#CAPÍTULO 45#

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Ariella Young

Oliver destrava as portas do carro assim que nos aproximamos do estacionamento. Continuo andando devagar para evitar um possível deslocamento. Seus olhos me observam quando encosto em seu carro. Solto um suspiro de alívio. Cheguei com sucesso. Antes de entrar escuto uma voz masculina atrás da gente, e viro o rosto para olhar.

É o detetive Breno. Trabalhou no caso do assassinato, no caso do roubo do dinheiro da empresa nos Estados Unidos, e assumiu o caso da Munique sobre a substância tóxica colocada dentro dos vinhos. Percebo seus olhos arregalarem ao me ver. Está surpreso, isso é nítido.

- Fica no carro. - Oliver ordena, secamente antes de se afastar. Engulo em seco, e prefiro não protestar.
Sento no banco do carona quando meu celular começa a tocar. É a Ivy. Sorrio assim que atendo a chamada. Que saudade dessa minha japonesa.

Ligação ON.
- Minha vida. - grito a fazendo rir.
- Amiga! - Ivy grita de volta dando gargalhada.
- Gostei da ligação. O que me traz de bom? - Pergunto, sorridente.
- Tenho uma coisa para te contar. - ela fala, apreensiva.
- O que foi? - Pergunto dando uma olhada em Oliver que gesticula com raiva enquanto conversa com Breno distante do carro.
- Eu vi o Pedro novamente com a sua mãe na frente da sua casa. Eles conversavam baixo, e pude ver quando ele a entregou uma foto.
- Uma foto? Que foto? - franzo o cenho.  
- Era um menino. Sua mãe também entregou uma foto para ele, mas não consegui ver muito bem. - Ivy conta, nervosa. Passo a mão na nuca, pensativa. Não estou entendendo essa relação.
- Depois de conversarem, agora trocam fotos? O que significa? Ela está querendo adotar uma criança? - Pergunto, a fazendo rir.
- Eu não sei, amiga. Sua mãe até me viu quando passei na frente da casa dela, mas não demonstrou nada. Se estava nervosa ou não. Acredito que eles estão em um relacionamento sério. - disse Ivy, sorrindo. Bufo.
- Claro que não. Ela falou que tinha apenas o ajudado, não é possível que se apaixonaram naquele dia. É possível isso? - indago.
- Acho que sim. Não há outra explicação. - Ivy retruca.
- A vontade de voltar para casa só aumenta. Queria está presente nessas situações. - resmungo.
- Espero que você volte logo. Estou com muitas saudade de você.
- Eu também. - Ivy responde com voz de dengo. Sorrio, vendo Oliver se afasta do Breno que aparenta esta furioso. Desvio o olhar, rapidamente.
- Amiga, preciso desligar. Depois nos falamos. Beijos. - eu disse.
- Tá bom, amiga. Beijos. - encerro a chamada.
Ligação OFF.

Oliver entra no carro colocando a chave na ignição em silêncio. Ponho o cinto de segurança, e percebo o quanto está nervoso. Queria entender o motivo do Detetive Breno aqui na França. Será que tem haver com a fuga da Monique? Osmar ainda continua foragido. Quando  carro começa a se movimentar, decido saber de alguma coisa.
- Breno te falou alguma coisa em relação a Munique? - Pergunto, curiosa.
- Sim. - é a única palavra que sai da sua boca. Seu semblante sério demostra que está sem paciência para conversar.
- O que ele disse? - Pergunto, novamente tentando arrancar alguma informação.
- Deixa de ser curiosa, Ariella. - ele resmunga, irritado. 
- Eu preciso saber. - eu disse, em voz alta.
- Você não precisa saber. - Oliver responde, com frieza.

- Preciso sim. - Protesto, incrédula. Oliver nega com a cabeça sem dizer nada me deixando nervosa. Espero por alguns minutos. Nenhuma explicação, não... Não aceito isso. Se é sobre a Munique eu preciso saber. Fui vítima, fui acusada de assassinato por causa dela e tenho certeza que se ela tiver uma lista de extermínio, com certeza meu nome estará no topo da sua lista. Sei o quanto me detesta.
- Por que se ofereceu para me levar para o hotel? - Perguntei examinando sua feição.
-

Estou começando a me arrepender.- ele murmura, enquanto dirige.
- Se você não sabe eu também posso estar na mira dela. Preciso me precaver e me proteger. - eu disse.
- Você só precisa ficar calada até o hotel. - Oliver sugere, impaciente.
- Sua frieza não me surpreende.
Arrogante. - Murmuro virando o rosto para a janela. Ainda não consigo acreditar que estou dentro do seu carro e ao seu lado. Nem contei a Nicolas sobre o nosso reencontro que não foi um dos melhores. Assim que o carro vira uma rua, observo um edifício e noto uma mulher passar pelo portão de entrada. A semelhança é absurda. Parece muito com a Munique. Arregalo os olhos. A vejo entrar no edifício.
- Oliver para o carro. - Grito, sem tirar o olhar da portaria.
- Está louca? - ele pergunta, confuso.
- Para o carro. - Grito de novo o fazendo parar bruscamente, assustado. Abro a porta de uma vez e começo a correr sem me importar com o esforço que estou fazendo.
A única coisa que consigo ouvir atrás de mim é a voz do Oliver gritando para que eu parasse. Não o obedeci. Era ela... Só podia ser a Munique. Assim que me aproximo do portão paro ofegante caindo no chão devido o joelho fragilizado sentindo mais uma vez o peso do meu corpo. Deslocou, novamente.
Uma dor muito intensa e dolorosa. Não consigo ficar sentada. Deito-me no chão fechando os olhos para não chorar. Não acredito que isso está acontecendo de novo.
- Você é louca, Ariella? - Oliver exclama ofegante ao se aproximar. O porteiro do prédio corre na minha direção para me socorrer preocupado. Sinto meu joelho começa a latejar me deixando agoniada, e começo a chorar sem resistir. É uma dor inexplicável.
- Ela está bem? - O porteiro pergunta. Tampo o rosto com as duas mãos chorando. Eu não aguento mais isso.
- Acho que deslocou. - Oliver avisa enquanto toca levemente no meu joelho. 
- Está doendo muito. - sussurro, com dificuldade.
- Precisa levá-la ao hospital. - O porteiro aconselha.
- Mais que porra, Ariella! Por que você correu? - Oliver tenta disfarçar a preocupação.
- Vou chamar a minha mãe. - O porteiro avisa se afastando.
- Oliver. - Sussurrei sentindo muita dor.
- Que diabos estava com a cabeça para correr daquele jeito? Olha o que... - Ele continua brigando comigo, enquanto se agacha ao meu lado.
- Eu vi a Munique. - eu disse, o interrompendo. Ele ergue a sobrancelha completamente pasmo.  
- Você tem certeza?
- Não sei, mas se parecia muito com ela. Eu acredito que seja a Munique. Eu sei o que vi - confesso.
- Onde você a viu? - Ele pergunta olhando em volta.
- Nesse prédio onde o porteiro trabalha. - eu disse, voltando a colocar a cabeça no chão.
- O chão está sujo, Ariella. - Oliver avisa me segurando. Observo seus movimentos, e me surpreendo por vê-lo tirar seu paletó cinza rapidamente. Ele dobra em quatros partes e coloca embaixo da minha cabeça.
- O que ela tem? - Olho para o lado ao ouvir uma voz feminina. Uma senhora de cabelos grisalhos me observa atentamente.
- Ela correu e deslocou o joelho, mãe. Não se preocupe moça, ela é médica. - Diz o porteiro para me tranquilizar. Sorrio, em agradecimento.
- Vai sentir uma dor quando eu pôr no lugar, mas vai passar. - Ela diz, enquanto levanta a minha perna. Sem perceber seguro a mão de Oliver com força. Ele não se afasta, e fica mais próximo no momento que a senhora avisa que irá virar o joelho. Fecho os olhos assim que ela o faz. Sinto meu joelho voltar ao lugar em fração de segundos juntos com uma dor insuportável.
- Prontinho. - A senhora avisa,  sorrindo, e abro os olhos devagar deixando as lágrimas rolarem.
- Obrigada. - agradeço. Percebo pelo canto dos olhos os motoristas de Oliver que se aproxima disfarçardamente para não atrair atenção.
- Você vai precisar engessa-lo. - A senhora explica tocando no meu joelho.
- O quê? - Pergunto, preocupada.
- Você já deslocou quantas vezes hoje?- ela pergunta, pensativa.
- Duas. - Respondo, sem demora.
- E ainda não engessou? Peço que leve a sua namorada ao hospital urgente. Não pode ficar assim... Tente repousar e não se esforce. Se for possível não corra de novo. - a senhora aconselha, com um sorriso gentil. Oliver fica desconcertado com a definição que ela deu sobre nossa relação, mas nem eu e eles negamos o que foi estranho.
- Isso é sério? - Oliver pergunta, preocupado.
- Sim. É melhor. Porque se deslocar com frequência vai chegar em um ponto de ser uma fratura exposta. Para não acontecer... É melhor prevenir.- a senhora responde a mesma coisa que o médico do Brasil disse.
- Isso não pode estar acontecendo comigo.- sussurro.
Começo a entrar em desespero. Agora terei que parar de trabalhar com urgência. Engessar minha perna é substituição certa. Respiro com dificuldade sem perceber que Oliver está me chamando. Não consigo responde-lo.
- Leve a moça para o hospital. - Escuto a senhora dizer novamente quando sinto meu corpo ser carregado por Oliver que me leva apressadamente até o seu carro. Coloco o braço em volta do seu pescoço e fecho os olhos.
- O senhor pode me informar o nome da moça que acabou de entrar no prédio? - Oliver pergunta enquanto me coloca no assento.
- Qual prédio? - O porteiro responde.
- No que o Senhor trabalha.
- Ah sim. Realmente não sei informar. Ela não me disse. Apenas falou que era visitante e deu nome do morador.-Fecho os olhos me sentindo mal.  A conversa parece ficar mais distante.
- Que morador? - Oliver perguntou, desconfiado.
- Ei... Não estou me sentindo bem... Por favor! - Minha voz sai como um sussurro atraindo atenção do Oliver.
- Preciso ir. - Ele avisa para o porteiro que acena em gesto de despedida. Fecho os olhos, e encosto a cabeça no assento.
- O que está sentindo, Ariella? - Ouço Oliver perguntar assim que começa a dirigir.
- Tontura. - respondo, passando a mão no rosto.
- Vou leva-la para o hospital que meu amigo trabalha. Tente descansar. - Assinto, sem prestar muito atenção na sua voz. Penso em algo que me distraia, e a melhor coisa é usar a vida para isso. O desespero de ficar fora das cenas me desperta. Suspiro no momento que meu celular começa a tocar, e vejo o nome do Benjamin no visor. Só em lembrar que terei que parar as gravações, inclusive deixar todos na mãos me deixa muito triste. Fico feliz em ter adiantado bastante cenas. Só que é meu trabalho e preciso que todos compreendam. Encaro a chamada sem atender.
Percebo Oliver me ohar por diversas vezes quando nossos olhos se encontram. Que ironia... Depois de tanto tempo, depois de te-lo feito sofrer. Ele estendeu a sua mão para me ajudar quando precisei. E agora está me levando para o hospital. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer.
- Obrigada. - Sussurro, depositando minha mão em sua perna direita sentindo uma sensação boa com o toque. Tiro de imediato.
- Não fiz isso por você. - Ele afirma, seriamente.
- Por que fez? - Pergunto com as sobrancelhas arqueadas.
- Porque não queria sentir a culpa de não tê-la ajudado sabendo que poderia.
- Está me ajudando para absorver a culpa que sentiria?- indago, sorrindo.
- Exatamente. - Oliver responde, sem importância.
- Não acredito. - sorrio.
- Não espero que acredite. - ele afirma, dirigindo em uma velocidade adequada. Assinto.
- É a segunda vez que me ajuda.- eu disse, tentando refrescar a sua memória.
- Qual o problema nisso? - Oliver da e ombros.
- Você não está absorvendo a culpa. Está me ajudando por se preocupar... Se o motivo fosse realmente a culpa me deixaria na mão do porteiro ou da médica, porque assim eu estaria na responsabilidade deles e não da sua e eu teria uma ajuda de qualquer forma. - eu disse, tirando o cinto de segurança ao ver que já estamos no hospital.
- O que está querendo dizer? Que te ajudei por ainda ter sentimentos? - disse Oliver com um tom sarcástico.
- Pensei que nunca mais olharia para mim. - murmurei.
-Não sou feito de pedra. Vi que estava precisando de ajuda, e ajudei. Não leve isso para o lado pessoal. - Oliver fala encerrado o assunto e sai do carro vindo na minha direção. Observo seus movimentos, enquanto abre a porta me carregando em seus braços para me levar ao hospital.
- Fica atento James. - ele ordena assim que seus seguranças se aproximam. Realmente, Oliver nunca fica sozinho e eles trabalham tão bem que não é possível nota-los
- Certo, Chefe.

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Saio da sala do médico sentada em uma cadeira de rodas com uma das pernas toda engessada. Me sinto exausta. Olho as horas e fico abismada com o horário, não imaginei que seria tão tarde. Já são meia noite. Solto um suspiro. Meus olhos ainda estão inchados. Já chorei tudo que tive que chorar. Cansei.
O médico olha para mim percebendo que meu estado emocional está aflorado. Ele toca no meu ombro.
- É para o seu bem, Ariella. Foi preciso engessar para poder fixar a patela no lugar. Se não colocasse sairia de novo.
- Colocou para imobilizar e fixar a patela? - Escuto Oliver perguntar de novo.
- Exatamente. Recomendo um descanso total. Ela vai precisar de ajuda para fazer algumas atividades. Sugiro muletas para facilitar na locomoção quando que for caminhar.- Cada palavra que o médico diz é uma tortura para mim. Quem vai me ajudar se não tenho ninguém aqui na França? Poderia ficar com o Benjamin, mas ainda não somos tão íntimos para isso, não quero incomodar ninguém nem mesmo a Verônica. A única opção que me resta é voltar para os Estados Unidos, mas desse jeito? Com uma perna engessada sem ninguém para me ajudar? Também não dá. Como vou andar com as malas? Solto um suspiro. Não gosto de depender das pessoas.
- Obrigada. - Agradeço para o médico que é amigo do Oliver. Ele assente, sorrindo.
- Você vai ficar boa rapidinho. - o médico complementa.
- Eu espero. - Murmuro.
- Qualquer coisa pode me ligar, Oliver. Estou a sua disposição.
- Obrigado - Eles dão um aperto de mão, e olho para a minha perna. Ninguém merece. Era só o que me faltava. Ficar com a perna engessada.
Oliver empurra a cadeira de rodas devagar, me guiando  para o estacionamento do hospital. Olho para cima e o encaro.
- Espera... - eu disse.
- Diga. - ele não para de andar, e me leva até o seu carro.
- E agora? O que devo fazer? - Pergunto, com receio.
- Você não tem ninguém aqui? - Ele perguntou, franzino o cenho.
- Não. - Respondo olhando para frente. Oliver assente, e permanece em silêncio talvez pensando no que fazer porque nem eu mesma sei. O Nicolas poderia me ajudar, mas meu amigo continua no Brasil trabalhando. E não quero que pare sua vida por minha causa... Ele já fez muito isso.
- Não precisa fazer isso se não quiser. Eu sei que você me odeia. - eu disse, ao vê-lo abrir a porta do seu carro para mim.
- Não diga besteira.- Oliver resmunga.
Meu celular começa a tocar novamente, e tiro o aparelho da bolsa vendo Benjamin no visor.
- Ele deve perguntar se já estou bem para gravar amanhã. - Sussurro para mim mesma. O que devo dizer? Não sei como pronunciar a conversa. Vai ser um impacto muito grande. Sou a protagonista.
- Ele é do trabalho? - Oliver perguntou curioso. Percebo como está interessado em saber mais sobre minha vida pessoal. Concordo com a cabeça e o encaro.
- Sim, pensou que fosse quem? - Pergunto.
- Sei lá... Algum... Amigo. - ele dá de ombros.
- O que faço? - pergunto, me sentindo perdida.
- Atenda a ligação e veja o que ele vai dizer.
- Não sei o que falar.
- Uma hora você terá que falar. Diga logo de uma vez. - Oliver encosta em seu carro, e cruza os braços.
- Não quero conversar com ele na sua frente. - eu disse, envergonhada.
- Deixa de besteira, Ariella. - disse Oliver, me colocando dentro do carro. Ajeito o corpo no assento, e seguro o cinto de segurança no mesmo tempo que ele e nos olhamos sem jeito por causa da aproximação que nossos corpos se encontram. Desvio o olhar, e volto a puxar o cinto assim que suas mãos se afastam. Finalmente, estou indo para hotel. Espero Oliver caminhar para o lado do motorista, e aproveito para encerrar a chamada. Guardo o celular no bolso decidida a falar com o Benjamin depois.

  Ariella (A proposta) - 2° LIVRO Onde histórias criam vida. Descubra agora