A filha do Numismático

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                  Parou no umbral do antiquário e num giro de 360º foi captando com o olhar todos os pertences e, distraído a admirar um lustre datado do século XII, tomou um susto que o deixou paralisado diante a impactante beleza de uma moça que lhe atendeu simpaticamente. 

- Bom dia, o que o senhor deseja?

O lugar era bem iluminado e organizado, mas parecia uma das salas de algum castelo de Weimar. As paredes lhe mostravam certas texturas modernas, o que dava mais charme ao ambiente.

Engasgado, com as palavras, ele soltou vogais tremidas acusando assim o seu nervosismo. Ela prontamente lhe interrompeu e disse:

- Está tudo bem contigo? Quer um copo com água?

 Em seguida, ela continuou, num riso angelical citou Freud:

- Que te passa?

O individuo respondeu:

Estou bem! Obrigado.

Ela interpõe: 

Percebo que não tem o hábito de visitar antiquários, estou certa?

 Ele a responde, agora com mais segurança:

- Tão certa quanto a sua beleza!

 Retrucando ela diz:

- Engraçadinho! Faz isso com todas?

 Todo sem jeito, novamente nervoso, solta: 

- Me desculpe! Eu não tive a intenção, quero dizer... tive! Mas garanto que não foi da forma como imaginas. Ou foi?... Desculpe-me por ter sido tão sincero. Devo ir agora! Ai meu Deus, sou um louco!

Ela rapidamente o interrompe, e com o riso preso, diz:

 - Creio que ainda não tenha perguntado o meu nome!

Olhando nos olhos do sujeito, ela alcançou com as mãos um retrato e passou a observá-lo, não mais de forma a adorar, mas com o ar de quem queria dizer algo e que, o personagem da fotografia tinha repleta influência sobre o assunto. Com lascívia ela se inclina no balcão e diz:

 - Quer saber algo sobre mim?

Ele mais nervoso e excitado, responde:

 - Sim. Adoraria!

- Pois bem, começarei pela história do meu pai.

Frustrado com o balde de gelo em sua excitação, diz:

 - Mas porque não falar de você primeiro?

 Retrucou o moço. Ela destinada, diz:

 - Desculpe, mas é necessário. Somente assim você entenderá quem eu sou, mesmo que seja apenas em resumo.

 - Sem dúvidas você é muito estranha, apesar de bela é claro. Não quero que considere isto como uma ofensa, pois não é a minha proposta aqui, até porque este é apenas o nosso primeiro encontro.

- Não me ofendeu e isto aqui não é um encontro! Agora escuta.

- Sim, sou todo ouvidos.

- Ele era um homem dedicado ao trabalho, mal se divertia, não conhecia o amor. Em casa, era comum o entra-e-sai de mulheres. Em relação a mim, às vezes, tentava disfarçar o seu gostar e o máximo movimento que conseguia realizar para tal demonstração, era uma simples seqüência de três toques nos meus ombros, seguidos da frase: 'Como vai querida. ' E antes que eu abrisse a boca para respondê-lo, ele desaparecia dentro da própria casa. É um sujeito que de tão alto calçava 46. Tem olhos escuros, cabelos lisos ondulados, lábios finos e nariz típico dos arianos. É talvez, o mais bem sucedido empresário da região. 'Pelo menos nisso devo admitir o seu talento! ' Começou cedo a investir no comércio de Weimar. A principio trabalhou como balconista de um armazém próximo a escola de música Liszt. Não passou muito tempo como empregado e, logo decidiu arriscar na carreira solo. Alugou um espaço, não muito grande pois o dinheiro era pouco.

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