a partida

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Dois meses depois... aqui estou. Vcs devem me odiar kkkkk

Yoongi sonhou com um rio.

Era uma imagem simples, mesmo que bonita. O rio, cristalino e de corrente rápida, corria por uma ribanceira de terra vermelha. No fim do declive, havia um bosque, dentro do qual o rio se perdia. O deus caminhou até o rio e encarou a água agitada. Seu reflexo era confuso, mas era óbvio que não tinha aparência humana — era, na verdade, um gato de pelos negros lustrosos e olhos verdes. Não se alarmou por isso, entretanto. É comum para os deuses assumirem outras formas.

Quando levantou a cabeça do reflexo, se deparou com pés na margem oposta. Os pés vestiam tênis Adidas e eram acompanhados por pernas fortes. O Gato-Deus levantou sua cabeça e se deparou com um menino bonito, de cabelos escuros e feições agradáveis.

— Olá — disse o Gato-Deus

— Olá — respondeu o menino, com a maior naturalidade.

— O que faz nesse pedaço de mundo? — Perguntou o Gato-Deus ao Menino-Mortal.

— Procuro por algo que há muito perdi. E você?

— Sou um deus. Nós estamos em todos os pedaços de mundo.

— Ah sim — respondeu o Menino-Mortal — Conheci um deus, faz um tempo já. Nada bom veio desse encontro. Você não se importa se eu preferir ir-me, não é?

— Claro que não — respondeu o Gato-Deus — Você tem a liberdade de ir para onde e quando for que quiser.

— Sim, sim. Muito obrigado.

E o Menino-Mortal cruzou o pequeno rio em apenas um passo, e começou a ir embora.

— Ei! Menino! Espere um momento! — chamou o Gato-Deus. Um de seus sapatos havia caído no Rio. O menino não esperou. Apenas continuou indo e indo e indo até desaparecer, com o pé direito descalço. E o Gato-Deus não conseguia sair da margem do rio. O tênis se foi com a corrente.

— Eita — disse um passarinho, pousando na margem oposta, onde antes estiveram os tênis Adidas — Parece que os deuses também podem ficar presos em um pedaço do mundo!

O Gato-Deus se irritou. Logo, tinha o passarinho morto em suas patas.

— Oh Não! — lamentou Yoongi, voltando à sua forma humana — O que foi que eu fiz!

Só então percebeu que o passarinho era pequenino, prateado e cego — era um planador do deserto, sua ave símbolo.

— Ô
— Ei
— Yoongi?

O deus acordou como quem emerge de águas turbulentas. Demorou alguns segundos para se lembrar de tudo que aconteceu, se lembrar por que estava deitado na areia com uma caixa ao seu lado.

Hoseok estava em pé ao seu lado.

— Conseguiu dormir? Essa é uma novidade.

Yoongi suspirou e se levantou. Então, de repente, toda a areia foi limpa de suas roupas — calças jeans pretas, camisa de seda preta e uma jaqueta de lona, adivinhe, preta — além de uma mochila ter aparecido em suas costas, para onde a caixa foi, carregando a estalactite e o narciso.

— Não vamos fazer disso um hábito. Nos só temos até o outono. Não posso perder tempo apagado. Espero que seu mortal esteja ciente disso.

— Ele não é meu mortal. Não sou dono dele. E de onde você tirou que temos só até o outono?

— Meu pai me visitou ontem à noite. As parcas deram uma profecia a ele. "Por caminhos sem destino e rios sem curso, carrega a brisa pútrida a juventude, em jornada mais longa do que ela espera. Vem nela a arte, a dor, a morte e a verdade, na forma de dois deuses. Quando Perséfone volta para casa, um encontra a paz em braços quentes e ao outro só resta o gelado de um cadáver."

Hoseok suspirou e esfregou as têmporas.

— É bem direta essa profecia, huh? Pouco espaço para interpretação. Suponho que profecias confusas e enigmáticas sejam só para os heróis. Aos deuses resta a certeza.

— Bem, você é o deus das profecias, não é?

— Sim. Eu gosto de as dar, não de receber.

Com um suspiro, os dois deuses começaram a caminhar na direção da casa. Seokjin estava já em pé, encostado na grande porta de madeira.

— Então... eu nunca viajei antes. Principalmente não para o submundo. Como fazemos?

— Yoongi é o príncipe ctonico. Suponho que ele possa só abrir um portal? — respondeu Hoseok, se virando para Yoongi com uma sobrancelha levantada.

— Para que? O submundo já está puxando seu namorado para lá. Só pare de usar sua magia segurando-o aqui.

— Eu tenho nome, sabe? — interrompeu o mortal. Yoongi o ignorou.

O outro deus mudou seu peso de uma perna para a outra desconfortavelmente. Seu olhar se perdeu no mar por alguns momentos.

— Tem... uma diferença entre viajar para o submundo e ser puxado por ele.

— Tem sim. Certamente o submundo puxará Seokjin — Yoongi se virou para este com uma expressão de "Satisfeito?" Ao dizer o nome — para a sala de julgamento. Mas eu sou o príncipe da Terra dos Mortos. A partir desse ponto, podemos viajar livremente.

— Você já sabe nosso destino? — Perguntou Jin.

Yoongi suspirou. A estalactite e a flor pareceram pesar como chumbo em sua mochila.

— Sim. Sim, eu sei.

NARCISO | MYG + PJMOnde histórias criam vida. Descubra agora