Hoje tudo parecia diferente para Peter: o céu, a sua forma de amar, a vida, os olhares das criaturas, até mesmo a biosfera parecia diferente.
As criaturas já estavam quase terminando de desmontar o acampamento e Peter checava as últimas coordenadas junto a Ethan. As coisas pareciam não ter melhorado entre eles. Allyssa trançava o cabelo de Catherine, da forma mais grotesca. Peter espreguiçou e imaginou que logo tudo estaria acabado e que seria melhor aproveitar o resto de vida que lhe sobrava, para o caso de as coisas não terminarem bem.
Quando tudo estava pronto, continuaram então a jornada. Para Peter havia ali um toque que mudava tudo: Catherine agora era sua namorada.
Kyle logo colocou-se ao lado do rapaz.
– Este não é só um mundo de seres tatuados, é algo mais que isso: aqui acontece mágica, tudo que até então para você era lenda aqui é real... Pode parecer estranho, mas acabamos nos acostumando a tudo isso. Para nós tudo isso é o normal, se não fosse, não conseguiríamos viver aqui, já teríamos migrado para outro planeta.
Peter revirou os olhos, cansado de toda aquela falação de Kyle, que às vezes conseguia ser um pouco exagerado: ele falava demais. E esse tipo de comportamento sempre incomodou Peter, tanto que Deus, para tentar ensiná-lo, lhe dera de presente uma irmã que falava pelos cotovelos.
– Então, qual a história dos vampiros? – perguntou Catherine.
– Nada demais, apenas aquilo que, imagino, vocês já conhecem sobre “bebedores de sangue”. O mesmo blá, blá, blá, de sempre, ok. Eles foram trazidos para cá por violarem a política de boa convivência com os humanos, há milhares de anos. E como para eles o nosso sangue não é nada apetitoso, então não tínhamos do que reclamar.
Ethan, que até então se mantinha em silêncio escutando a conversa, não tardou a provocar:
– Vocês bem que seriam uma ceia e tanto para eles, o jejum deles tem sido longo.
Peter estremeceu. Tinha visto muitos filmes de vampiros e eles lhe pareciam aterrorizantes demais, para querer algum contato com aquelas criaturas do inferno.
– Nossos animais estão quase em extinção, essas coisas estão acabando com a fauna. Outro dia estava ao sul do reino – Ethan pediu para impedi-los de se alimentarem ali – e quando viram nossas armas, desapareceram. Confesso que tenho medo de que eles comecem apreciar o sabor do nosso sangue.
O garoto fez cara de nojo. Quem em sã consciência beberia o sangue daquelas criaturas? Quer dizer, aquela coisa preto-azulada, fedida, que eles insistiam em chamar de sangue. Para Peter aquilo não passava de um líquido podre. De repente, aquele fedor de putrefação invadiu Peter, de uma forma insuportável. O odor era tão real...
– Mas que diabos é isto?! – gritou Peter, ao ver um corpo caído no chão.
Metade da guarda desceu dos cavalos, com as espadas nas mãos, e Peter fez o mesmo. Laurent, o braço-direito de Ethan, chutou o corpo, mas nada aconteceu, sua roupa estava ensopada d’água podre, por conta da nevasca da noite passada e do começo da decomposição.
Peter tapou o nariz com um pedaço de lenço, logo depois Cath, Allyssa e boa parte da guarda fez o mesmo.
– Está morto. – disse Ethan.
Com a ponta da espada, Diego virou o corpo da criatura. O que se via era algo medonho, que fez as mãos de Cath pararem nos olhos de Allyssa, para que ela não visse o corpo – que por sinal estava desfigurado, sem olhos e com vermes que entravam e saíam daquela carcaça, onde era possível ver os órgãos podres. Da sua boca vazavam vermes e um mini pergaminho estava entre os vermes estranhos.
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O último Adão
FantasyQuais mistérios um garoto aparentemente comum pode carregar consigo? Quão rapidamente sua rotina pode virar uma aventura alucinante? Essas e outras perguntas atravessaram o caminho de Peter, cuja vida monótona escorregava entre seus dedos enquanto f...