evitou olhar para o espelho, temendo ver a tatuagem maior. Ele caminhou até uma mesa envernizada e lavou o rosto numa bacia de ouro, que ali em cima estava. Escovou os dentes e fez careta, quando sentiu o gosto amargo da pasta de dente. Depois dali arrastou-se até o armário, apanhou uma roupa “persa”, era uma camisa branca e sem manga, um colete preto, uma calça apertada – um tanto desconfortável –, uma bota de couro flexível e tiras que amarrou em ambos os braços. Havia também um adorno, que ele pôs sobre o pescoço. Depois de se vestir, Peter apanhou a espada que Ethan lhe dera e saiu do quarto.

No corredor, analisando o seu corpo naquelas vestimentas, Peter resolveu passar pelo quarto de Catherine e Allyssa, afinal já fazia horas que não tinha notícias das suas amadas garotas.

Peter bateu na enorme porta pesada e esperou.

– Até que para um aspirante a rei você ficou bem “bonitinho” nestas roupas – disse Catherine segurando os seios.

Peter olhou para ela confuso, na verdade ele não sabia se olhava para aquele rosto elusivo, ou para aquilo que ela segurava.

– Hum... Sério? Estava me sentido super estranho. Essa camisa coça e a calça me parece tão apertada, que quase não consigo andar.

Ela sorriu, virou, puxou o cabelo para frente.

– Você poderia me ajudar a fechar este espartilho? Não estou conseguindo.

Peter não respondeu, em vez disso agiu. Colocou as mãos nas costas de Cath, sentiu o seu perfume e, por fim, foi amarrando aquele cordão, quase cego. Depois de finalizar aquela tarefa prazerosa, enfim pôde ver sua irmã que estava vestida numa seda azul, cor do céu. Seus olhos brilharam.

Allyssa pulou no colo do irmão, parecia tão leve quanto uma pluma.

– Então, o que vamos fazer agora? – perguntou Catherine com a mão na cintura.

A porta se fechou atrás dele. Peter sentou em uma das camas, ainda segurando a irmã, que logo começou rir, pois ele lhe fazia uma sessão de cócegas.

– Partirei ainda hoje, Ethan pensa no pior. Você mesma ouviu o que ele disse.

Cath cerrou os olhos e Peter sabia bem o que aquilo significava. Sempre soube.

– Não. Não adianta me olhar assim, não acho uma boa ideia vocês irem. É arriscado demais e se bem te conheço...

Catherine revirou os olhos e sentou-se na penteadeira. Peter ficou com a mente vaga. Melancólica, Allyssa sorriu. Peter pensou que não queria reviver aquele sentimento de perda mais uma vez. Não queria ouvir mais um “por favor”. Aceitar que elas fossem com ele, seria uma forma de evitar aquela dor desnecessária. Peter tinha medo de voltar e descobrir que elas não estavam mais ali.

– Tudo bem, vocês venceram, ok? Agora vamos ver o que temos para comer, minha barriga parece tão oca... – Peter riu. – Quanto tempo faz que eu não como nada?

Enquanto caminhavam, feito cegos perdidos em um labirinto, Allyssa não parava de tagarelar. Passaram por dois guardas, dobraram à direita, viajaram naqueles quadros monotonamente presos às paredes.

– O que realmente estamos fazendo aqui? Ainda não consegui entender.

Allyssa fazia essas perguntas, balançando o vestido como se de repente ele pudesse ganhar vida e, principalmente, lhe dar asas. Peter engoliu em seco, nem mesmo ele parecia entender o porquê de estar ali. Para ele, se as criaturas realmente desejavam o coração, então elas mesmas deveriam apanhá-lo, porque se queremos algo bem feito, então essa tal coisa deve ser feita por nossas próprias mãos. Além do que, ele não queria matar uma pobre garota. Ethan, mais do que qualquer um ali, deveria fazer isso. Ele teria que olhar nos olhos dela, sentir a sua dor, a sua angústia... E, se assim o fizesse, até ele, Peter, se sentiria no dever de ajoelhar e dizer que Ethan sempre mereceu ter o posto que hoje ocupa... Pensando bem, claro que Peter não faria isso e, além do mais, Peter era o único que poderia matar a garota. Ele ou a sua cópia.

O último AdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora