o sol

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— O que observas, Apolo? — Narciso perguntou. Era um dia chuvoso no Olimpo e todos os deuses estavam dentro do palácio. É claro, o clima estava curvado ás vontades deles próprios, mas dias como tal são de grande uso uma vez ou outra.

Sem entretenimento fora o próprio rosto, Jimin começou a vagar pelo castelo até que encontrar algo. Em uma sala escura da ala leste, ele viu uma luz azul celeste e ao seu lado, agachado, sentava-se um homem que reconheceu. Em seu esplendor jovial, Apolo se sentava, encolhido no chão. Um sorriso bobo cruzava seu rosto e os olhos vidrados, repletos de reflexos da cor fria, estavam vidrados e opacos, em transe apaixonado. Quando a voz de Jimin ressoou, ele se sobressaltou levemente.

— Ah. Boa tarde, Jimin. E me chame de Hoseok, sou adepto da informalidade. Nossos nomes gregos e romanos estão a muito tempo empoeirados.

Jimin concordou com a cabeça.

— Mas como perguntei, Hoseok, o que olhas?

— O mundo mortal.

Jimin encarou a luminosidade azul, e depois que seus olhos se acostumaram, pode distinguir formas e cores. Logo, ele via um vinheiro, com uma casinha amarela ao fundo. Em foco, estava um homem bonito, de cabelos escuros e franja mal cortada. Ele examinava as frutas, limpando o suor da testa. De longe, pareceria o típico agricultor, com suas roupas sujas e ombros largos, mas tinha uma beleza refinada.

— Ele é lindo não é? — perguntou Hoseok, com um sorriso maravilhado no rosto e os olhos brilhando — poderia ser filho de Afrodite.

Jimin franziu a testa.

— Como ousas dizer algo do tipo com o verdadeiro filho de Afrodite ao seu lado?

— Não quis ofender — resmungou.

— Mas então. O que pretendes observando o mortal?

— Não sei. — respondeu Hoseok — realmente não sei. Ele é um grande adorador meu, claro, mas existe algo mais. Gosto de observá-lo, mas não sei o que fazer a partir daí.

No centro da escuridão do quarto, a imagem continuava a brilhar.

»

Jizi havia acordado incrivelmente doente aquele dia. Suas tosses pesadas ecoavam pela pequena casa amarela. Seokjin a encarava com ternura, alisando o topo de sua cabeça com uma mão. Além do seu olhar protetor e gentil, outra expressão tomava conta de seu rosto: preocupação. Ele não teria como conseguir os remédios na pequena cidade se a doença se agravasse.

— Não se preocupe tanto comigo, Jin — sua irmã murmurou — Ficarei bem. Sério. — ela completou ao perceber o olhar incrédulo dele — vá para o templo. Reze um pouco e depois vá trabalhar. Não se dê o luxo de se preocupar.

Ele suspirou, encarando a irmã mais velha. Entretanto, não poderia discordar. Se levantou lentamente e deixou o quarto, o olhar relatando em deixá-la.

Quando saiu da casa, sentiu o sol forte das duas horas em sua pele. Jin caminhou entre as plantas e chegou a pequena casinha que seus pais um dia haviam construído. Ignorada já por milênios pela maior parte dos povos, a mitologia grega como religião ainda vivia na família Kim, produtora de vinho, que ofereciam suas preces principalmente para Apolo e Dionísio. Jin teria que admitir, que com as tragédias que estavam recentemente se agravando a sua família, ele passara a duvidar do poder das entidades. Mas sua irmã nunca poderia ouvir isso, religiosa como era.

As tábuas claras rangeram quando entrou. Fosse pela porta estreita ou pela falta de janelas, o lugar tinha o poder de se separar completamente do calor animado lá fora. O lugar era úmido e silencioso, a temperatura baixa como se frio emanasse do chão. Iluminados pelos raios de luz que conseguiam entrar, flocos de poeira flutuavam dourados. Ele chegou perto da mesa rústica e pequena, único móvel do lugar, e se ajoelhou.

— Apolo, venho sem floreios — sussurrou, apertando os olhos — por favor, deus do sol. Me ajude. Cure minha irmã. Beneficie a colheita. Por favor... — ele sentiu uma lágrima salgada escorrer, e rolou os olhos mentalmente. Ultimamente, a água parecia escorrer de seus olhos aleatoriamente, toda hora. — por favor me permita acreditar solidamente em você. Por favor.

Então, se levantou e acendeu a vela derretida na mesa. Saiu pela porta com um pulo e esticou o pescoço, suspirando. O calor já fazia os suor começar a escorrer. Encarou a linha longínqua do horizonte, pensando na cidade e no que ela tinha a oferecer. Sozinho, ele poderia facilmente começar uma vida nova lá. Mas ele não poderia deixar sua irmã naquele lugar. Não poderia.

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NARCISO | MYG + PJMOnde histórias criam vida. Descubra agora