Rudolf

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             Rudolf escondia bem os seus segredos. Quando adentrava em seu escritório fuçava gavetas secretas e tirava do assoalho caixas de madeira e maletas de couro. O que Friedrich não conhecia sobre o seu avô, estava ali, bem guardado e empoeirado. Fácil, talvez, de ser imaginado. Aqueles que hoje são os idosos deste País, no período mais sombrio da Alemanha, pertenciam a algum lado da história, e o que mais perturbava, era que ele não tinha o perfil para ser uma das vítimas do holocausto. O que fazia então? Não sabemos ao certo, mas tudo leva a crer que o velho foi um dos grandes contribuidores da máquina mortífera conhecida como nazismo.

Seus olhos pesados e lacrimejados, embaçados pela catarata, miravam a comenda que lhe fora outorgada em seus tempos de glória. A Cruz de Ferro, pesava em valor simbólico diante das demais. As suas lágrimas eram tímidas, talvez, se sentissem prisioneiras dos seus olhos inquisidores. Mas será? Como se explica a boa relação que nutria com o seu neto? Ele não parecia um monstro, não apresentava nenhum sinal que o comprometesse, apenas se transformava quando se via sozinho e trancafiado. Quem sabe este narrador tenha se enganado, o velho Vogel estava mais para um lobo em pele de cordeiro. Mas não é chegada a hora de afirmar, continuemos...

Usa quase sempre calças pretas engomadas, suspensórios de couro assegurados com presilhas. Camisa de linho branca e uma gravata também preta, a preferida dentre as demais. Branco e com a pele um pouco escamosa por conta da idade, seus 85 anos não lhe fugiam do rosto. Os seus lisos cabelos possuem o tom da neve. Os alpes suíços parecem estar em cima da sua cabeça. Suas sobrancelhas são arqueadas, os seus olhos são verdes vivo, o seu nariz é torto tal qual o do seu neto, e os seus lábios são finos, quase não os possui, ele é um típico sujeito "ariano".    

O NumismáticoOnde histórias criam vida. Descubra agora