10. Wydde

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Depois que Phil voltou para o hotel onde disse que estava hospedado, eu e Mapa fomos para o meu quarto tentar dormir, mas o fato é que nenhum de nós conseguiu dormir.

Phil disse que ia continuar investigando e tentando rastrear mais lobisomens na área da cidade, já que eles quase nunca ficam sozinhos, preferem andar em matilha, seguindo um Alfa.

Mapa estava tão inquieta na cama que isso me deixava mais inquieto do que eu já estava.

- Não consegue dormir? - Perguntei, ainda deitado no colchão. Ela se levantou e ficou sentada na cama, olhando para mim.

- Não, eu não consigo parar de pensar em tudo que aconteceu hoje, todas as novas informações, caramba, você é um híbrido. - Ela dizia. - Falando assim fica mais inacreditável.

Me levantei e me sentei na cama ao seu lado.

- Por que é inacreditável? - Perguntei, observando cada detalhe do seu rosto.

A luz da lua entrava pela janela de vidro e iluminava o quarto, mesmo que parcialmente. Ela parecia intrigada e preocupada.

- Metamorfos híbridos são muito raros, eles... geralmente são mortos antes de chegarem à fase adulta - ela disse - às vezes são mortos antes mesmo de ganharem poderes.

Observei ela, envolvi seus ombros com meus braços.

- E você acha que vão vir atrás de mim para me matar, não é? - Perguntei. Ela apenas assentiu discretamente. Eu respondi: - Não vão me matar... nem vão matar você, eu não vou deixar... - me afastei um pouco e olhei para a janela, vi meu reflexo no vidro, vi os meus olhos, eram extremamente iguais aos da Jasmine mas fotos, não sei como eu não havia percebido antes. Limpei a garganta antes de voltar a falar. - Eu vou voltar a treinar, Mapa. Vou me tornar mais forte e aprender a controlar os meus poderes... assim, quando me acharem... se me acharem... estarei pronto pra eles.

Mapa sorriu para mim, me deu um beijo na bochecha e me deu um abraço muito forte.

- Você é meu melhor amigo, cara, eu não sei o que eu faria se te perdesse - ela disse. Eu olhava para a lua quando respirei fundo e respondi.

- Eu também não sei o que faria se te perdesse...

* * *


Já havia amanhecido, eu e a Mapa não havíamos conseguido dormir nem um pouco, sabíamos que iríamos ter problemas na escola por causa disso. Eu me levantei do colchão, tomei banho, escovei os dentes e me vesti para ir tomar café-da-manhã, seguido pela Mapa e pelo Jansen.

Harold fazia panquecas para a primeira refeição do dia, que era a mais importante, como ele sempre dizia, eu me sentei à mesa com a Mapa ao meu lado e começamos a comer, meu pai percebeu nossas olheiras e sugeriu que ficássemos em casa por hoje, consideramos bastante a hipótese de ficar em casa, mas achamos melhor ir para a aula.

Depois de deixar Jansen na aula, fomos direto para a escola na caminhonete da Mapa. Após estacionarmos, pescebi que o estacionamento estava vago demais, o que achei muito estranho, pois só havia um carro ali, saímos do carro e fomos para dentro do prédio da escola, ao chegarmos lá, vimos que o prédio estava completamente vazio.

- Mas... cadê todo mundo? - Perguntei.

- Eu não sei, mas alguma coisa deve ter acon... - Mapa falou, quando foi interrompida por uma mensagem que chegou no celular. - Deixe-me ver o que é.

Ela se entreteu com o celular por alguns instantes, quando olhei para o lado, a vice-diretora da escola caminhava em nossa direção.

- Senhora Clarke - disse - bom dia.

- Bom dia, senhor Hunt. Bom dia, senhorita Parker - disse a vice-diretora Clarke, Mapa apenas levantou a mão fazendo sinal de positivo. Elas se odiavam. - O que fazem aqui hoje? Mandei mensagem para todos os alunos e pais dizendo que não haveria aula hoje pois estamos de luto.

Fiquei atônito.

- Uau! - Mapa exclamou, olhando para alguma coisa no celular.

- Como assim "de luto"? - Perguntei.

- Olha isso, Jason! - Mapa tentava me mostrar alguma foto no celular.

- O diretor foi encontrado morto... ataque de animal. - Respondeu a vice-diretora.

Eu estava em estado de choque, agradeci a informação, prestei minhas condolências e saí do prédio da escola seguido pela Mapa, ela insistia em tentar me mostrar uma foto, quando finalmente cedi, entendi o porquê. Era uma foto de um corpo quase irreconhecível, mas eu conhecia bem aquele rosto, mesmo desfigurado. Era o diretor da nossa escola. A barriga estava aberta e as entranhas do diretor estavam totalmente para fora, ele estava sem uma das pernas e com metade de um dos braços, seu tronco parecia partido ao meio, havia muito sangue e muitos órgãos expostos, o rosto mal foi desfigurado e os velhos óculos quadrados que ele usava estavam quebrados.

- Puta merda... - Eu sibilei quando vi aquela foto, peguei o celular da Mapa para ver melhor. - É o diretor! Caralho!

- Sim, ele foi encontrado morto na própria casa ontem por volta das 21h30 - Mapa disse.

- Mas nós matamos aquele maldito lobisomem antes das 20h! - Exclamei, então me lembrei do que foi-me dito. - Lobisomens nunca andam sozinhos... É uma matilha, Mapa, bem aqui, na cidade!

- Eu sei! Mas quantos são?

- Não faço a menor ideia! Podem ser algumas unidades, ou dezenas...

- Talvez centenas.

Me encostei à caminhonete e fiquei pensativo, havia uma matilha de lobisomens nos arredores da cidade e eu não sabia o que fazer.

Nessa hora, um carro parou perto de nós no estacionamento da escola, de dentro do carro, saíram Carol Wydde e seu irmão mais velho, Gawain. Eles vieram na nossa direção, pareciam preocupados.

- Jason! - Carol falou antes de chegar perto de mim.

- Oi, Carol - falei, sempre que eu via seus cabelos dourados balançando e seus olhos escuros brilhando eu sentia minhas pernas bambearem. - Aconteceu alguma coisa?

- Sim - Gawain falou - soubemos que vocês foram atacados por um lobisomem ontem à noite e sobreviveram. Mas queremos saber... como conseguiram?

Parecia o retorno do Hulk Hogan. Levei um soco muito forte na boca do estômago, eu e Mapa nos entreolhamos, ela estava do mesmo jeito. Me virei para Gawain e Carol.

- Como assim? Como sabem disso? Quem são vocês? - Perguntei.

- Calma, Jason, está tudo bem - Carol disse, tentando me acalmar.

- Nós é que fazemos as perguntas por aqui - Gawain se impôs.

- Gaw, menos, bem menos - a irmã repreendeu ele. Ela se virou para mim e sorriu brevemente. - Nós somos como vocês, Jason, Mariana... também somos metamorfos.

Foi aí que me lembrei de onde conhecia o sobrenome Wydde. Eles faziam parte da Alcateia.

O Caçador - Crônicas dos Metamorfos (Vol. 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora