um de varios fins

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Yugyeom achou que estava morto.

Quis gritar, mas não conseguia. Quis chorar, mas não conseguia. Sabia que seu corpo não era mais humano. Sentia como alterou-se. Sabia que já não era mais o que antes fora.

Sabia que, se ele decidisse abandonar completamente quem era, poderia. Poderia apenas se desviar para uma vida sem humanidade ou paixão ou dor. Só água. Água e ar.

Então, uma voz ressoou em sua cabeça.

Ei, mortal. Jungkook não vai ficar nada feliz se você se transformar perpetuamente.

E, simples assim. Tudo fez sentido. Ao seu redor, haviam três outros golfinhos. A luz do sol penetrava pelas ondas em múltiplos raios. Corais coloridos decoravam a areia. Um cardume de peixes passou por eles em velocidade impressionante.

Tá. Disse a voz. Precisamos voltar antes que vocês derretam.

Aquele mundo mágico, pintado de todos os tons de azul, decorado por corais e luzes e peixes, todo aquele mundo desapareceu como se alguém tivesse aberto um ralo. A alta grama os abraçava novamente, e o sol brilhava no mesmo ponto em que brilhara.

— Que... que porra acabou de acontecer? — perguntou Lalisa. Jungkook sorriu em sua direção, com leve timidez.

— Bem. Esse é Taehyung. Ele é meu namorado, e também é filho de Dioniso.

O semideus apenas abriu um sorriso e levantou os dedões.

— Dioniso — repetiu Yugyeom — Tipo, Dioniso. O deus.

— Precisamente — ele concordou, com um sorriso radiante e confiante — Ele mesmo.

— Dioniso.

Yugyeom teria arregalado os olhos, puxado Jungkook para longe dali e chamado a polícia. Mas estivera em meio à corais e cardumes saltitante apenas minutos atrás. O sol se deitava sobre o semideus, se deitava com cuidado e reverência. Um leve cheio de uvas maduras emanava dele, e se fortalecia com cada movimento. O mundo se inclinava e contorcia na direção de sua pele dourada. Seria ele o louco de negar a magia que dançava em volta dos contornos musculosos dele.

— Eu sei que é insano — Jungkook se apressou a falar — Sei que deve parecer loucura. Mas é a verdade, é a verdade, eu juro por De... Talvez não por Deus, mas...

— Calma — disse Lalisa — Respira.

— Nós acreditamos em você — disse Yugyeom — É claro que acreditamos. Se alguém ia pegar alguém divino, esse alguém seria você, seu galinha de merda.

Jungkook encarou os dois cautelosamente por alguns segundos. Então, explodiu em uma risada, jogando o tronco contra a terra quente. Seu namorado semideus o acompanhou, e o som de seu riso lembrava cheios cachos de frutas em uma ventania. Ao redor dos dois, uma espécie de bolha parecia brilhar, carregada de algo mais divino do que um semideus. E todo o mundo era dourado.

Yugyeom sorriu. E Lalisa se juntou ao riso. E logo estavam todos rolando sob o sol como crianças que cresceram demais, em um êxtase dionísico.

Eu acredito em você, Jungkook. Quando o mundo brilha assim, como posso não acreditar?

Em meio a luz rósea de um amanhecer eterno, Afrodite sorriu enquanto comia uma maçã.

— Fim — ela sussurrou, saboreando aquela palavra densa nos lábios. "Fim", três letras pingando com morte, paixão, delírio, tragédia, amor e sexo.

E melancolia também. Sua cabeça não se afastava da estalactite em uma caixa e no corpo de seu filho transformado em flor.

Eu sei. Quatro meses por um capítulo desse tamanho? Eu queria poder ser mais rápida e escrever mais, sério, mas tá foda. Mas estou tentando voltar a ser ativa por aqui!!

NARCISO | MYG + PJMOnde histórias criam vida. Descubra agora