Solidão (Revisando)

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Em revisão, espero a compreensão de todos!

O numismático é o meu primeiro projeto de romance. Iniciei em 2009, mas deixei trancafiado na gaveta por um bom período. Finalmente resolvi voltar a trabalhá-lo, e com a descoberta da plataforma wattpad, compartilho com vocês o meu processo criativo.

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Trancafiado no escritório de sua residência, iluminado apenas por um abajur de mesa, tinha o olhar atento ao jardim que se mostrava por detrás do vidro da única janela daquele cômodo. Sorriu largamente a deixar notório um contentamento por mais uma conquista alcançada. Seus olhos irradiavam o fogo do poder. Em sua maleta de couro envernizada, fez surgir uma micro caixa de metal com travas em segredo. A peça israelita era sua, uma nobre diante toda a coleção até o momento . Apesar de possuí-la, sabia que muitas outras de igual e maior valor ainda precisavam ser conquistadas.

Sentou em sua poltrona e num breve movimento do braço esquerdo, alcançou uma garrafa de whisky e começou a beber pelo gargalo. Desta forma, Heric Steinberg ritualizava os seus progressos.

Os seus olhos se desviaram bruscamente e num espanto, viu um livro aberto ao meio que citava latim:

 "Amicos secundae res optime parant, adversae autem certissime probant." 

            "O sucesso proporciona, da melhor maneira possível, amigos. O fracasso, com toda a certeza, os põe à prova."

Perturbado com o tal provérbio, buscou saber quem tinha dito, a seu ver, até aquele momento, tal tolice. Indignado pelo incomodo que lhe atingia a mente, descobriu que o autor era o filósofo e dramaturgo Sêneca. Num monólogo enfurecido o Sr. Steinberg desabafa:

- Onde está a sabedoria de tal frase? Isso que este folhetim diz não faz sentido, é um disparate. Eu tenho sucesso, tenho poder, e mesmo assim ainda me faltam amigos sinceros e leais. Gosto de afirmar que tenho somente conhecidos. Os homens são falsos até a alma. Ou melhor, não acredito que a alma ainda exista. A ganância da humanidade a fez morrer!... Mas o quê estou dizendo? Sou parte deste universo, também não devo ter alma! Mas a quê isto importa? Eu não devo satisfação a ninguém. Deus para mim já não é mais o mesmo. Onde está minha família? Tenho uma linda filha que mal me compreende. E você? Quem é você para tentar-me a atos de reflexão. Creio que pior que a minha situação, é a sua, pois ela é altamente lamentável. Você é um homem pobre em que tenta afirmar certa sabedoria, utilizando-se dos sonhos e das dores dos outros. Você é o assassino da tranqüilidade. Sêneca, você é um porco nojento! Vou destruí-lo, pois só assim nunca mais ousara perturbar o meu equilíbrio. Eu não estou desequilibrado! Não pense que estou derrotado. Vou queimá-lo assim como os hereges eram queimados nas fogueiras. Adeus Sêneca, deus!

Jogou o livro na lareira e num tropeço quase foi junto ao objeto que lhe causara tanta fúria. Ele por vezes, tinha alterações momentâneas de temperamento. Era um ser imprevisível. Mas sempre frio!... isto era a única coisa que não mudava em seu comportamento.

Já passara das duas horas da madrugada. Com olheiras de um perfeito sonâmbulo, sentou-se ao chão na frente da lareira e com os olhos bem atentos ficou assistindo as belas imagens formadas pelas chamas. Dormiu estirado no chão como um bêbado na sarjeta.

Abriu sem pressa a porta da sua casa, à direita, alcançou e acionou os interruptores que logo deram luz. Olhou atentamente todo o espaço antes de começar a sua seqüência de passos como de costume à cozinha. Tudo estava em ordem!... O silêncio pairava pelo ambiente. Mas não era comum quando ela tinha plena convicção de que seu pai estava por lá. Minutos atrás, ao estacionar o seu relicário fusca, viu o Mercedez do velho sobre o gramado do jardim, com as portas escancaradas e o som ligado em volume baixo. Zunindo propagandas do Governo de Thüringen.

Amigos! A nossa Alemanha vive dias de glória depois de ter passado um longo tempo sob o domínio da poeira negra que modificou por tantos anos, o ar da nossa moral. Thüringen, a nossa província amada e respeitada, recebe hoje um conjunto de centros de saúde divididos em nossas principais cidades, como por exemplo, Weimar, a nossa cidade modelo que é tão bem admirada pelos turistas que aqui chegam a procura da boa e bela arquitetura e também em busca de um povo hospitaleiro e inteligente.

- Pai, o que aconteceu contigo? Pai. Fala comigo, por favor!

Olhou a garrafa de whisky, cheirou o seu hálito e logo deduziu que ele estava embriagado. Tentou levá-lo ao banheiro mais próximo. Não tinha costume de usar a força, mas neste caso foi necessário, pois só havia eles em casa. Com sucesso, o levou ao chuveiro e ligou com gosto a ducha a ponto de fazê-lo despertar para que não se afogasse.

- Por que bebera tanto? Que aconteceu contigo? Nunca o vi assim? Apesar de nunca o ter visto alegre por completo, mas hoje foi diferente. O Senhor definitivamente não está em seu estado normal. Quer conversar comigo?

Sabe!... ninguém me conhece! Ninguém nunca vai me conhecer profundamente. Um livro não pode tirar conclusões sobre a minha pessoa. O que você acha? Você acha que aquele livro idiota pode tirar alguma conclusão sobre mim? Vadia, a sua mãe nunca me deu o que eu queria. Era tão simples. Por que você nasceu. Eu queria um menino e não uma menina!... Saco, Por que você ainda está me ajudando depois de tudo isto? Por quê?

- Eu sou sua filha, quer  você queira ou não!

O NumismáticoOnde histórias criam vida. Descubra agora