*CAPÍTULO 10*

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Ariella Young

Entro na casa da Manuela ao lado do Nicolas. Tiro as sandálias antes de continuar. Todos os cômodos já se encontram escuro. Corro para a escada, as pressas, sem fazer barulho. Não quero acordar Manu que já deve está dormindo. Daqui a pouco vai dá quatro horas da manhã. Subo os degraus silenciosamente.
O beijo do Nicolas ainda continua se repetindo em meus pensamentos por diversas vezes. Dessa vez, foi bem intenso. Minha nossa! Beijei três pessoas em um só dia. Que loucura.
Subo a escada com cuidado para não escorregar me deparando com a Manu no corredor falando ao celular. Pelo seu semblante não deve ser algo tão bom. Paro de andar a espera do Nicolas que sobe a escada logo atrás de mim.
- Está bem... Ela já chegou... Vou passar o recado, beijos. - Manu avisa tocando na minha mão para atrair minha atenção.
- Vou tomar um banho. - Nicolas me avisa indo para o quarto direto. Assinto. Meus olhos fitam Manu que encerra a chamada entristecida.
- O que foi? - Pergunto, preocupada.
- O Sérgio não conseguiu te ligar. Parece que você precisa viajar para o Rio de Janeiro imediatamente. As gravações precisam ser adiantadas lá devido alguns imprevistos.- Manu explica de braços cruzados.
Franzo a testa.
- Nossa! Vou precisar comprar as passagens hoje mesmo. Será que deve ter? - Pergunto, pensativa.
- Acho que sim. - ela responde com os olhos cabisbaixos. Pela sua expressão sei que não está bem. Dou um passo em sua direção. Abro um sorriso compreensivo.
- Não parece muito... Feliz... Com a notícia. - eu disse, pausadamente. A vejo soltar um longo suspiro antes de dizer alguma coisa.
- Estou muito feliz por você, Ariella. Acredite. Só não queria que fosse embora tão rápido. Sentirei saudades de vocês. - ela se emociona. Sorrio, dando-lhe um abraço.
- Ei, desse jeito vai me fazer chorar.- sussurro controlando as lágrimas.
Não tenho palavras para descrever cada momento que passei aqui em Salvador. Descobrir coisas novas. Lugares, comidas, cultura, amizades... Não tenho como descrever a importância de tudo isso na minha vida. Jamais vou esquecer. Estar com pessoas especiais torna o passeio ainda mais inesquecível. Sua cabeça esta apoiada no meu ombro.
A ouço chorar.
- Temos notícias ruins? - Nicolas pergunta preocupado assim que sai do quarto. Ele está usando uma camisa preta, e uma calça de moletom marrom. Permaneço em silêncio.
- Vou sentir sua falta. - Manu se afasta indo abraça-lo aos prantos. Dou um sorriso entre as lágrimas.
- O que houve? - Nicolas insiste na pergunta. Seus braços envolvem Manu carinhosamente.
- Temos que ir para o Rio de Janeiro com urgência. Começarei as gravações. - Explico enxugando as lágrimas. Solto um suspiro profundo.
- Entendo. O bom que deu para conhecer vários lugares, não é?- Nicolas pergunta enquanto beija o topo da cabeça dela.
Assinto, pensativa.
- Como odeio despedidas. - resmungo, fazendo um abraço triplo.
- Espero que tenham gostado daqui.- Manu sussurra com a voz embargada.
- Amei. Você me recebeu de braços abertos e até me beijou desprevenida. perfeito. Obrigada por tudo.- eu disse com sinceridade sorrindo.
- Como assim beijo inesperado? - Nicolas pergunta perplexo.
- Eu que agradeço. Vocês sempre serão bem vindos. - Manu avisa, abrindo um sorriso entre as lágrimas que escorrem em sua bochecha.
- Vocês se beijaram? -  Nicolas insiste, pasmo. Começo a rir com a sua expressão de susto. Manu bate no ombro dele de leve e vai embora indo para o andar de baixo sem responde-lo. A vejo sorrir. Me encosto na parede e o examino demoradamente.
- Não vai me dizer nada? Vocês se beijaram e eu não fiquei sabendo? Isso rolou que dia? - Ele perguntou boquiaberto.
- Por que a insistência? Calma, querido.- eu disse, sorrindo.
- A Manuela te beijou? É verdade? - ele arregala os olhos. Assinto, mordendo os lábios.
- Sim. Foi inesperado. Ela me beijou e eu fiquei sem reação... Não esperava.- respondo, pensativa. As cenas se repetem na minha cabeça. Nunca imaginei que beijaria uma mulher. Nunca pensei que isso pudesse acontecer comigo. Até porque sinto atração por homens.
- E pretendia me contar isso quando?- Nicolas pergunta ainda pasmo. Faço uma careta, e me aproximo dele.
- Só não te contei antes, porque não tivemos oportunidade para conversar. Está preocupado com o beijo agora?- Pergunto reprimindo uma risada.
- Só estou surpreso, Ary. Até as mulheres você consegue encantar. - Nicolas confessou com a mão no queixo. Sorrio. Entro no quarto para tomar um banho. Minhas roupas estão ensopadas. Tiro meu pijama de dentro da mala e olho as horas no celular. Três e meia da madrugada. Preciso tomar um banho e dormir. Só que antes tenho que da uma olhada nos valores das passagens.

~*~

Permaneço deitada com os olhos fixos para o nada. Nicolas dorme com os braços em volta da minha cintura depois de uma conversa sobre a ida ao Rio de Janeiro. É incrível vê-lo me acompanhar em cada etapa da minha vida. Toco em seu rosto com uma leveza para não desperta-lo. Ainda não consegui pregar os olhos e descansar. Já são cinco e meia da manhã. Pego o meu celular que deixei em baixo do travesseiro. Abro o Instagram para olhar um pouco a vida dos outros quando vejo um pedido de solicitação. Um rapaz bonito. Clico em sua foto para ver seu rosto.
Abro o perfil do rapaz. Começo a rir. As primeiras fotos dele são em uma praia, mas é fácil reconhece-lo. É o
Arthur - o rapaz que conheci na praia perto da minha casa nos Estados Unidos. Fico stalkeando seu perfil quando vejo Manu passar pelo corredor, voltando no mesmo instante ao me ver acordada. Preferir deixar a porta do nosso quarto aberta.
- Ainda acordada? Esta sem sono?- Manu pergunta em um cochicho.
- Estou pensando.- respondo com um sorriso triste. Mesmo que eu esteja feliz com a minha carreira a despedida sempre é algo que me entristece. Penso nas pessoas que devo conhecer no Rio de Janeiro. Será mais uma despedida depois que voltarmos para os Estados Unidos.
- Não quero que vá. Essa casa ficará vazia sem vocês.- sorrir ao ouvir suas palavras. Levanto-me da cama em silêncio, e saio do quarto.
- Por que não vai com a gente?- Pergunto encostando-me na parede do corredor.
- Não posso, Ariella. Tenho trabalho.- Manu explica, com um semblante triste.
- Os Estados Unidos estará sempre aberto para recebê-la. Não suma.- peço, dando-lhe um abraço amigável.
- Sério? - ela pergunta, perplexa.
- Sim, quero que conheça a minha mãe.- Digo, sorridente. Seus olhos encaram Nicolas que dorme feito um anjo.
- Ele cuida muito de você.- Manu murmura com um olhar carinhoso. Assinto. Sigo o seu olhar. Ele se ajeita na cama ficando de bruços e passa a mão no rosto sonolento.
- Se hoje me sinto renovada é por causa do Nicolas.- confesso ao lembrar dos momentos angustiantes que passei. Lembro que ele fez de tudo para me ver sorrir.
- As vezes precisamos passar por situações difíceis para ser moldados. - Manu comenta, pensativa. Assinto.
- As vezes, é pela dor que conseguimos ultrapassar... Os... Obstáculos... Para alcançar as grandezas da vida, não é? - eu disse, fechando os olhos. Em meio às lembranças amargas, dolorosas consigo me renovar todas as manhãs. Sendo uma Ariella diferente. Madura. Disposta a viver sem olhar o passado. Atendo-me a essa linha de raciocínio. Não quero ser pessimista como antes, o otimismo é meu melhor amigo.
- Vou na cozinha. Tente dormir. Pelo seu semblante você não dormiu nada.- ela suspira examinando meu rosto.
- É... Vou dormir um pouco. - afirmo, passando a mão na testa, cansada. Manu se afasta indo até a escada a passos curtos. Percebo seus ombros caídos. Exausta. Triste. Solto um longo suspiro, e entro no quarto novamente fechando a porta dessa vez. Deito na cama, silenciosamente. Observo Nicolas dormir. Elevo a mão até seus cabelos quando seus olhos se abrem me assustando. Dou um sorriso tímido.
- Está preocupada? - ele perguntou sonolento, ao tocar na minha mão. Desvio o olhar do seu.
- Por que acha isso? - me aproximo do seu corpo.
- Você parece pensativa e... Ainda não dormiu nada, não é? - Nicolas pergunta, erguendo a cabeça. O vejo conferir as horas no relógio do celular  bocejando em seguida. Fecho os olhos.
- Dormirei agora. - aviso.
- Terá que levantar daqui a pouco por causa do vôo. - sua voz rouca soa pelo quarto.
- Tudo bem. - eu disse, baixinho. Nicolas me abraça, satisfeito. E beija o topo da minha cabeça. Não sei as horas que o sono me alcançou. Dormir feito pedra nos braços do meu melhor amigo.

  Ariella (A proposta) - 2° LIVRO Onde histórias criam vida. Descubra agora