De dentro do castelo, pela janela, Peter pôde acompanhar a repercussão do assassinato provocado por um simples treino com espadas. E, mesmo assim, após pensar um pouco sobre sua atitude, Peter chegou à conclusão de que não era culpado. Não queria sentir compaixão e, se pudesse, reviveria toda aquela cena, quantas vezes fosse possível.
Cath condenava Peter, como se ele tivesse cometido o pior ato que um ser humano poderia cometer. E talvez fosse. Ninguém tem o direito de tirar a vida do outro, não importa em que mundo esteja vivendo, não importa se aquelas criaturas fossem estranhas, e era assim que Catherine pensava. Peter havia tirado a vida de uma criatura, a qual ele deveria proteger, e uma coisa qualquer um poderia notar: Peter já não sabia o que era certo ou errado.
– Por que fez isto, Peter?
Peter não respondeu, não havia um porquê, uma explicação cabível. Em vez disso, Peter se distraiu com o sangue que escorria de sua mão e pingava no mármore branco.
Sem obter respostas, Catherine colou suas mãos no rosto de Peter, com tanta força que ele chegou a pensar que ela poderia arrancar a sua pele.
– Quem é você?
Dos olhos de Catherine, escorreram grossas lágrimas.
– Onde está aquele Peter, por quem eu sempre fui apaixonada? Por favor, me diga que está aí, porque eu não consigo encontrar.
Delicadamente, com as mãos ainda escorregadias de sangue, Peter descolou as mãos de Catherine de seu rosto. A garota chorava, como se aquela criatura fizesse parte de sua família.
– Está aqui, sempre esteve aqui, sempre estará aqui à sua espera.
– Não, ele não está... Em que diabos de criatura você está se transformando? Oh, meu Deus, Peter! Por mais que esse mundo te pareça estranho, você não pode tirar a vida de qualquer um. Eles sofrem, não vê o quanto Bran está sofrendo? Jamais imaginei que você tivesse coragem de matar um rato, mas vejo que me enganei, vejo que suas palavras de amor são apenas sacrilégios.
– Poupe-me! Você está misturando as coisas.
No que ele tinha se transformado, nem mesmo Peter sabia responder. Era uma incógnita. Aquele garoto cheio de sonhos estava vivendo em constante turbulência. Era tropeço em cima de tropeço, os problemas pareciam persegui-lo, de tal forma, que era impossível controlar. Sua vida estava arruinada. Ele sentia falta da vida pacata que levava em Manhattan. Sentia falta, até mesmo, de pessoas aparentemente insignificantes para a sua vida, assim como desejava voltar a conversar todas as tardes com seu amigo, a quem Peter costuma chamar de avô.
– Eu posso ter me transformado em destruidor qualquer, mas peço que nunca duvide do meu amor por você. Jamais subestime isto, Cath.
Agora era Peter que chorava, mas ele não soube identificar se chorava pela dor em sua mão ou por Catherine.
– Por favor, acredite em mim, Cath. Nunca amei ninguém, só você. – numa voz rasgada de martírio ele finalmente terminou. – Apenas você.
Naquele intervalo de tempo Peter pôde sentir seu rosto colado ao dela. Sua pele era macia como a mais pura seda, seu coração batia forte, parecendo querer abrir caminho no peito e, quando se deu por conta, seus lábios estavam unindo-se aos de Catherine. Mas o encantamento não durou muito – pelo menos não o bastante, do ponto de vista do Peter – pois Catherine empurrou aquele rosto em sofrimento, como se estivesse sentindo dor em ter aqueles lábios junto aos seus. E foi realmente isto o que aconteceu: ela sentia dor, como se Peter a estivesse matando por dentro, através daquele beijo.
– Eu não posso...
Ela queria aquele beijo, queria Peter. Mas, no fundo de sua consciência, sabia que não podia tê-lo.
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O último Adão
FantasyQuais mistérios um garoto aparentemente comum pode carregar consigo? Quão rapidamente sua rotina pode virar uma aventura alucinante? Essas e outras perguntas atravessaram o caminho de Peter, cuja vida monótona escorregava entre seus dedos enquanto f...