*CAPÍTULO 19*

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Ariella Young

Sento no sofá da minha casa com ajuda da Caroline e da Isabel. Olho para o Nicolas que me observa preocupado. Kayle sai da cozinha ainda resmungando sobre o médico que a dispensou tornando a situação engraçada. Encosto a cabeça no travesseiro para descansar e permaneço em silêncio.
- Esse doutor vai ver o dele. Não sabe o que perdeu. - Kayle reclama sentando no sofá ao meu lado.
- Esqueça esse homem. - Isabel aconselha me fazendo rir.
- Já contou para Ariella sobre a ligação Nicolas? - Fabiana pergunta com o sorriso misterioso nos lábios. Franzo a testa sem entender do que ela está falando.
- Que ligação? - Pergunto, curiosa.
- Nada... - Nicolas responde, rapidamente aparentando está nervoso.
- Opa! Me perdoe. - Fabiana sussurra para o Nicolas que permanece sério.
- É... Quem está com fome? Vamos para a cozinha comer alguma coisa? - Caroline pergunta para todas as meninas que balançam a cabeça positivamente dando a entender que merecemos ficar sozinhos. Espero todas entrarem, até sumir da minha vista.
- O que esta escondendo de mim?- Pergunto cruzados os braços.
- Não estou escondendo. Eu ia contar, mas a Faby não me deixou ser o primeiro. - Nicolas avisa se aproximando.
- Contar o quê? - indago, examinando a sua fisionomia.
- Ligaram para o seu celular quando você estava desacordada. Uma proposta para trabalhar na França, não me falaram os detalhes. - Nicolas conta parecendo não gostar muito da ideia.
- Por que você não me falou isso antes? - altero a voz.
- Ary... Você acabou de se acidentar. Como eu falaria? Fiquei o tempo todo preocupado. - ele explica ficando ao meu lado.
- Eu sei, mas quando iria me contar? Sabe que meu trabalho é importante para mim... Se tivesse me falado antes eu já teria retornado a ligação, Nick.- confesso.
- A sua saúde é mais importante que qualquer coisa. - Nicolas rebate.
- Não quero que tome decisões por mim. Deveria ter me contado. - eu disse, com a as sobrancelhas arqueadas.
- Não tomo decisões por você, nunca tomei. Apenas fiz o que achei melhor.- Ele retruca com uma expressão séria.
-  Você não quer que eu vá. - afirmo, passando a mão nos cabelos.
- Não é bem isso, Ary! Você sabe muito bem que sempre a incentivei. Tanto que só anotei o número e deixei em cima da instante. E outra coisa, se aceitar... Vai ter que viajar depois de amanhã, e você ainda não estará recuperada. - Nicolas se levanta.
Fico chocada.
- Eles falaram isso? Depois de amanhã? Viajar para França? - Pergunto, perplexa.
- Exato.- ele afirma.
- Não lembra que no primeiro acidente eu me recuperei rápido? E ainda fiquei trabalhando na empresa do Oliver mesmo com o gesso no joelho. Não tive nenhum problema.- dou de ombros.
- Não tem como comparar os dois trabalhos, Ary. Um você ficava mais sentada e outro você vai se movimentar mais, além disso, se acidentou machucando mais o joelho. A escolha é sua, não tomo decisões por você. - ele finaliza fazendo menção de ir para o quarto. Toco na sua mão.
- Espera ai... Se eu for, você...- minha voz falha.
- Não irei contigo... Não dessa vez.- disse Nicolas, rapidamente. Levanto-me em um pulo.
Quase perco o equilíbrio.
- Por que? - Me aproximo devagar.
- É a sua decisão, é o seu trabalho, e é o que você quer fazer agora, mas eu não posso ir para a França. Estou trabalhando na construção de uma obra no momento, e você sabe disso.- Nicolas explica me dando as costas. Fico de boquiaberta. Fico parada observando ele subir a escada sem olhar para mim cabisbaixo. Percebo o papel em cima da mesa com dois números anotados. Ignoro. Caminho devagar até a cozinha vendo as meninas comerem torta de chocolate com refrigerante. Finjo uma tosse atraindo atenção de todas.
- Vocês sabiam dessa proposta e não me falaram nada? - Pergunto de braços cruzados. Elas se olham sem evitando contato visual comigo. Reviro os olhos.
- Eu queria te contar, mas o chato do Nicolas não deixou. - Kayle responde, lambendo a colher.
- Não piore as coisas, Kayle. - Isabel briga bebendo um pouco do seu refrigerante. Bufo.
- Pare de ser chata, Isabel. Que ruiva chata. - Kayle resmunga.
- O Nicolas só quer o seu melhor, Ariella. Ele sabia que se te contasse você iria aceitar mesmo estando machucada.- Caroline se pronuncia.
- Como não aceitaria uma proposta dessa? Eu sou atriz, fazer trabalhos internacionais é importante para minha carreira, já fiz no Brasil... Agora na França? Eu quero muito.- confesso, entristecida.
- A gente sabe disso, mas você não pode passar por cima do que o médico lhe receitou. É sua saúde em jogo.- Caroline avisa, preocupada.
- A mesma coisa que o primeiro médico me disse. E fiquei melhor, mesmo trabalhando. - Dou de ombros.
- Tudo bem, é a sua escolha. Não iremos interferir. Só queremos o seu melhor como o Nicolas também quer.- Caroline aconselha, finalizando o assunto. Assinto.
- Não sei o que faço, eu quero ir. Só que eu vou sentir saudades de todas vocês... Principalmente dele. - suspiro.
- Todas nós iremos sentir a sua falta. - Fabiana fala, emocionada.
- Esse grupo jamais vai se separar, mesmo com a distância. - Isabel complementa com um sorriso compreensivo.
- Irão me visitar? - Pergunto.
- A gente vai, mas já Caroline não pode afirmar. - Kayle cochicha dando risada.
- O que você quer dizer com isso, Kayle? - Caroline pergunta, franzino o cenho.
- Seu marido minha filha, até parece que ele vai deixar você viajar com a gente para outro país. - Kayle responde me fazendo rir.
- Seu marido também está convidado Carol. - eu disse, dando-lhe um abraço.
- Obrigada! - Caroline, sorrir.
- A gente vai dormir aqui? Porque se não, temos que ir embora por causa do horário.- Kayle exclama enquanto olha o relógio de pulso.
- Podem dormir aqui, quero aproveitar o tempo que tenho com vocês. Há quartos de hóspedes a vontade. - relembro, sorridente.
- Você vai para a França mesmo? - Fabiana pergunta.
- Não sei, vou ligar para eles amanhã. Se realmente eu for, vou querer passar na casa da minha mãe primeiro. Tem um tempo que não a vejo, porém acho que não vai da tempo. Pela forma que Nicolas avisou parece que preciso chegar na França o mais cedo possível. - murmuro
- Isso é verdade.- Diz Isabel, pensativa.
- Verei o que vou fazer. - murmuro.
- Vamos assistir um filme? - Caroline pergunta, com entusiasmo.
- Quero ver o chamado 3.- Diz Faby, saltitante.
- Terror não. - Isabel reclama.
- Só porque você não vai querer terror, que agora eu quero. - Kayle abusa dando risada. Reviro os olhos, e saio da cozinha sorrindo.
- Enquanto vocês decidem, eu vou chamar o Nicolas. - Digo subindo a escada devagar.
- Cuidado, Ariella. Você não pode fazer muita força na perna.- Isabel avisa preocupada. Assinto, subindo os degraus demoradamente.

~*~

Paro em frente a porta do seu quarto, e seguro a maçaneta com força. Solto um suspiro. Seu perfume exala pelo  corredor, me fazendo sentir a sua falta mesmo ainda estando aqui. Sentirei falta desse cheiro. Dá sua presença. Do seu abraço. De tudo.
Arqueio a sombrancelha na medida que abro a porta.
- Nicolas? - o chamo, olhando para todos os lados. O encontro em pé na frente do espelho passando os dedos em seu cabelo. Seus olhos encontram os meus.
- Não quero conversar sobre sua ida para França. - Ele avisa desviando o olhar. Vejo que está sério. Entro no quarto.
- Vai sair? Está todo arrumado.- eu disse, observando sua roupa. Ele veste uma camisa formal branca com mangas dobradas até o cotovelo, e uma calça preta social. Lindo como sempre.
- Sim, tenho um jantar para ir.- Nicolas responde, sem olhar em meus olhos. Franzo a testa.
- Um jantar? - Sento em sua cama sentindo uma pintada de ciúmes.
- Sim. - É a única coisa que ele diz.  Espero os detalhes, porém nada sai da sua boca. Fico irritada.
- É... Vim te chamar para assistir um filme, as meninas estão escolhe....
- Hoje não vai dar, deixa para a próxima. - Nicolas avisa, me interrompendo. Uau! Pelo visto, tem uma pessoa irritada comigo. Fala sério! Encaro-o, perplexa.
- Não terá a próxima, Nicolas. Sabe que estarei indo embora para França.- murmurei vendo sua expressão mudar. Ele está chateado.
- Então, eu sinto muito. Não posso desmarcar o jantar.- ele avisou, colocando seu relógio no pulso. Levanto da cama, e cruzo os braços indignada. Esse seu jeito está me irritando.
- Esse jantar é mais importante do que a nossa amizade? Ou... - Pergunto.
- Não quero discutir sobre isso. - Ele diz me interrompendo de novo.
- Não vai me dizer pelo menos o nome da mulher que você vai sair hoje? - Pergunto o virando para mim. Seus olhos examinam os meus.
- Você não a conhece, mas se quer saber o nome dela... É Lindsay. - Nicolas responde no momento que o seu celular toca. Engulo em seco. Não gosto da forma como estou sendo tratada. Sei que está triste com a minha decisão, mas agir assim não vai mudar em nada. Ele atende a ligação, apressadamente, e sai do quarto para ir embora com o aparelho no ouvido, porém volta no mesmo instante soltando um suspiro profundo. Tira o aparelho do ouvido e enfia no bolso da calça.
- Veja bem... Eu não quero que pense que estou a ignorando. Apenas estou chateado pela situação, mas te conheço muito bem a ponto de ter a certeza no que esta passando em sua cabeça neste exato momento. - ele sussurra.
- É por causa dela que não quer ir comigo? - Pergunto com os olhos marejados.
- Não, Ary! Nenhuma mulher é mais importante do que você. Não posso ir por causa do meu trabalho, infelizmente essas coisas acontecem. Nem sempre estaremos juntos.- ele fala olhando em meus olhos.
- O que quer dizer? Você sempre disse que estará comigo.- começo a chorar parecendo uma boba.
- E sempre estarei, não retiro o que eu disse. Só estou falando que terá situações que não estaremos juntos, mas não significa que não estarei ao seu lado. Não posso ir, não dessa vez.
- Não me vejo fazendo as coisas da minha vida sem você comigo. Será a primeira vez que estarei viajando sozinha para um lugar que não conheço. Só fui uma vez há muito tempo atrás na companhia do... Do... Meu chefe. - eu disse, cabisbaixa.
- Não veja isso como um problema. Está na hora de você se desafiar. Tenho certeza que vai se sair muito bem. - Nicolas aconselha com um sorriso amigável.
- Não vou te atrasar mais... Pode ir. Divirta-se com a Lindsay. - eu disse, entristecida. Nicolas assente, e beija o topo da minha cabeça envolvendo seus braços em volta do meu corpo. Encosto a cabeça em seu peito.
- Eu te amo. Não esqueça disso.- ele fala no meu ouvido e vai embora me deixando no quarto. Deito-me na  cama respirando fundo assim que ele fecha a porta. Encaro o teto.
- Será que estou o perdendo? - Pergunto em tom baixo sentindo um medo me percorrer.

  Ariella (A proposta) - 2° LIVRO Onde histórias criam vida. Descubra agora