Consumação

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A minha distração não demorou muito para ser interferida por uma voz suave e com cheiro de vinho bem perto do meu ouvido esquerdo. Neste instante o meu sangue começou a ferver. Ela me deixava cada vez mais dependente do seu ser. Sentada ao meu lado, logo movimentou as suas mãos ao encontro das minhas. Ao tocar-lhe as carnes dos dedos pude perceber a grandeza da sua energia. Ao tocar-lhe despi-lhe-ei em meus devaneios e dei ênfase a um desejo que nutri desde que a conheci. Percebendo-me incomodado e um tanto sem jeito por sentir sua macia e cheirosa epiderme roçando na minha, ela investe um beijo quente e molhado no canto esquerdo do pescoço, sobe a sua boca lasciva até o glóbulo de uma de minhas orelhas e, morde-me a atiçar os mais loucos suspiros. Minha espinha se contrai, enquanto que meu oculto membro rijo procura sedento o seu alimento. Descontrolado, agarrei-lhe a nuca e beijei-a de forma a parecer uma fera arfando o seu desejo após horas no cio. Sua pele ruiva, seus cabelos vermelhos e seus lábios carnudos faziam dela uma mulher de beleza ímpar. Mesmo que existissem outras ruivas, nenhuma seria tão bela e desejada quanto Anne. Beijar-lhe o colo era como despir a ternura. Arremessei o seu cachecol vermelho ao chão de forma branda e lenta como a compor uma canção New Age ou um corpo a morrer. Tirei-lhe a camisa e também o seu jeans que bem contornava as suas belas formas. Desci minhas mãos por suas curvas, tal qual uma das formosas esculturas de Rodin, o seu corpo irradiava beleza.

O ritmo foi ficando cada vez mais frenético. Gostava de ouvir o seu sussurrar em meus ouvidos pedindo-me para ser consumida. Aos poucos, fui tirando o seu sutiã e desvendando-lhe mais e mais o íntimo. Os seus seios eram como peras sedentas para serem mordidas. O fruto do jardim do Éden estava diante de mim, não tinha como resistir! Não era preciso resistir pois a presa ansiava ser devorada. Molhei-lhe os bicos e, por instantes, senti-me como uma criança novamente. Sua pele tinha um gosto doce, talvez fosse o gosto de algumas flores, mas sim, havia cravo e hortelã em sua composição. Deitei-lhe-a no sofá. Ela não soltava os braços de mim a ponto de ferir-me com as suas garras. Mirando os meus olhos, movimentou os seus braços e começou a tirar a minha camisa de botão de forma voraz e arremessou-a sobre o sofá. Mordeu-me os lábios e num riso sedutor anunciou que iria me morder do pescoço ao meio com intenção de me deixar cada vez mais louco. Escorregando suas finas mãos sobre o meu corpo não muito atlético, suas presas famintas desceram rumo aos botões e zíper que aprisionavam a fera. Ao chegar ao meio, ela soltou o grande botão e desceu, lentamente, o zíper do meu jeans. Despido diante da amante, só me restava o tecido final -a bandeira da paz com função de impedir a guerra de corpos. Cravou suas mãos sobre minhas pernas e com sua boca desvelou-me por inteiro. Ajoelhada diante de mim, olhou para cima a tentar visualizar o meu rosto e dizer-me atentamente, que era minha, somente minha. Senti-me um rei, enquanto ela cumpria com eficácia as suas reverências. Logo, agarrei-lhe os braços e a fiz subir. Virei seu corpo de perfil e logo lhe tirei a delicada seda em cor rosa que abraçava-lhe a fenda - o portal para mundos paralelos ou a flor de lótus em seu majestoso orvalhar. Fui abrindo espaço por entre suas pernas para que eu pudesse me encaixar, pois estava ansioso para me molhar em seu mar revolto. Naquele momento, me senti o deus Heros a cravar-lhe sem dó a minha espada... Não tínhamos a preocupação de que alguém pudesse nos observar ou até mesmo, vetar a nossa tão desejada consumação. Ela acreditava estar provida da segurança, pois só havia eu, ela, e um homem bêbado e desmaiado debaixo de uma ducha no banheiro do escritório. O seu pai! Enfim, estávamos sim seguros.

(Após o ato de prazer, Vogel e Anne sentiram-se selados, onde a atenção e o compromisso começariam a fazer parte do casal. Entregue a devaneios, por alguns segundos, ela viu em sua mente cenas de um ambiente familiar. Ela: a mãe, e ele: o pai de três crianças lindas. A sensação que tocava-lhe o peito era a de que ele fosse o homem ideal para viver até envelhecer.)

Vogel extasiado sentiu-se mais confiante e com coragem suficiente para falar de si.

- Se importa em ouvir um pouco a meu respeito?

- Claro que não! O que quer me dizer?

- Tenho andado muito confuso ultimamente. Sou um jovem órfão que não sabe o que fazer da própria vida. Tranquei o meu curso de arquitetura na Universidade Bauhaus. Até a casa que é minha por herança decidi deixar a minha espera para que pudesse usufruí-la somente quando me sentisse preparado. Tal qual você, também sinto falta da minha mãe. Dizer isto desta forma me deixa até mais vulnerável. Por favor, não me entenda mal! Apenas quero repartir contigo o que estava preso na minha garganta que só agora tive coragem de revelar. Também não tive afinidades com o meu pai. Prefiro viver enjaulado invés de viver num ambiente que só me trará lembranças negativas.

- Vogel!

- Sim! O que Foi?

- Quantas mulheres já passaram em sua vida? Já amou alguma delas? Ainda gosta de alguma?

- Não sou um homem de muitas mulheres. Posso dizer que só amei e me deitei com apenas uma.

- Sério?

- Como ela era?

- Ah! Não acho conveniente falar de outra garota agora!

- Onde a conheceu? Poderia falar pelo menos isto?

- A conheci aqui mesmo em Eisenach. Ela era estagiária no Museu de Bach. Nosso relacionamento não durou muito tempo. Pois a garota tinha o péssimo habito de só fazer amigos homens. O pior é que ela ia na casa deles e tudo. Não pude aguentar tamanhas provocações!

- Você é ciumento?!

- Não! Acredito que não. Por quê?

- Você é sim ciumento. Seu bobo!

- Não sou nada! Apenas devo zelar da minha parceira com o máximo de atenção.

- É o que eu sempre quis! Sabia?

- Atenção?

-Sim! Isto mesmo.

Com o olhar de ternura ela diz:

- Vogel, sei que é cedo para te dizer isto, aliais, tudo entre nós tem sido precoce. Gostaria de dizer que estou fascinada por você. Gostaria de tê-lo como algo a mais em minha vida, não gosto de jogos, quando me envolvo com alguém é pra valer.

- Anne, você é mesmo maluca!

- Você não me quer, Vogel?

- Claro que eu te quero! Estarmos juntos será bom para ambos. O deserto dos nossos corações será finalmente preenchido.

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