Capítulo 11

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- Não tenhas medo, Amora - disse Micaya dando-lhe uma lambidela no focinho - Ela precisa da nossa ajuda.

Amora aproximou-se da intrusa, até que viu a ferida que ela tinha no pescoço.

- O que aconteceu? - perguntou a loba com pêlos avermelhados.

- Depois explico-te - disse a loba mais velha - Vai buscar as ervas.

A jovem saiu e passado um bocado, voltou com a boca cheia de ervas. Pousou-as perto das patas da intrusa e olhou para ela.

- Como te chamas?

- Sora... E já sei que o teu é Amora - disse ela deitando-se perto das ervas.

- Sim... Nunca te vi por estes lados - falou Amora pensativa - Não és daqui, pois não?

- Vais ter muito tempo para falares com ela - interrompeu Micaya, começando a colocar as ervas na ferida do pescoço de Sora, que soltou um gemido devido ao ardor que aquilo tinha causado. A jovem acenou positivamente com a cabeça e retirou-se, mal sabia ela que aquela grave ferida no pescoço de Sora tinha sido feita por Kioushiro.

- Não leves a mal - começou Micaya - Masque tipo de animal és tu? Os teus pêlos são parecidos aos de uma raposa, porém és maior que elas...

- Sou meia loba e meia raposa... - disse Sora baixando levemente as orelhas. Agora sim, tinha arranjado sarilhos e provavelmente já não receberia ajuda de ninguém.

- Isso é possível? - perguntou a loba surpresa.

A meia raposa ficou em silêncio, deixando claro que não queria falar mais sobre esse assunto. A loba entendeu e continuou a colocar as ervas sem dizer mais uma palavra sobre isso.

- Já acabei - falou Micaya - Eu sei que o Kioushiro aplicou uma punição, mas se quiseres ficar aqui eu...

- É melhor não - disse Sora levantando-se - Já arriscaste muito ao ajudares-me...Obrigada.

A meia raposa saiu da caverna da sua ajudante e caminhou pela alcateia, os lobos à sua volta olhavam-na de maneira estranha. Aquilo incomodava um pouco, ela não tinha escolhido ir parar ali, tinha sido arrastada por dois idiotas contra a vontade dela. Por isso se queriam culpar alguém, que culpassem aqueles dois.

O céu estava a começar a escurecer, e agora ela sabia que tinha que dormir na rua como punição. Podia ser uma intrusa naquela alcateia, mas não tinha feito mal a ninguém para não ter direito a uma caverna confortável. O que passou quando era mais nova já lhe tinha servido de lição, tinha sido abandonada pelo pai. Desde pequena, aprendeu a sobreviver, a ajuda da sua mãe foi preciosa mas nada irá apagar o ódio que ela sentia pelo pai por a ter abandonado. A única coisa que Sora tinha dele eram os olhos azuis céu e os pêlos brancos no lugar onde eram para ser pretos como os de uma raposa.

Sora deitou-se em cima de uma pedra que dava para ver a maioria dos lobos da alcateia, agora que estava a escurecer cada um ia para a sua toca. Aos poucos o centro da alcateia foi ficando deserto e, apenas Sora estava cá fora.

- Não consegues dormir? - perguntou uma voz, assustando a meia raposa, que se virou num piscar de olhos.

- Amora! O que estás a fazer acordada a esta hora da noite? - perguntou Sora mais calma, depois de ver de quem se tratava. Afinal com os lobos daquela alcateia todo o cuidado era pouco.

- Vim ver o que estavas a fazer - respondeu a loba avermelhada aproximando-se - Porque não vais para a tua caverna?

Aquela pergunta apanhou a meia raposa de surpresa, não queria dizer acerca da punição, afinal aquele lobo branco com patas pretas era o líder da jovem.

- Eu... Vou mais tarde - disse Sora, desconfortável por estar a mentir.

- O que estás aqui a fazer, Amora?! - um rosnado grosso interrompeu a conversa das duas. Elas viraram-se e depararam-se com um lobo nada bem humorado.

- Estava só a... - a jovem loba tentou explicar mas foi interrompida pelo rosnar no seu líder, o que a assustou um pouco.

- Não sabes que não se pode falar com os intrusos?! - rosnou o lobo branco com patas pretas - Volta para a tua caverna!

- Sim, Kioushiro... - disse Amora baixando a cabeça e a cauda ao passar por ele, estava assustada com aquelas atitudes e não percebia o porquê delas. Kioushiro nunca a tinha tratado assim, a ponto de lhe meter medo, então porque o estava a fazer agora?

Depois que a loba com pêlos avermelhados se foi embora, Kioushiro voltou a olhar para a intrusa que continuava à sua frente.

- Fica longe dela - ordenou entre rosnados, elevando a cauda.

- Estás com medo de quê? Que eu a morda? - provocou a meia raposa mostrando os dentes - Não pretendo magoá-la, não a ela.

Kioushiro entendeu aquilo como uma indireta e rosnou mais ainda, não iria ser uma simples fêmea que o ia intimidar com aqueles jogos da treta.

- Queres que eu confie em ti? - perguntou o lobo branco no mesmo tom de provocação - Que eu saiba as raposas são conhecidas por serem manhosas.

Ao ouvir aquilo, Sora rosnou baixando as orelhas para os lados, aquele lobo já estava a ir longe demais e, com aquela provocação, conseguiu ganhar ainda mais o ódio da meia raposa.

- Não me conheces, como podes saber se sou, ou não, manhosa? - falou a meia raposa sem obter qualquer resposta por parte do lobo branco com patas pretas - Não sabes nada sobre a minha vida.

- Nem pretendo saber - ao dizer isto, Kioushiro virou-lhe as costas e voltou para a sua caverna, enquanto que, Sora continuou em cima da pedra onde iria passar aquela e muitas mais noites.

Espírito Branco 2 - Ventos UivantesOnde histórias criam vida. Descubra agora