O Comissário de Polícia

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Thomas Becker é um homem ríspido e um tanto arrogante, mas impecável em seu dever. Alias, podemos chamá-lo de mestre da investigação, um Poirot alemão. Desde que assumiu a polícia, a cidade manteve-se em primeiro lugar em Segurança dentre todas da Alemanha.


O crime no Luterhaus o deixou boquiaberto, quem em sã consciência ousaria testá-lo? (Pensou ele)

A delegacia

A delegacia ficava a três quadras do museu. Jardim em frente, rampa para cadeirantes, escada com poucos degraus e um corrimão. O prédio possuía um ocre recém pintado. Duas viaturas em prontidão para qualquer ocorrência. Na parte de dentro, uma simpática agente fazia o atendimento prévio, enquanto que, a esquerda um corredor levava à sala do inspetor. O aquecedor precisava apanhar e muito para ser bem sucedido em sua função de esquentar o clima local. O seu birô ficava em frente a porta e em sua lateral uma mesa com um desktop que tinha o seu teclado maltratado pelas mãos pesadas do escrivão que se sentia um deus ao digitar  os boletins de ocorrência.

Voltando ao corredor, seguindo, 3 celas a esquerda intimidava, mas apenas um preso era possível ser visto, por se tratar de uma cidade pacata, o tipo comum era encontrar e deter valentões por se meterem em brigas de bar.

O comissário saiu as pressas, esquecendo o quepe sobre a mesa, avançou até a porta de saída, enquanto que, dois dos seus mais fiéis policiais tentavam alcançar seus passos que iam de encontro a sua viatura.

- O que passa, senhor? - Com olhar de espanto e indignado por não ter feito nada para evitar, ele responde:

- Uma tragédia, meus caros, um brutal assassinato, algo jamais visto nessa cidade, nem mesmo quando os nazistas estavam no poder. - Respondeu com lágrimas sendo sustentadas pelos seus olhos, prestes a um salto.

- Mas quem foi ou quem foram as vítimas? - Indagou Ganz, o agente que sentava no banco detrás.

- Senhor Hermann, o diretor do Luterhaus. Os lábios do comissário respondiam através do retrovisor da viatura.

- Santo Deus, eu o conhecia! Lembra Eisenreich? Zombávamos dele por ser obeso, mas sabíamos que era uma boa pessoa, impossível de eleger inimigos, pois ele não se importava. - Disse o agente Noll, com ar de preocupação.

-Escutem bem, até segunda ordem, todos os que trabalham ou visitaram o museu desde o dia anterior ao crime serão considerados suspeitos. -Disse o chefe aos seus dois agentes.

- Falkner, você se encarregará de periciar o livro de ponto, as fitas das câmeras de segurança e de traçar o perfil dos mais prováveis suspeitos. Faça a sua triagem que depois farei a minha. Use o seu bom faro detetive. - Ganz, querendo mostrar serviço, pergunta ao seu superior:

- Mas e quanto a mim? Em que posso ser útil? - O disperso policial viajava em seus sonhos acordado, alimentando toda a sua vaidade, imaginando-se falando em coletiva para a imprensa e sendo condecorado pelo Chefe de Estado da província.

- Encarregue-se de tirar as fotografias, isolar o local, apanhar amostras de sangue e saliva, fazer as devidas marcações e, claro, fazer de tudo para evitar que a imprensa meta o seu bedelho, pois podem atrapalhar e muito nas investigações. E digo mais, esta é a minha jurisdição, não quero intervenção de ninguém, exceto os membros da nossa corporação. - Com orgulho ameaçador, proferiu as instruções aos seus comandados.

- Fui claro, Ganz e Falkner? - Disse o chefe com olhar fuzilador.

- Sim, senhor! - respondeu os agentes em coro.

- Quero que tudo permaneça em seu devido lugar, sem qualquer alteração. Nem mesmo um papel que considerem lixo, deve ser retirado desta cena.

- Preocupado com o corpo, sem falar é claro, do seu medo de encontrar o fantasma do morto, Ganz pergunta-lhe:

- Até quando ficará o cadáver do diretor neste local? Quer que eu chame um outro agente pra cuidar do presunto ou o rabecão para transladá-lo até o necrotério, enquanto realizo as tarefas ordenadas a mim? 

- Está com medinho, Ganz? Você é um homem ou um rato? - O agente em pensamento afirmou que era um rato, mas em voz alta externou:

- Claro que sou um homem, meu senhor, essas coisas não me afetam. - Disse Ganz mirando os olhos bem arregalados do morto. Jesus, que é isso! - Exclamou assustado.

- O corpo ficará aqui até quando eu quiser, não confunda nossa amizade, não gosto de insubordinação, fui claro o suficiente? - Respondeu-lhe com tom seco.

- Tão claro como águas cristalinas. - Encerrou.



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